Quando faço férias e viajo de avião, a melhor fase para mim, é mesmo o fazer das malas.
Invento, sonho, imagino, sobre o que vai acontecer e tudo o que vou precisar nesses lugares diferentes, o que vou fazer, as gentes novas que vou conhecer, tudo com os pés bem assentes no chão. Vou enchendo as malas com o que imagino vir ou não a precisar, e muitos dias á noite ao deitar, pensando nestas banalidades, o sono vence-me e eu acabo por relaxar e dormir em paz.
Começo nestes afazeres, no mínimo uma semana antes da partida, quase tantos dias como os que tenho de férias…
Com tudo o que lhes enfio dentro, as malas parecem chumbo, e eu que não sou abonada em nada especial, com as minhas parcas forças, nem as consigo mover. Ficam abertas no chão, escancaradas, para melhor as poder rechear, até à hora de alguém as fechar.
É sempre preciso a força gigante de um homem, para as carregar e chegar com elas á fila do check-in, onde, espero sempre não ter que pagar por excesso de bagagem.
Numa mochila ao ombro, carrego coisas diversas, muito mais que o necessário, mas que em alguma altura posso vir a precisar. Parece que vou mudar de país, viver uma aventura num país distante ou que vou hibernar e estar meses escondida algures, onde ainda não chegou a civilização.
Levo ainda o Bobby de mão, repleto de coisas, cumprindo as normas impostas, mas de tal forma recheado, que se for aberto, dificilmente o consigo reorganizar.
Tenho ar de tudo, menos de quem vai de férias para algum lugar exótico, diferente…,vendo-me ao espelho nesta hora, tenho ar de quem vai para o calaboiço…
Nessa fila enorme de gente, que parece toda irradiar felicidade, começa o meu martírio secreto, que há muito tempo me habita a mente. É que nessa hora é definitivo, não posso recuar, e eu tenho muito medo de voar…
O check-in está feito, as malas despachadas, já tenho lugar certo. As horas seguintes são para aguardar a hora de entrada no avião.
Será porventura, que haverá no meio daquela gente toda, alguém aflita como eu? Todos me parecem calmos e relaxados.
Fico branca, sem fome, nem vontade de falar, e acabo sempre por me perguntar porque me meto nelas, se naquelas horas perco a vontade de tudo, e mal consigo respirar.
Sendo eu assim com medo de subir no ar, porque preparo tudo e não desisto nunca de fazer férias daquelas , de voar ?
Levo dias a juntar tudo, a planear, a encher malas de mil coisas, e na hora do embarque, sofro como se o mundo de um momento para o outro pudesse acabar…
Devia ficar em casa, fazer malas e mais nada …., deixar a roupa amarrotar e depois de alguns dias repunha tudo nos seus lugares.
Ficaria tudo mais barato, evitava taquicardias e crises de ansiedade.
Um bom livro havia de me mostrar tal qual, os ludares que vou visitar…
Mas não posso desistir, tenho sempre que tentar, e quando vejo alguém mais velho que eu, com ar calmo e tranquilo, penso que tal como ele um dia, vou conseguir superar e deixar as malas leves, só com o essencial...
…. e ainda há quem diga que é bom viajar….
Depende…,do ponto de vista...
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