segunda-feira, 28 de junho de 2010

Rugas

   Hoje mais que ontem, tenho rugas em todo o rosto...,em todo o corpo.
   Até mesmo onde os olhos as não enxergam, por serem loucas, talvez.
   Nas mãos a pele está seca e amarelada e até aos pés,mesmo por baixo, elas existem.
   O rosto pálido, olheirento está flácido, vincado, marcado  e seco.
   Todas as suas células procuram avidamente olhar o chão constantemente! 
                    Estou velha,
                    feia e velha.
                    Velha e enrugada!
  A pele começa a sobrar aqui, ali, em todo o corpo...,em todo o lado,
  mesmo por dentro, mesmo na alma...!
 Assim não gosto de viver, de  sentir a minha imagem...!
 Não gosto de me ver mole, de me sentir frágil, fraca e cansada!
 De  não ter  força,  nem vontade, nem praticamente nada...!
 Realmente não gosto nada de me sentir velha, cansada e meio acabada.            
 E o espelho  malvado, cruel e duro, não deixa de  registar todos os passos por mim dados,   
 persegue-me a cada instante, mesmo que seja numa porta espenhada, num chão encerado, num qualquer carro estacionado, mostra-me naturalmente prazenteiro, mas com crueldade, o reflexo do que vivi e ainda vivo, o  que sou  hoje, como se fosse coisa linda de se ver...
 registado nos olhos,  no contorno da  boca,  no olhar, nas mãos, na pele que me cobre o corpo, no sentir do olhar, no meu pensar, no meu dormir, no meu querer, que com a idade tudo enruga, tudo perde a forma, o geito a graça,  que  devagar  tudo se encaminha para o  nada... !
                                                                                            
Mas que justifica este meu pensar?        
Será que algo muito importante estará ainda para acontecer, que justifique tudo isto?

sábado, 19 de junho de 2010

No meu regaço

No meu regaço vazio, resta o calor do aconchego que te dei e deixaste de menino.
Arredondado e doce, permanece na memória esse colinho, mas de facto está ainda aqui, para te acolher assim o queiras, quente e fofo e mais que isso compreensivo e sempre atento!
....Que o regaço de uma mãe é de seus filhos e sempre deles, de forma que no seu colo sempre cabem e  deleitam se confortam e aliviam suas mágoas...

O mesmo toque, o mesmo enlevo, o mesmo encanto, a ternura de te olhar por cima, quando me afirmavas com o olhar que tinhas sono ou fome, ou simplesmente que estavas bem, ou então reclamavas algo, que com o olhar a mãe entende o filho, e eu a ti reconhecia o teu sentir, com tal carinho...!

Como te entendia sem palavras! Articulavas vocábulos que sendo teus eram só nossos, e eu sabia a cada instante a tua vontade, o teu desejo!

 Eras um menino lindo, esperto e atilado! O mais lindo de todos! O meu...,e decerto o meu era o mais lindo como hoje...
O meu menino de ouro, a quem eu cantava os fados que aprendera em estudante e tu sem sobressaltos,  ouvias atentamente  até adormecer sem reclamar....

Por vezes, simplesmente brincavas entretido, num vaivém constante, feliz sem te preocupares com o  tom de voz ou com o  som pouco afinado da cantilena e olhando para mim sorrias tranquilo e calmo...

“O meu menino é de oiro é de oiro fino não façam caso é pequenino…!”
  
  ou então:

“O meu menino é de oiro,
  de oiro é o meu menino.
  Hei-de levá-lo ao céu,
  enquanto for pequenino! “

 (versos de vários autores de fados de Coimbra)

Nesta altura, mais bébé que tu,  dormia no berço, a tua irmã, que crescia a par e passo com o mesmo sentimento de ternura e carinho....
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.... e sem me aperceber o  meu menino cresceu, de repente fez-se homem...
 Já toma banho sozinho, já come a sopa toda,( mas somente quando quer), já não brinca com carrinhos, nem aos cowboys, nem  brinca com  o Lego, já não pinta desenhos no papel, já mora noutra rua, noutro espaço....
Agora já não tem tempo para nada, nem idade para brincar, descobriu novos amores, novos anseios, com eles sonha, e aprendeu a viajar, com eles  vive e procura  ser feliz, sempre   sempre a trabalhar….

...também eu sinto a ausência do colo da minha mãe,…
esse se  é que ele existiu, fugiu-me da memória sem deixar rasto.
 Parece que se esfumou, como se tivesse sido aspirado, como se fosse  etéreo e  mágicamente  tivesse sido evaporado no espaço....
Não me lembro do colo dela, do seu regaço! Tenho saudades desse colo, do seu abraço, de  não ter sequer essa lembrança, porque hoje me seria doce aconchegar-me aí....
Hoje quando a vida me é dura e me  atormenta e me sinto perdida, hoje queria deitar-me no colo da minha mãe!...….

….mas tu, quando quiseres, vem sempre aqui, mesmo que só em pensamento, que o meu colo continua como outrora, vazio mas vivo á tua espera, quente e fofo, e prometo afagar-te os teus cabelos como em menino…,mesmo que seja só em pensamento, que se a nossa alma quer o corpo sente...
.... .. e se fechares os olhos, sentirás também os meus a admirar-te, e a apoiar-te, e os meus braços fracos, mas cheios de força a proteger-te, hoje, como ontem, amanhã, para todo o sempre, como fazia antes…,
….é que uma mãe, quando deseja muito um filho com amor, é muito mais Mãe, e o seu colo é incomensuravelmente maior que todos os colos de outras mães…, e perpetua-se no infinito….
…e eu desejei profundamente ter os meus  filhos ….
...foi tenho a  certeza, o que mais desejei e consegui realizar com todo amor, em toda a minha vida,...

…..no dia em o que desejei, DEUS concedeu-me essa dádiva, exatamente nesses dias, 18 de Março e 11 de Julho…de um ano, e  depois de um outro....
….Primeiro um menino….,
    Depois uma menina…..,
    E haverá coisa mais linda….?
    Ser Mãe e aconchegar para sempre, amorosamente os filhos no regaço, amá-los, e apoia-los, ensiná-los a voar e  depois esperar sempre o seu regresso....,que tudo muda, mas um filho é sempre de sua mãe ...
     Se pudesse eternizar a minha existência  neste enlevo, tudo seria mais fácil, a  minha vida seria um paraíso...e teria um outro encanto...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Paz, quero paz!

Imagino que não devo ser normal.

Ninguém pode estar permanentemente aflito, perturbado, ansioso, vivendo um desassossego oculto, mas inquieto e agitado, como se daí a segundos o mundo fosse desabar, algo terrível fosse acontecer, prevendo a cada instante uma enorme catástrofe, como se a terra de repente nos fosse engolir e naquele segundo exacto, algo absolutamente catastrófico fosse acontecer!
Pensa-se sempre o improvável!

Não consigo encontrar paz, e tudo o que queria era isso, PAZ, queria conseguir viver em paz comigo, encontrar tranquilidade interior para viver em paz com o mundo. Acordar de manhã e sentir-me inundada em PAZ.
Não deve existir melhor condutor da vida, que a capacidade de sentir paz interna. Só essa sensação nos deve dar força para continuar a viver e suportar as dificuldades da vida.

Sem paz, não tenho essa força…
Sem paz, não consigo sentir prazer, nem nas coisas grandiosas e formidáveis, nem nas pequenas e mínimas.
Todas se tornam fúteis e insignificantes, representando todas um emaranhado confuso de situações que suporto com dificuldade, porque fazem parte da vida que vivo. Perco da vida, a oportunidade de apreciar a beleza das coisas simples e puras ….
Queria sentir paz em meu redor, por dentro, por fora, na alma, no corpo, na mente, uma paz tranquila que me inundasse o espírito, me lavasse a alma toda, me envolvesse de luz e calma, e me deixasse viver sem fobias…
Enfrentar as banalidades do dia a dia, as pequenas coisas comuns que todos fazem, como passear num jardim, caminhar numa rua, ver montras, viajar de autocarro, comprar umas flores, um livro ou uns sapatos, consultar um médico, visitar um amigo, ir ao supermercado….,queria eu fazê-las como todos, como tarefas normais, sem sentir aquele frenesim constante que me acompanha, uma sombra permanente, um aperto na garganta e no peito que me sufoca, um mal estar que me assusta e não sei explicar ao certo como, mas me domina completamente, como um castigo permanente que carrego, tal qual fosse um castigo merecido…

Pequenas coisas simples, que me confundem, me assustam, me afastam do mundo, me complicam a vida , me transformam os dias num verdadeiro suplicio.
Não é fácil viver com medo. Não é fácil compreender porque se tem medo . Faz-nos sentir fracos, indefesos, incapazes, incompreendidos.
O coração dispara, parece que nos vai sair do peito, a boca seca, o corpo treme todo, faltam-nos as forças nas pernas, a visão fica turva, a respiração aumenta, parece que nos falta o ar, e de um momento para o outro parece que o nosso corpo vai rebentar ou então cair inanimado. É sempre difícil descrever o que acontece, porque são minutos que parecem horas de angustia e sofrimento. A vontade é sair “dali” o mais depressa possível e fugir, e o melhor refugio possível é sempre a nossa casa.

Viver assim diariamente, não é fácil. Diria mesmo que é muito difícil. Viver assim e ocultar das pessoas, dos amigos este lado negro é como viver em risco permanente.

