quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ser gente....



Era uma miúda apagada,
de semblante triste e sombrio.
A saia às pregas que vestia ao domingo
caía-lhe mal, mas era assim que lhe assentava
fazendo dela uma menina diferente,
e que mesmo assim ela gostava.

Fora a mãe que a costurara
como todas as que tinha.
Só mais uma, a que usava à semana
tapada pelo bibe,
feito da velha camisa coçada,
a mais antiga e usada que o pai tinha,
mas que vestido por cima da saia
lhe dava um ar arranjado,
como se fosse uma menina fina,
tal como as primas da cidade
que apareciam sempre bem vestidas,
e ao olhar a fascinavam
como se fossem bonecas de porcelana,
da mais pura e delicada.

A camisola de malha,
feita pela mãe, com o fio gasto e poído
por ser reaproveitado,
aconchegava-a do frio, e ela sentia-se bem.

Na cabeça um laço de seda barato,
apertado,
feito moinho de cata-vento
arrepiando-lhe o cabelo até ao máximo,
não deixando nenhum fio de cabelo solto ao vento.

E disto, sim, ela não gostava,
porque a magoava, prendia,
porque naquele aperreio forte e dorido,
sentia que perdia a liberdade de ser gente.


Fotos do Google

Sem comentários: