sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Como gostei dele


Vi-o e era ele, todo preto.
Olhei-o de soslaio
e reconheci-o logo.
Sei que também me olhou
e num instante
senti o seu olhar triste, frio e muito distante.
Apesar de não falar, sentir ou ver,
sei que me olhou, me viu e gostou de me ver ali.
Mas ficou inerte, parado e firme como antes.

Não disse nada, só me olhou e ficou quieto.
Eu fugi dele,
do meu refugio de anos,
a minha segunda casa,
onde sozinha chorei lágrimas incontidas,
segredei as minhas mágoas,
as mais pesadas e sofridas.

Agora já não é meu,
tem outro dono, é de outra gente.
E como eu tenho saudades dele,
do seu conforto eterno,
do seu aconchego,
da paciência com que me escutava,
me levava para todo o lado em segurança.

Mas como raio se pode gostar assim
de algo que não sente,
não tem alma, não é gente,
não é animal nem planta
é simplesmente uma coisa, um objecto inerte?

Mas na verdade eu gostei e ainda gosto dele.

É que essa coisa devia pertencer-me para sempre,
permanecer comigo como um amigo,
porque encerra  um pouco a minha história,
o meu sentir, o cheiro que liberto e mais gosto.

A gente por vezes ama coisas que não deve,
não têm alma, indevidamente,
mas que por uma  qualquer razão um dia
nos fizeram bem,
nos fizeram felizes
nos fizeram sentir mais vivos e mais gente.

Fotos do Google

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