Sempre com o seu vestido imaculadamente limpo e engomado, de mangas coloridas, bem tufadas, aquela menina, a Branca de Neve, assim lhe chamaram os amigos dadas a sua pureza e frescura, andava sempre muito bem cuidada, pois os seus amigos anõezinhos, nunca deixavam que lhe faltasse nada.
Depois de a terem encontrado e ela ter acordado de um sono profundo, tratavam-na como a uma princesa, como se fosse coisa sua. Roupa e cama lavada e perfumada, a casa num brinco de asseio, o jardim mais que organizado, sempre com novas flores a desabrochar, tudo sempre como nos sonhos de histórias de fadas. A família deles passou a ser a dela. E a dela passou a ser a deles.
A comida na cozinha sempre pronta, que os anõezinhos todos tinham uma missão defenida e o que melhor cozinhava, todos os dias tinha pronta as refeições e uma suculenta merenda que a menina levava à avozinha deles, agora também dela, que vivia numa casinha do bosque ali ao lado.
Branca de Neve era uma menina feliz como há poucas e o motivo porque vivia ali com aqueles amigos não lhe interessava. Não se lembrava senão de acordar um dia numa cama fofa e tão macia que parecia estar deitada sobre nuvens. Á sua volta aqueles amigos pequeninos, muito risonhos e felizes, fizeram-na sentir tão bem que nem se questionou. Não se lembrava de nada e assim pensou em ficar ali com eles. Aquela era a sua casa. Sentia-se feliz naquele mundo onde todos a amavam e cuidavam com muito zelo, e isso é que lhe importava.
Todos os dias quase sempre á mesma hora Branca partia a saltitar, com o cestinho da merenda para casa da avozinha que raramente encontrava em casa.
Mas a menina que conhecia o ronronar do gato da avó, adivinhava pela maneira como este se esfregava nas suas pernas, que mais uma vez a avó devia ter saido numa daquelas escapadelas para ajudar alguém.
Costumava muito ir a casa daquela madrasta ruim e malvada, que martirizava com trabalho e castigos a filha mais nova.Toda a gente sabia que ela e as duas filhas mais velhas tinham inveja da beleza da mais nova e assim tratavam-na pior que a um escravo que nesta história nem existia. Todos os dias arranjavam forma de a carregar com afazeres e saíam para se divertirem sabe-se lá onde.
Mas a avó de Branca de Neve, manhã cedo depois de tratar das suas coisas ia ajudar a menina, a quem chamavam na vizinhança Gata Borralheira, por nunca sair de volta dos arrumos da casa e das panelas da cozinha. A avó ajudava-a com muita alegria e juntas aprendiam todos os dias coisa novas...
Quando chegava a casa a avozinha agradecia a Deus a neta que tão inesperadamente lhe tinha aparecido na vida, e que tal como os seus netos anõezinhos não lhe deixavam faltar nada.
"Temos que ser todos uns para os outros" ,era o que a avó lhes ensinava e eles entendiam. Sabia que a neta não precisava da sua ajuda, porque os anõezinhos cuidavam dela como de uma rainha, e se algo acontecia corriam logo a avisá-la.
Os sete Anõezinhos sem excepção, passavam o dia numa roda viva para que tudo estivesse sempre impecável, que de pequeno só tinham o tamanho e no resto eram os maiores e melhores amigos e trabalhadores do mundo, (enfim á excepção do Dorminhoco e do Preguiçoso que se arrastavam sempre para fazer fosse o que fosse mas que no final conseguiam sempre surpreender os irmãos ),e assim a avó bem se podia dedicar a ajudar quem mais precisava mais dela, vivendo todos em plena harmonia.
Um dia quando ia a caminho do bosque para casa da avó, Branca encontrou uma menina como ela, que cantarolava feliz e com quem falou . Também ela ia levar um cestinho com frutas e doces que a mãe tinha preparado para a avó, mas distraída com a cantilena tinha-se perdido no caminho, e já estava um pouco assustada.