Nunca saberei como tudo começou, lembro-me de ter medo de tudo em pequena e quando cresci, tudo se complicou…
Nunca serei como aquelas pessoas com quem me cruzo diariamente que me parecem sempre todas irritantemente tranquilas . Vejo-as calmas, e eu sinto-me sempre estranhamente agitada, ansiosa, perturbada, vivendo dias de permanente luta e conflitos internos, como se eu fosse a única pessoa ansiosa a viver no mundo de hoje…

Pergunto-me porquê, porque sou eu assim, e não encontro resposta alguma que me satisfaça.
Vivo dias de plena insatisfação, repletos de ansiedade, fobias, receios, e insegurança.
 Haverá algo pior que viver constantemente na incerteza e no escuro?

Que seria de nós se fosse sempre noite, se o sol nunca brilhasse, se a chuva nunca deixasse de cair, se os jardins não florissem, se o mar não acalmasse …?

…. toda a vida seria diferente, como a minha!…

terça-feira, 1 de junho de 2010

Grande amigo

Falei com ele e foi como se limpasse todo o lixo resultado do tufão!
O lixo ficou lá, mas o vento acalmou e  aparentemente limpou o desejável. Disse o que sentia naquela hora, ou quase tudo, que tudo seria muito para quem tão jovem não tinha, que  sacrificar com os meus delírios.

Também há coisas que não adianta mais dizer, pensar ou repetir.
Temos mais é que aprender a contornar a existência dos dias, dos bons e maus momentos, situações mal resolvidas na vida, e tentar sobreviver a  todas elas, o que é deveras difícil, tão ou mais, que sobreviver ao maior terramoto ou catástrofe de sempre.
Todos os dias continuo a tentar sobreviver …,mas não tem sido fácil!

Por muito que se queira nada se repete nunca, nem de igual forma.
Cada segundo no momento  imediato já é outro, e  os factos como os segundos, vão-se seguindo  continuamente, como gotas de água de uma fonte viva que nunca seca e nunca para...
Muitas vezes  mesmo em circunstâncias análogas, nada se repete...Nada nunca mais é igual a nada...
 Seria extraordinário repetir factos, revivê-los, refaze-los como se fossem cálculos matemáticos e conseguir encontrar o resultado certo para cada um deles. Repeti-los continuamente, até obter o resultado desejado e aí sim, dar esse acontecimento por terminado e só aí, o considerarmos inserido, no conjunto de fenómenos que diariamente vão construindo a nossa história de vida.

 Quantas contas matemáticas teríamos de fazer, para colocarmos tudo segundo a nossa vontade!
( Deixei por resolver muita expressão numérica , muita equação e até mesmo muita simples conta de somar… coisas banais  e outras bastante complicadas…,mas juntei-as todas apertadas, e de vez em quando, vou procurando agora, concluir como posso o que ficou suspenso á procura de solução...)
Todos nós teríamos com certeza histórias de vida fabulosas , ou quem sabe talvez não…

Ele ainda muito jovem, homem educado, ouvia-me atentamente, com o seu rosto miúdo parecia que me entendia em tudo, ele que não tinha nada que me dar atenção, dava-me calma ...e tempo!

Dançar faz-me bem, sinto-me viva e livre, esqueço o resto, faz-me pensar que ainda posso tudo, que se quizer posso sentir-me um passarinho, uma borboleta, e voar dançando  de um lado para o outro, ao som da musica balaceando todo o corpo com ligeireza relativa, e isso faz-me muito bem.

Sinto a falta de força. Sinto o peso das pernas. Sinto falta de agilidade. Sinto cansaço. Claro que não tenho a graciosidade e leveza dos vinte anos.  Nem dos trinta. Claro que não me balanceio como uma borboleta nem como um passaro, ou uma bailarima. Mais pareço um tronco de arvore que teimosamente se agarra á terra, balaceando fortemente pela força do vento, sem se deixar abalar pela suas rajadas.
 Dançar pesado e duro, dançar pela vida!
Mas não vou desistir. Vou continuar a dançar, mesmo que no dia a seguir me doa tudo, tenha que estar deitada e tomar seja o que for para aliviar a dor, mas não vou parar .
Já decidi, este fenómeno que acontece neste momento na minha vida vou resolve-lo como se fosse uma operação matemática, e vou deixá-lo perfeitamente resolvido. Tenho que repetir tantas vezes quantas as necessárias até obter o resultado pretendido. Não vou parar, até encontrar esse resultado final.

Um dia os meus netos dirão “a minha avó dançava muito bem “ ritmos latinos”, e sorrirão  talvez de alegria!

Obrigada professor P.P. pela paciência que tem em me ensinar, e pelas palavras de apoio constantes.

Somos maus

Todos, mas mesmo todos sem excepção, somos maus.

