terça-feira, 20 de setembro de 2011

MÃE CORAÇÃO

Helena arranjou-se o melhor que pode, mas com a singeleza que lhe era exclusiva. Depois de arrumada, a senhora dona Joaquina abençoou-a e disse-lhe que ela estava muito bonita. Sem a farda vestida, com aquele vestido simples mas que lhe assentava lindamente, e o seu loiro cabelo solto, parecia uma menina de família. Decerto a futura sogra iria gostar muito dela. Isto dito por aquela senhora, teve um efeito maravilhoso para dar confiança a Helena que saiu de casa, quando o José Carlos apareceu ao fundo do portão de trás, como sempre, radiosa de satisfação.


- Estás mais bonita que nunca, Helena. Amo-te.

Foi o que lhe disse José Carlos quando ela se aproximou dele.

Helena não se lembrava de ouvir aquelas palavras, ditas pelo namorado naquele tom sedutor, e ficando como que magnetizada corou de forma, que ficou ainda mais bonita, sem ter jeito de lhe retorquir nada. Partiram de mãos dadas e com muita descrição, que os beijos à luz do dia estavam proibidos, ainda que a vontade do José Carlos em a abraçar e acariciar, fosse maior que nunca.

- “Este casal é perfeito”. Foi o que pensou a senhora dona Joaquina, quando os viu ao longe de mãos dadas, a caminhar juntos, à medida que se afastavam, sentada na janela do quarto de cima que dava para aquele lado da rua.

Da Lapa até casa do José Carlos, não foi muito o percurso feito, ou então foi porque ia satisfeita e feliz com o seu apaixonado, que Helena achou que fizeram aquele caminho rapidamente. José Carlos vivia num bairro antigo de Lisboa, mesmo às portas da Lapa, numa zona onde as pessoas se cumprimentavam umas às outras. Helena gostou disso, porque lhe lembrou a sua aldeia. Entraram por umas escadas estreitas, e ao abrir a porta, a casa era acolhedora.

Numa sala de entrada, encostada a uma porta rasgada, protegida por uma varanda, virada para o rio Tejo, de onde se via a outra margem, estava uma senhora já com alguma idade, mas muito direita, vestida de negro, mas que ao vê-los entrar se levantou e sorrindo se dirigiu ao casal para os cumprimentar.

-Não demoraste muito José, ainda bem. Boa tarde menina, tenho muito gosto em a conhecer. É a Helena, não é? O meu filho não se cansa de falar na menina, tanto que quase já lhe gastou o nome.

- Sim mãe é a Helena. Helena, apresento-te a minha mãe.

-Chamo-me Matilde, e tenho muito gosto em a conhecer. Ainda bem que não tardaram, pois ainda temos tempo para tomar um chá com calma. Meu filho, desculpa e a Helena também, mas esqueci-me de te dizer que hoje tenho uma devoção a cumprir na igreja, onde me comprometi estar com algumas senhoras amigas aqui do bairro, por isso gostei que não tivessem demorado. Vou ter que me ausentar um pouco, mas não demoro. Vão ter ambos que me desculpar, mas ficam à vontade, pois já têm idade para saber o que fazem.

- Oh mãe por favor, olhe como fala. Sabes a minha mãe é assim diz tudo que sente.

- E faz muito bem. Não se preocupe minha senhora, que sairemos quando a senhora sair. E não se apoquente com o chá. Não é preciso incomodar-se. O José quis só trazer-me aqui para nos conhecermos, e hei-de voltar outros dias com certeza, não é José Carlos?

- Nada disso- disse Matilde- claro que veio aqui para nos conhecermos, e há-de voltar outros dias, mas tenho tudo preparado e não sairei enquanto não tomarmos o nosso chá, com um bolinho feito por mim. Mas conte-me Helena, então trabalha em Lisboa, mas é da serra, do Norte? Já está cá há algum tempo, pelo que me contou o José Carlos?

- Sou de Malhoa, lá bem para o norte, do concelho de Chaves, mas quis vir trabalhar e estudar para a capital e aqui estou, realmente já há algum tempo.

- Posso falar mãe- atalhou o José- Queria dizer-lhe que gosto muito de Helena, e como já lhe disse, ela trabalha numa casa que não lhe deixa muito tempo livre, assim temos que aproveitar a sua vinda aqui. Como já lhe contei bastantes coisas dela diga-me a verdade: é ou não bonita a minha Helena?

- Envergonhas-me com essas conversas. Que há-de a tua mãe pensar de mim?

- Penso que é muito mais bonita, do que eu imaginava- disse a mãe do José, a Matilde- deve ser porque tem bom coração, como também me disseste, por isso a acho tão bonita, como o meu filho.

- Dona Matilde, a senhora deixa-me sem eu saber o que dizer. Primeiro prepara-me um chá e faz um bolo por minha causa que lhe apareço aqui em casa a uma hora nada conveniente, pois tem mais que fazer. E tu José, que andaste a contar mais de mim à tua mãe?

- A verdade. Que és linda e boa pessoa, que te amo e que te quero para minha mulher.

- Nem sei que dizer, a ouvir isso à frente da tua mãe.



Fotos do Google

o MEU CORAÇÃO



TENHO NO MEU CORAÇÃO A TUA ALMA


Tenho no meu coração
A tua alma
E nos teus beijos
O meu pensamento.


Sinto no meu corpo
O teu corpo
E o pulsar ardente e sequioso
De um prazer nunca saciado

FOTO DO GOOGLE

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

As PALAVRAS

As palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.


Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.


Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


DE :Eugénio de Andrade

Foto do google

Fernando Pessoa


Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.


Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.


Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,


Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?


Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.




Fotos do Google

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Um dia especial!!

Aquele dia especial que Isabel tanto ansiava há muito, ia surgir daí a algum tempo.

A sua filha, Joana, tinha sido pedida em casamento, e Isabel que não esperava que isso acontecesse daquela forma inesperada, até porque na época, aquela era uma atitude já não muito comum entre os jovens namorados. A maioria deles, assumia a sua relação amorosa e simplesmente passavam a viver juntos, o que era preferível a casarem e daí a algum tempo assumirem um divórcio, era o que Isabel pensava. Isabel não estava habituada a ser surpreendida por notícias assim tão agradáveis, pois para ela, casar a filha com a pessoa que era já o seu companheiro, era além de uma notícia inesperada e agradável, uma novidade encantadora.

Depois daquele dia, a cabeça de Isabel não teve mais descanso. Naquele dia, no dia de casamento de Joana, tudo tinha que estar o melhor possível, perfeito. E a cabeça de Isabel começou a sonhar, e de tal forma, que a partir daí, sempre que queria relaxar era nesses dias que pensava, porque esse trabalho que iria ter com o casamento, lhe daria imenso prazer e alegria.

Teriam que escolher a data, o local, o menu, fazer a lista de convidados, os convites, a decoração do local da cerimónia, da casa de Isabel e também da casa de Joana e do seu futuro marido.

Completar o enxoval da filha, era algo que Isabel queria muito fazer, e foi a primeira coisa que começou a tratar. Mas Isabel não era a noiva, era simplesmente a mãe dela, e assim limitou-se, de vez em quando, a dar algumas opiniões fazendo um esforço para não interferir muito. A noiva era Joana e seria dela e do futuro marido, a escolha da grande maioria das coisas que preencheriam por completo o dia do seu casamento.

Como Isabel adoraria poder dizer-lhes o que gostaria de colocar aqui ou fazer acolá, como adoraria que este e aquele facto ou situação, um ou outro pormenor, fossem desta e daquela maneira, exactamente como ela achava que ficaria melhor, mas não o devia fazer. A noiva não era ela, mas si a filha. Isabel só deveria apoiar e quando muito dar uma ou outra opinião a Joana, que poderia aceitar ou não o parecer que a mãe lhe dava. Teria que ser assim.

E devagar, muito devagarinho, os dias foram passando, sem nada de especial se fazer ou acontecer em relação ao acontecimento previsto, ainda que os sonhos e ideias para o acontecimento se avolumassem dia a dia, na cabeça de Isabel.

Entretanto um dos dias mais importantes, chegou finalmente. Aproximava-se a altura de escolher o vestido de noiva de Joana. Para Isabel, tal como para a filha, esse era um momento grandioso. E foi, pois elas viveram-no intensamente. Depois de numa primeira tarde terem visitado, ambas, as lojas da cidade mais próxima especialistas nesta área de vestuário, resolveram visitar algumas outras de uma cidade especificamente abundante em lojas mais específicas e com maior variedade desse tipo de artigos. E que bonitos, eram todos os vestidos que viram e que Joana vestiu.

Em cada um, Joana ficava mais bonito que no anterior. Mas, um tinha muitas rendas, outro, muitos folhos, aquele era muito alto de cinta, este outro muito descido pela anca, um análogo tinha uma enorme cauda, e outro ainda, era demasiado decotado. De facto em todos ficava muito bem, esplêndida, mas Joana ainda não sentira que algum deles seria o seu. Imaginava que tinha que ser um vestido, que ao vê-la, o noivo, a achasse mais linda qua algum dia já a tivesse visto. E de facto, ainda que alguns lhe assentassem melhor que outros, quando vestiu aquele porque se decidiu não pestanejou. Aquele seria o seu vestido. Com ele vestido sentia-se bem, o noivo iria de gostar de a ver e Isabel adorou a escolha da filha. Mas que vestido daqueles não ficaria bem a qualquer jovem que os coloque?

O vestido, simples, mas com um corte fabuloso, assentava-lhe como se tivesse sido feito exclusivamente para ela. Com um corte magnífico, faria dela uma princesa. Mais tarde, voltaria à prova do definitivo, mas naquele dia, Joana trouxe consigo as meias que iria usar e a liga azul para lhe dar sorte. Isabel não queria que nada faltasse a Joana, mesmo aquelas coisas consideradas pelo povo, como lendas ou superstições.

E os dias iam avançando e agora para Isabel, que já vira Joana com o vestido colocado como se fosse o dia do casamento, seria muito mais fácil continuar a sonhar, a sonhar, sonhar muito, com o dia que seria por certo o mais feliz da vida da sua filha.

E como ela ficaria bonita descendo as escadas da sua casa…


Fotos do Google

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ELE na televisão

Isabel estava de férias, no seu país. Estávamos ainda no Verão, no seu final, mas os dias uns pelos outros ainda se apresentavam risonhos, quentes, convidando à praia e ao lazer. Mudava de local naquele final de semana, pois nesse ano as férias eram um pouco mais longas que o habitual.

Tinha passado com Pedro um ano muito difícil, por motivos de trabalho, de uma recidiva de uma doença muito aborrecida do Pedro e porque não dizê-lo, por falta de dinheiro, que naquele ano na sua família como em todo o país parecia escassear cada vez mais. Na verdade, aquele ano até ali tinha sido muito complicado, e o que estava para vir logo se viria.

Mas naquele ano os filhos juntaram-se à mãe e ofereceram ao pai, pelo aniversário, uma semana numa Albergaria que ao percorrer com olhar atento fez lembrar a Isabel as pousadas maravilhosas que de vez em quando, recordava com nostalgia do seu Brasil, aonde ainda pretendia voltar, mas não sabia quando. Poderia ser que o fizesse só em sonhos.

Naquela tarde algo muito importante iria acontecer. Era absolutamente imperioso que ela e o Pedro estivessem na Albergaria, no seu quarto, ou num outro lugar qualquer, onde atentamente o pudessem ouvir. Sem saber como, nem porquê, o filho mais velho iria falar na televisão. Um convite chegado sem contar, e sem Isabel conhecer ao certo o motivo, mas que a deixou cheia de curiosidade e interesse. De facto o que sabia é que o seu filho mais velho iria falar na TV, naquela tarde exactamente a uma hora determinada, e o que ela sabia é que isso era muito bom. Sabia que ele tinha muito valor. Era inteligente, culto, bem-falante, conhecedor de tudo, além os assuntos da sua área, mas também modesto e humilde, para ter nele o exemplo do que deviam ser os homens no mundo, para que este evoluísse e andasse para a frente. Não havia nada que ele não dominasse, era o que Isabel mãe orgulhosa e babada pensava do seu primogénito.

E de facto ocuparam o quarto na Albergaria, a tempo de à hora exacta, estarem em frente à TV. Sentados na cama em frente à televisão esperaram ambos que o programa começasse. Pareciam duas crianças. Isabel estava tão nervosa que quando o programa começou, queria logo que ele aparecesse. E apareceu, mas primeiro numa curta apresentação e depois de escutado o primeiro convidado, foi um prazer ouvir e ver o seu rebento. Um homem lindo, talentoso só de olhar, simples no aspecto, mas grandioso em tudo o que dizia, que para Isabel aquele era o seu menino, ou não, pois era um homem que ela ouvia. E baralhada, pois sabia que o seu menino era um homem, aquele homem com letra grande que falava, que sabia bem o que dizia, respondendo com enorme eloquência e sabedoria a tudo o que lhe era perguntado, Isabel não sabia se havia de rir ou de chorar, pois cada coisa que ele dizia deixava o seu coração repleto de felicidade.

Isabel atenta, não perdeu uma palavra do que ele disse, nem sobre o trabalho, nem sobre os seus gostos pessoais, e muito mais haveria para dizer, que apesar da vida ainda não ser muito cumprida, ele aproveita cada segundo e o seu curriculum já é longo e muito rico.

E gostou de tudo o que ele disse. Confirmou que sabia ainda, as coisas de que ele gostava. E que bem que o conhecia o seu menino. Apreciava, como há-de gostar eternamente de música e de escrever, e ler, ler todos os autores que cuidadosamente escolherá sempre, como sendo uma riqueza, algo precioso e especial, importante demais para o ensinar e dar a conhecer exactamente o que pretende ou não, mas sempre uma valia a aproveitar.

Isabel estava agitada, e da emoção de tão bem o ver e ouvir falar, nem sabia se havia de rir ou se chorar. Deixou-se ficar nesse encantamento, recebendo mensagens de elogio e parabéns de amigos que também o ouviram. Nesse dia quase que pensou que o mundo podia acabar. Mas não, era tudo emoção, tinha a sua filha e ela ia casar, uma emoção tão grande que nem sabia bem em qual pensar. A sua princesa ia casar, e o seu menino era um homem que falava com nenhum outro, com sabedoria e total competência.
O seu menino era um Homem, e era o maior. Um dia havia de lá chegar, àquele lugar onde só chegam as estrelas, por nunca desistirem de subir, de lutar e trabalhar. Ela sabia, que um dia o seu brilho chegaria longe, e a partir dali nunca mais pararia de brilhar.



E a sua princesa vestida de branco, naquele dia ia entrega-la a alguém que para sempre havia de a fazer feliz.

E deliciou-se a pensar nos seus dois filhos e tanto o fez, com tanta energia, tanto amor e empenho, que nesse dia chegada a noite, os seus olhos não dormiram. Tinha sido tão forte a emoção que Isabel não estava nela. Será que tudo aquilo era verdade?

Naquele dia vivera de facto momentos de imensa felicidade.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Palavras que são beijos

  Há Palavras que Nos Beijam

 Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.


Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)


Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.



Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'


Tema(s): Beijo Palavra Ler outros poemas de Alexandre O'Neill // Co

Fotos do Google

Aquela que eu amo..

Antero de Quental



Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas lânguidas, divinas
Da antiga Vênus de cintura estreita...


Não é a Circe, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortas entre ruínas,
Nem a Amazona, que se agarra às crinas
Dum corcel e combate satisfeita...


A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que se dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino...


E como uma miragem que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nuvem, sonho impalpável do Desejo...


 Fotos do Google





quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A vida de Isabel degrada-se

E Isabel desconsolada e triste, sofria, por não encontrar solução para aquele problema.
Desde há uns anos atrás, na altura em que tinha uma empregada nova, mulher normal de aspecto que apenas tinha como lucro a força da sua juventude, robusta, boa pessoa, e muito caridosa, com quem o seu pai encontrara maneira de se intrometer, sem qua a mesma o tenha permitido, talvez porque não se dera conta das suas investidas maquiavélicas, quem o saberia? Sim, porque em quem deveria Isabel acreditar, no velho do pai ou na empregada, se as  manobras que ele fez lhe passaram à margem?
O que aconteceu é que as investidas do velho aterrorizaram a rapariga, que com medo do marido descobrir, disse a Isabel que não queria trabalhar mais na sua casa, alegando para isso vários motivos e também algumas provas das tentativas de namoro assediado, do velho atrevido, o pai de Isabel.
~
Isabel chamou a atenção do pai: “que não devia ter feito aquilo, nem assediado a rapariga e mais isto e aquilo”. Mas de facto, Isabel ficou sem empregada e sem sossego. O pai simplesmente deixou de lhe falar, exigindo para o fazer de novo, que a filha lhe pedisse desculpas, coisa qua  Isabel não estava disposta a fazer´. A mãe que só a visitava quando acompanhada pelo marido, deixou assim de visitar a filha para todo o sempre. Isabel passou a viver momentos como nunca sonhou ser possível um dia viver.

Teve que arranjar uma nova empregada o que não foi nada fácil, depois de ter tido em sua casa, durante doze anos, uma pessoa em quem confiava completamente. mas perdeu a visita dos pais a sua casa, o que lhe custou muito a admitir

Não entendia que por causa do velho e das suas manias, tivesse perdido a sua querida empregada. Nunca mais encontraria outra igual.

Mas encontrou, só que com rigor, apesar de parecer doce, meiga, com necessidade de receber carinho e vontade de aprender cada dia coisas novas, Isabel não a conhecia de verdade, e sabia que em nada era igual à anterior. Mesmo assim, Isabel pensou que finalmente a sua vida iria equilibrar, apesar do pai, aquele velho aborrecido, nunca mais lhe ter voltado a falar, e a mãe mesmo que só nunca mais a tivesse visitado.

Mas passados dois anos as jóias valiosas, todas elas, as que Isabel durante a sua vida comprara com sacrifício e amor, e muitas outras que ela os os filhos, receberam como presente, marcando uma data ou um dia especial, todas, absolutamente todas, desapareceram das suas caixas, algumas, a maioria, bonitas, forradas de veludo ou cetim. Isabel via voar o seu património, sem saber para onde. Tudo o que juntara para um dia deixar como herança para os filhos e netos, tudo se fora, tão naturalmente que Isabel, nem ninguém da sua casa,marido ou filhos, deram por isso. A casa não fora desarrumada, as portas e janelas não foram destruídas, os gavetões, armários e na sua totalidade a casa estava intacta, como se ninguém estranho lá tivesse andado a remexer fosse o que fosse. Alguém levara tudo sem deixar vestígios, sem sentir um rasgo de dó ou de piedade.

A nova empregada, a tal que tudo queria aprender e parecia meiga e doce, ultimamente andava sempre agitada e doente, mal disposta, faltando muito ao trabalho. Isabel sem saber de nada, mandava-a ao médico, dava-lhe medicamentos para a aliviar, ouvia-lhe as queixas, até que a mesma, resolveu deixar de trabalhar e ir visitar os filhos pois tudo aquilo podiam ser saudades de casa. E a rapariga partiu, foi visitar os filhos, desempregou-se de casa de Isabel pois como ela dizia: ”a sua cabeça não andava bem”, ao mesmo tempo que gritava para quem a quisesse ouvir: “que estava rica e ninguém tivesse mais pena dela”. Isto confundia Isabel que nunca pensou que algo mais grave que a sua doença, estivesse por trás de tudo o que dizia, já que pelo que a mãe do namorado da moça lhe dizia, muitas vezes a rapariga nem a casa ia dormir, parecendo que andava possuída por algo muito ruim. Devia estar mesmo doente, e para que queria Isabel a servir-lhe em casa um a mulher doente, que passava o tempo a faltar.

E um dia a rapariga partiu e foi visitar os filhos, ficando Isabel de novo sem empregada, e sem saber ainda da falta das suas preciosidades, pois na verdade, só mais tarde, na sua ausência, deu conta da falta das jóias que tanto estimava, por um dia ter ido buscar uma, para se enfeitar numa ida a uma festa especial. Nesse dia, encontrou todas as caixas vazias, mesmo as que não eram de veludo ou cetim, mas continham dentro algo amarelo que se aparentasse ouro.

Entretanto uma loja que possuia à sociedade, estava com más contas, não conseguia fazer dinheiro para saldar no banco, contas anteriores. Em casa, com o apoio do marido, juntam todos os bens, acções, seguros, o que tinham junto dessa forma, durante a vida. e com tudo junto pagam à banca as dividas da loja, desfazendo a sociedade, passando-a para o sócio que agora sem dividas, e apgando apenas uma mensalidade a Isabel, conseguiria andar para a frente, assim a vida também lhe corresse a  favor e ele soubesse gerir as suas contas.

Aquilo era demais para Isabel. Perdas demais para uma pessoa, ela, que lhe parecia não merecer tamanha sorte, pois nunca fizera mal a alguém. Aquilo era um castigo, não podia ser outra coisa.

 Em rellação ao furto, a polícia não resolveu nada. Não havia provas, e o que se podia provar não foi aceite como verdade. Quando ela chegou de férias, vinda de avião do outro lado do mundo, foi a Isabel que pediu ajuda directamente do gabinete da polícia, que sabe para provar que não tinha dinheiro com ela. Mais tarde quando foi chamada a depor apenas respondeu que não tirou nada que não sabia de nada, e por aí ficou. O namorado também afirmou que nunca a tinha visto com nada, e o processo foi arquivado, e Isabel ficou sem nada. Mas pior do que isso, Isabel aos poucos foi perdendo tudo o que tinha. A vontade de agir, de andar para a frente e lutar contra as adversidades que se lhe deparavam.

O tempo era de mudança. Não havia dinheiro, as dívidas acumulavam-se, e Isabel nem imaginava como havia de fazer frente a toda aquela situação. Numa outra  empresa  que tinha, que já ia com 33 anos, já rescindira contrato com um funcionário, e as dividas com os fornecedores eram cada vez maiores. O que fazer, se os bancos não lhe emprestavam dinheiro para ela saldar essas dívidas? Estava num beco sem saída. Aos poucos perdia tudo, até a vontade de viver, pois também a sua vida pessoal fora sempre um pouco de fingimento e mentira, e nem a esse nível ela se sentia realizada. Viver assim para quê, se só encontrava obstáculos cada vez mais difíceis de transpôr. Sonhava que estava bem, fazia força para saber fingir que o que fizera bem feito a preenchia, mas era tudo mentira.

E Isabel estava desgostosa, sem saber o que fazer à sua vida, pois todos os seus sonhos de trabalho estavam igualmente a desaparecer, como tinha acontecido com as suas jóias, sem ela poder prever tempos atrás que isso iria acontecer.