_”Hei, menina, de vestido vermelho tão bonito, assim a cantar distraida, donde vens, não te conheço destes caminhos. Com essa cantilena podes chamar a atenção de lobos ou algum ladrão, que esfomeados te comam o que levas no cesto, que pelo cheiro deve ser gostoso. Vem comigo que juntas, com os meus pequenos amigos depressa encontraremos a casa da tua avó”
A menina de vestido vermelho, que também tinha uma capa com um capuchinho, ficou encantada com os seus novos amigos, pois na verdade apesar das cantorias já se sentia meio confusa. Todos juntos lá foram bosque adentro e mais esfoladela daqui , mais estorcegão dacolá, caminharam todos á procura da casa da avó, o que não foi difícil de conseguir com a perspicácia dos anões.
Esfalfados e doridos do percurso, mas todos juntos com a ajuda da avó do Capuchinho Vermelho, a quem entregaram a merenda e que ficou muito feliz por os ver, depressa se organizaram, se puseram em ordem , roupas e sapatos limpos, e num esfregar de olhos ficaram alinhados. Andavam nestes arranjos, quando ouviram ao longe um grunhir que parecia de lobo.
A avó avisou-os logo que era mesmo um lobo. Andava por ali a rondar-lhe a casa á tanto tempo que ela até estava para avisar a neta para não voltar a visitá-la, pois tinha medo do que lhe poderia acontecer.
Os anões pensaram logo em montar um estratagema de forma a assustá-lo, que o malvado não mais voltaria a passar por ali enquanto se lembrasse.
Assim, encavalitados um em cima dos ombros do outro, formaram uma torre com rostos á janela a fazer caretas horrendas. Cobertos com lençóis da avó deixando de fora só os rostos, entoando uma sinfonia de gritos e lamentos que se ouvia a quilómetros, mal o lobo se aproximou e viu tal" bicho" fez marcha atrás e fugiu de rabo entre as pernas como um cordeiro assustado.
A avó e as meninas riram que se fartaram, mas eram horas de voltar a casa, e depois das despedidas e dos conselhos da avó, puseram-se a caminho.
Desta vez o Capuchinho Vermelho garantiu que nunca mais se ia enganar no caminho, porque afinal só se tinha perdido por falta de atenção e não ter seguido os conselhos da mãe. Tinha-se posto ás voltas pelo bosque pensando que estava a escolher um percurso mais curto, e com a cantilena nem dera conta que se estava a afastar. Mas de facto, tal qual o Espertalhão comentou, se não fora ela perder-se nunca se tinham conhecido e nunca poderiam ter ficado amigos, além de que tinham conseguido afastar para sempre o lobo do bosque.
Bocejando sem parar de tanto cansaço Preguiçoso concordou, e com o Dorminhoco ao colo todos entraram para casa e disseram um forte e alegre até breve á menina do Capuchinho.
Branca estava cansada mas feliz. Cada dia tinha mais amigos e irradiava de felicidade por conseguir ajudá-los.
No dia seguinte tinha que ajudar a acabar um vestido de baile que a avozinha e a madrinha Fada da Gata Borralheira, lhe iam oferecer de surpresa, para ela levar a um baile onde as irmãs e a madrasta iam e não a queriam levar. o vestido estava um sonho de beleza só faltando mesmo os retoques finais.
A Gata Borralheira nem sonhava, mas ela iria ser a jovem mais bonita e encantadora do baile, e o jovem que muitas vezes conversava com ela ao muro do jardim, quando cuidava das flores, sem se importar com os seus pobres trajes, pois a ele importava-lhe mais a beleza que sentia nas suas palavras e atitudes, ficaria tão fascinado com ela, que não resistiria aos seus encantos e iria levá-la com ele para sua casa, para viverem felizes para sempre.
Branca de Neve sabia tudo isto, porque a avó e a Fada madrinha lhe contaram, mas mantinha segredo como tinha sido combinado. Era uma surpresa que queriam fazer á Cinderela, por todos os sacrifícios e martirios que desde pequenina passava com as irmãs e madrasta, que a partir dessa noite não teriam mais ninguém que as servisse.
As histórias podemos contá-las como entendermos, mesmo que seja ás avessas, mas têm de ser histórias de encantar, que histórias de encantar não acabam nunca...,e esta ainda está a começar.
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