Mesmo aqueles que falam com carinho e nunca parecem zangados, que ajudam os pobres todos que podem, que vão á missa aos domingos, cumprimentam as pessoas com  mil sorrisos, dizem não ás guerras e ás drogas, pertencem a uma série de associações humanitárias, dizem sempre "bom dia" ao vizinho, os que  são incapazes de abandonar um animal na rua, dar uma bofetada na mulher, ou num filho, tratar mal  os colegas ou empregados no trabalho, ou seja porque motivo for são incapazes de  recorrer á vilolência, mesmo aqueles que nunca refilam na e da velhice, e  que acham as crianças o melhor do mundo, os que  não fazem assédio no trabalho ou onde quer que seja , e os que olham as crianças como o melhor do mundo. e as ajudam a crescer felizes..., todos ,mas todos sem excepção somos maus.

Todos somos maus, uma maldade que pode não se ver, mas se pressente nas palavras, nas atitudes e procedimentos, ou na indiferença com reagimos perante as situações mais banais.
Quantos descriminam os homossexuais só em silêncio, dizem que os pretos são lindos,  que não são racistas e até casavam os filhos com pretos, e dormem em  lençóis de seda mas ajudam os pobres dando- lhes "grandese faustosas" ceias de Natal, como só se tivesse fome no Natal, e os outros que dormem ao relento porque gostam e são felizes assim, e não fazem um esforço por melhorar a sua qualidade de vida e assim, da sociedade e do país, onde estão inseridos …
Todos somos maus , e não pouco!
Todos os seres  humanos são maus,mesmo muito maus!
Os Homens são maus e sentem  prazer disso só que não se apercebem dos pequenos prazeres que as maldades que fazem lhes proporcionam...Realmente o normal é as pessoas pensarem, que até são boazinhas...,e que até nem fazem nada de mal, apesar de nunca cumprimentarem os vizinhos ....

Também não vale a pena ser-se pouco mau. O homem ou é ou não é mau e por natureza é mau.
Não há pessoas más assim assim.

Queremos constantemente coisas novas e diferentes.
Somos naturalmente insatisfeitos e muito exigentes, orgulhosos, vaidosos,egoistas, lamechas, invejosos, rancorosos, só queremos o que os outros têm, pensamos que tudo o que nos acontece é por culpa dos outros, do tempo, da idade, mas nunca  directamente nossa, e atiramos para cima de alguém ou algo, mesmo que inconscientemente, as culpas das maleitas, das desgraças, das infelicidades do que nos vai acontecendo.
Concluimos sempre, que tudo o que nos acontece de bom é por sorte ou mérito próprio. Mas na verdade, temos que trabalhar e lutar para conseguir atingir essas coisas boas, lutar  muito e nunca desistir. Seria necessário usar essa  mesma força para evitar que a maldade se instalasse nas nossas mentes e dominasse a nossa vontade.
Mau, não é só gatuno ou assassino.
Matar, roubar, furtar, violar ou fazer algum crime desse calibre é terrível e merece castigo, dá direito a prisão. Isso não é ser  mau é muito pior, é ser maquiavélico, delinquente, criminoso... Os Homens conhecem as regras  mundiais  instituidas em cada país contra os crimes, e assim quem os pratica  é punido severamente. Muito bem!

Noutra esfera, ser mau também é, não amar, não cuidar, desprezar, ser indiferente, ser ausente, ser interesseiro, maldizente, provocador, insensível,….ser mau é não ser sincero, ser infiel, é não ter princípios,… é ser como se quer, sem olhar para o lado, olhando só o próprio umbigo. É ser tudo isto e finalmente pensar-se que se é perfeito.

As pessoas movimentam-se na sociedade, semeando sem dar conta, a sua pequena malvadez e, umas mais, outras menos, todas contribuindo para a construção de um mundo cada vez mais egoísta, com valores humanos alterados e gradualmente destruídos, que não são só as guerras de armas, a Máfia, a  ETA, o degelo provocado pela camada de ozono, que destroem o planeta. Nós Homens, porque somos ruins, estamos em surdina, arranjando formas maquiavélicas de destruir lentamente o mundo em que giramos cada vez mais sós, apesar da multidão que inunda o planeta.

Antes que o nosso corpo rance de velhice fisica, tratamos de aniquilar o psíquico, a começar por mim que  também  sou, como todas, uma pessoa má.

…e se eu tentasse melhorar…?
....mas não consigo....
 Sinto uma raiva enorme por tudo o que vejo mal feito, por tudo o que ouço indevido, por todas as mentiras ditas, ou verdades distorcidas,  más acções, atitudes imcompreendidas, e acomodo-me no meu canto sem fazer nada, sem dizer nada ... Fico muda, e sou terrivelmente má com o meu silêncio!
...Então melhorar como?