Hoje mais uma vez estou sózinha.
A noite já me habita há muito tempo, e o escuro lá fora caiu há algumas horas atrás. São exatamente três horas da madrugada...
Os olhos teimam em não fechar e a mente preversa e má, flagela-me com pensamentos ansiosos que me torturam, me consomem , me asfixiam, não me deixam dormir, nem relaxar...
Busquei dentro de mim o que fazer, o que pensar, algo que nesta longa noite me acalmasse, me desse força para não ter medo, e sossegar... além das pilulas coloridas que engulo sem pensar...
....e vi-me aqui !
Pensar em vocês, tem horas que me enche a alma, mas outras como hoje, que me tortura.
A vossa ausência assusta-me por ser muda. Machuca-me porque é pesada..., e dura!
Lá em cima ainda existem os vossos cheiros, restos das vossas vidas, muitas histórias escondidas, que não conheço, pequenos gestos quietos, que todos os dias se esfumam mais um pouco e desaparecem..
Por onde andam todos? Onde estão? Sairam tão em silêncio e devagar, que não sei se abalaram de vez, se vão voltar, se isto que sinto também vai partir ou vai ficar..
Há pouco, quando não estava bem, onde estavam todos? Chamei-vos em pensamento, mas deviam estar moucos...
Estou aqui neste meu eterno lugar, neste meu corpo agitado, mas mesmo quando por momentos me retiro, é aqui que fica o que em mim, sente mais a vossa falta.
Parece que quando retorno, uma nuvem feita um manto negro e pesado, me envolve e me força a sentir a vossa ausencia com dor e pesar, não porque vos queira prender aqui comigo, não, mas porque sinto saudades das portas a abrir de madrugada...,do calor das vossas vozes, do andar nas escadas...
Quero respirar e não consigo. E quando a tranquilidade me abandona e a ansiedade me domima o corpo e a mente, como ainda há pouco, só consigo pensar em vocês.
Imagino que ainda estão por aí, sinto o ranger das cadeiras, a agua nas torneiras a correr, e como acredito em fadas, sei que sim que estão por aí, mas ocupados. O meu coração diz-me que será sempre assim, e eu, que até sou forte, para não vos incomodar, resisto aos medos que me invadem, e deixo que o sono me visite, sem no entanto ter vontade de o aceitar...
Se eu gritar, quem vai ouvir? Ninguém. Eu própria estou a ficar surda, por isso, não que não fosse uma coisa que gostasse de fazer, não grito, nem chamo, nem falo, nem choro, nem nada ... , e tento entender tudo.
E de um lado para o outro, peço a Deus que a droga engolida faça efeito e olhos se fechem sem eu contar...
O vosso tempo aqui passou depressa, ganhou asas e voou, voou sem parar...
De mansinho, desfizeram o ninho e procuraram outros lugares.
E eu, que ainda gosto de brincar, faço de conta que lá em cima estão vocês, agora como outrora, a dormir, a estudar, quem sabe a descansar, cada um no vosso novo espaço, no vosso novo lar....
Afinal é muito fácil imaginar...
Obrigada por tudo o que me deram e dão, e por serem assim como são...
Obrigada por me deixarem sonhar...
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