segunda-feira, 13 de agosto de 2012

...amores diferentes...


- Ao principio parece que foi difícil adaptar-se à tua ausência, parece que a casa e tudo o resto andava num baldio, mas depois tudo tomou um rumo. Também não posso estar a fazer perguntas à Joana constantemente pois podia desconfiar que sei onde estás e não é isso que queres pois não?

- Tens razão. Na altura expliquei aos meus filhos porque partia numa carta que deixei ao mais velho, dizendo-lhes que precisava encontrar-me, saber o que queria para o resto da minha vida, que precisava fazer algo diferente além de ser mãe deles e esposa do pai, ainda que fazer isso me deixasse muito feliz, mas que precisava saber se depois deles saírem de casa, conseguiria ficar só com o pai deles, da forma como vivia com ele até ali. Mas não sei se me entenderam, se me perdoaram.

- Os filhos percebem sempre os pais e acabam por lhes perdoar sempre alguma coisa que eles façam menos bem. Olha o que aconteceu comigo e com o meu pai, tanto tempo revoltado comigo e depois com a doença ficamos juntos e mais unidos que nunca.

- Sabes Marta queria contar-te uma coisa que não sei se tem perdão, pois afinal saí de casa mas não foi para trair o Jorge, só para lhe dar uma lição.

- E então?

- O dono da residencial que me alugou o quarto andou tanto de volta de mim, conversou tanto comigo falou-me tanto da sua vida, que um dia me convenceu que o que eu precisava e me faltava era saber o que era sentir prazer de verdade.

- Estou admirada contigo, tu foste nessas cantigas. Mas quem é esse homem?

- Primeiro só me cumprimentava. Depois passou a servir-me as refeições quando eu jantava lá e um dia, não vai lá muito tempo, dei comigo como se não fosse eu a contar-lhe a minha vida.

- Tu a contares a tua vida a um homem desconhecido, não acredito, mas que te deu?

- É viúvo e tem uma filha de treze anos, mais novo do que eu, sete anos, mas tão envolvente que me deixei ir, até que um dia lhe disse que gostava de fazer sexo com o meu marido, mas nunca sentia nada, e que não sabia como era pois nunca o tinha feito com mais ninguém, mas que da forma que o fazia não gostava de o fazer porque não sentia prazer algum, me torturava e deixava incompleta e triste.

- Nessa noite não consegui dormir pois a sua conversa deixou-me agitada, nervosa pois imagina que me disse que se eu estivesse disponível o fazia comigo, que me mostrava como se faz amor com uma mulher.

- Ele disse-te isso tudo e tu ouviste, e não reagiste?

- Então não reagi Marta. Sabes lá, fiquei toda a tremer, assustada, sem saber o que fazer, envergonhada, mas agora que aconteceu tinha que te contar, daí precisar tanto de te falar.

- Aconteceu, então tu e ele já estiveram juntos, assim unidos numa relação física verdadeira. Nem acredito.

- Acredita que é verdade. Um dia falámos tanto depois de jantar, chorei tanto com saudades dos meus filhos, por estar aqui escondida fugida talvez sem motivo, que ele também me contou de como perdeu a mulher três anos atrás e como tem sido difícil viver sem ela.

- E então, mulher fala tudo de uma vez, despacha-te, o que foi que aconteceu?

- Devemos os dois ter bebido um bocadinho de vinho além da conta, e eu que quase nunca bebo nada além de água, lembro-me que ele me pegou na mão para me levar até ao quarto pois já era tarde, me ajudou a deitar em cima da cama e recordo bem que fui eu que lhe agarrei pelo pescoço e o comecei a beijar sem parar.

- Tu fizeste isso, mas explica-te melhor e depois, depois?

- Depois, nunca mais paramos. A seguir aos beijos e abraços, sei que o meu corpo quase virgem foi todo descoberto e tocado por mãos de veludo, lambido, beijado e adorado como se eu fosse dele e ele meu para todo o sempre. Estávamos os dois saudosos, frágeis e eu muito carente. Nessa noite descobri o que é ser realmente amada daquele jeito que sempre imaginei, e lembrei-me da forma como por vezes me falavas da forma como viveste com o Luís.

- E agora. Ficaste resolvida a fazer o quê? Continuam a encontrar-se?

- Não! Primeiro ao acordar de manhã, nem queria acreditar no que me tinha sucedido. O meu corpo podia sentir, sentira aquela sensação enorme de prazer que naquele momento me pesava como se o mundo me tivesse caído em cima, mas sentira, e por isso pensei que foi bom ter-me acontecido aquilo mas jurei a mim mesma que nunca mais aconteceria.

- E não aconteceu, ou nem por isso?

- Mas achas que sou uma qualquer ou quê? Ainda tenho no Jorge o meu marido, um grande companheiro, e gostava de saber se com ele depois de ter sentido a minha falta caso ainda esteja livre, eu consigo sentir a mesma coisa ou parecido.

- E o homem da residencial? Continuam a ver-se?

- Na verdade falámos tanto, eu e ele, sabemos tanto da vida um do outro, que contínuo naquela residencial mas pedi-lhe para nunca mais me levar ao quarto, nunca mais se sentar à minha mesa, nunca mais nada...E penso que ele me entendeu, porque respeita o que lhe pedi e trata-me como se nada tivesse acontecido entre nós. Sabes aquela casa já é um bocadinho a minha casa, mas agora no final do contrato no lar onde trabalho não sei se o renove por mais tempo ou se me vá embora daqui ter com a minha família.

- Minha querida amiga, essa terá que ser uma decisão tua. Se estás aqui e tens o teu coração lá, vai e vê como te recebem, se Jorge te aceita e entende agora de outra forma. Mas eu no teu lugar iria sempre pois gostaria de rever os meus filhos, depois após a recepção logo veria. Verás que Jorge te vai entender de outra forma.

- Nem sei se ele tem outra, não sei de nada.

- Mas não tens de que te queixar pois foi isso que procuraste. Olha aquilo que te aconteceu um dia se ficares com Jorge conta-lhe ou não. Não sei que te dizer, afinal não o premeditaste, só aconteceu, apesar de teres gostado.

- Nunca fui amada daquele jeito. Na cama o Jorge nunca tocou o meu corpo daquela maneira e isso não me sai da cabeça, não o esqueço, mas era ele que eu gostava que me amasse e tocasse assim, entendes?

- Porque julgas que não consigo tirar o Luís da minha cabeça? Fui sempre tão feliz com ele, tão feliz, que nunca me passou pela cabeça substitui-lo.

- Ma nunca tiveste ninguém que te falasse ao coração que te levasse pelo menos tentar de novo?

- Não ainda não, e digo ainda porque não sei o que está para vir. Mas por falar no que está para vir queria dizer-te que a minha filha vai casar a meados de Outubro e penso ir um pouco antes até à Madeira, primeiro porque já lá vai o tempo que eu devia ter aparecido por lá para visitar a minha mãe e a minha filha e não o fiz, e depois porque agora tem que ser mesmo, que trabalho não é tudo. Nada é mais importante que o casamento da minha filha. Irei um mês antes, a meados de Setembro, e se até lá pensares ir diz-me que te dou boleia de carro até Lisboa.







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