Ninguém a podia ajudar, só o velho do pai, que deixara de lhe falar e tinha dinheiro. Que ela até sabia, que ele lhe emprestaria, mas a quem ela tinha que fazer esse pedido sujeitando-se a tudo que ele lhe pudesse vir a dizer, ficando subordinada aos seus ditos e opiniões nunca agradáveis.


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AQUELA mulher velha

Afinal, ela não estava completamente errada.
Aquele preto que vestia sempre, o seu semblante carregado e olhos descaídos, onde nunca consegui ver pestanas, e talvez por isso, nunca consegui notar algum dia a cor, velha, casmurra, sempre de mau humor, indisposta e capaz de abrir a boca a qualquer momento para dizer coisas que criavam entre eles,( ela, o filho e a nora), um ambiente o pior possível, quem sabe por ciúmes dela ou da nora, afinal tinha alguma razão de existir com tamanha mágoa e tristura.

Não fazendo dela, com isto, uma santa mulher, porque sempre a considerei má, nada carinhosa, nem meiga, nem atenta, nem disponível para nada que não fossem as coisas que a ela diziam  estritamente respeito, alivia um pouco o sentimento que sempre nutri por ela, de a considerar estranha e conflituosa, capaz de me amedrontar continuamente, quase por gosto, assustando-me até ao fim do mundo.

       Afinal ela não amava ninguém como devia, porque não sabia, pois também nunca foi amada, garantidamente, como desejaria e como deveria ter sido amada. Mãe acima de tudo, depois esposa e amante de seu marido, por obrigação tenho a certeza, pois me afiançou muitas vezes que gostaria muito mais de ter entrado para um convento, esta mulher vestida de negro sempre foi uma mulher fria, quezilenta, implicante, sem amor a ninguém, egoísta, e muito autoritária, capaz de fazer sempre tudo o que queria e garantidamente sabia bem que ninguém naquilo que podia seria capaz de a contradizer nunca.
     Mas uma mulher só no meio de muita gente, a sua gente, uma mulher incompreendida e infeliz, que hoje compreendo um pouco melhor que naquela altura.
   
    A falta de amor, de auto estima, pode fazer-nos impertinentes e maus, duros, terríficos, e aquela mulher mal-amada sempre de semblante carregado e entristecido, sofria de amor tão somente.

      Aquele “serrar” a que se referia, entendo-o hoje muito bem, por que também o vivo e sinto. Não ser amada como se deve, esquecida, egoistamente usada como um objecto, sem se saber mentir, ou cansada de fingir, pode tornar-nos maus, tristes, egoístas, cansados da vida, pois quando se dá e não se recebe na mesma moeda, com o tempo, pode levar-nos a destruir o melhor que temos e somos.
    Ficamos fartos, desesperadamente saturados de tanta monotonia e tanto desamor.
     O melhor é desistir e aceitar resignados, foi o que fiz há muito.

     Perdoa-me a incompreensão, mas considero que não te devias ter vingado nos que inocentemente te rodeavam, só por que nunca foste amada como desejaste, por quem querias.
Eu  não deixei de amar quem me rodeia e não procurei essa vingança, e sabes uma coisa, se tivesses deixado eu podia ter-te amado naquela altura.

   Assim perdeste a oportunidade de amar e ser amada por todo o resto do mundo que não quiseste conhecer, e também pelos que conheceste.
   Não deixaste que te amassem porque lhes mostraste sempre má cara, vestida com as tuas vestes negras, tal era a cegueira que te rodeava por desejares aquele amor que não te souberam dar, não por mal, mas porque não souberam amar-te como deviam.
    Sei isso muito bem. Mas como te compreendo melhor hoje, desculpo um pouco o teu permanente mau humor a tua tristura infinita para comigo.
    Que Deus te recompense agora, e eternamente.
     Fica em PAZ!

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