E Jorge aqui já chorava, fazendo chorar comovidos pela forma como se expressava e falava de Sílvia, os filhos, que mais do que o pai podia imaginar sentiam a falta da mãe.
Jorge além de aprender a fazer as compras semanais para a dispensa e ir ao talho e ao peixe, teve que aprender a acompanhar mais os filhos, a cuidar e dar atenção à mãe, ver se arrumavam diariamente bem os quartos, se andavam aprumados e limpos se estudavam e tinham bons resultados na escola, saber se estavam bem de saúde, felizes, tinha que conversar com eles, fazer-lhes companhia, apoiá-los e quando se tratava do arrumo da casa passou a fazer disso uma festa.
Juntavam-se todos e dividiam tarefas.
Jorge com o tempo, aprendeu a dar muito valor ao trabalho de Sílvia e reconheceu que para ela fazer aquele trabalho anos seguidos fora de facto cansativo por ser também monótono, sobretudo porque um dia ela sonhara ser enfermeira.
Afinal sempre podiam ter dividido tarefas e teria sido tudo mais fácil.
E depois muito para si, sabia que apesar de a amar, de ela ter sido sempre para ele a única mulher que teve e desejou, nunca a amou como ela merecia e precisava ser amada.
Ele era muito egoísta, e sempre que faziam amor ele não se preocupava muito se ela queria isso ou não e até se esquecia que a devia afagar, estreitá-la com doçura nos braços, chamar-lhe sua, envolve-la com carinho e contar-lhe segredos ao ouvido, dizer-lhe com as mãos segredos inimagináveis por todo o corpo que a deliciariam pressentir.
Ele sabia que procedia mal, que a amava mal, que não lhe dava o que lhe era merecido, que nunca esperava por ela, nunca ou quase nunca a conseguia satisfazer, mas pouco preocupado, pensava sempre que valia mais um satisfeito, ele, que nenhum dos dois, e continuava assim porque a via aceitar resignada a sua forma de ser.
Se até os amigos diziam que eles eram um exemplo de casal a seguir que havia ele de fazer?
Agora é que não sabia que lhes responder quando o olhavam sem questionar, mas sabia que se interrogavam pela ausência de Sílvia em casa.
A ilha era pequena e depressa todos os amigos e conhecidos souberam da sua saída de casa e mais depressa ainda a criticaram e comentaram sem saber razões, apontando a piores, incluindo também a ele que viam não reagir nem fazer nada para a encontrar.
Houve até quem referisse que devia ter partido nalgum paquete com um homem rico, pois que mais podia levar uma mãe a abandonar o seu lar senão a força de muito dinheiro.
Antes nunca se ouvira dizer que o casal se desse mal, só podia ter sido o dinheiro que a fizera partir.
Mas um dia as pessoas cansaram-se de falar de Sílvia e calaram-se com esse assunto.
Jorge, os filhos e a mãe encontraram forma de caminhar enfrente e até pareciam todos mais unidos.
Cartas de Sílvia nunca as receberam, nem Jorge nem os filhos, e só Deus sabe o quanto isso custava a Sílvia, mas Joana que nunca deixou de os visitar em casa, foi-lhes sempre dizendo que com toda a certeza a mãe deles estava bem, pois as notícias más correm depressa e depois eles estavam como ela que também tinha a mãe longe.
Um dia elas voltariam cada uma de seu lado, mas voltariam prontas para os abraçar.
Só o filho mais novo de Sílvia não entendia nem aceitava que a mãe tivesse partido, mas calava essa tristeza que lhe moía a alma.
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