segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os pais das filhas

 
Todos eles queriam ter razão, estar inteirados de tudo, dar opiniões, saber as verdades, se é que existem verdades!
 Deviam estar loucos, ninguém sabe nada, nem a própria Helena sabia, como foi que a sua vida se transformou, naquilo que passou a ser desde  menina,  desde que se lembra de existir….

Nadavam  todos no vazio da mais pura ignorância, ninguém podia entrar no espírito de Helena e sentir como ela, o que a perturbava todos os dias e noites,todos os segundos da sua existência, desde que se conhecia como gente.

Sempre sério e sisudo, de barba muito bem feita e mãos muito bem lavadas, aquele homem nunca a olhou com carinho, nunca lhe dirigiu um olhar terno ou atento, nunca confiou nela, nunca lhe pegou na mão para lhe ensinar a fazer fosse o que fosse…. Que ela se lembre nunca lhe chamou” de minha filha “, só de Helena, ou "ela" para abreviar …

Tudo seria diferente se um dia, ele lhe tivesse acariciado os cabelos, tivesse brincado ou passeado quem sabe conversado alguma coisa com ela, lhe tivesse dito que também para ela, esperava um futuro risonho, que queria que ela fosse feliz, que acreditava nela, que sabia que ela era capaz, que um dia ela seria alguém na vida como o irmão, bastava querer, que ela era forte e valente e iria conseguir, que confiava nela, que tinha orgulho nela, ….. e tantas outras coisas, milhares delas, todas aquelas coisas que os pais devem dizer ás filhas, que é delas que falamos, e que ele lhe devia ter dito ao longo da vida,  como dizia ao filho, mas não, em vez disso, ficou-se no direito feito ordem, de receber um beijo dela, á chegada a casa por ser pai, e a obrigação de a educar, como os pais o educaram a ele, por Helena ser sua filha.
 Tudo para que mais tarde, ela não o acusasse de ter sido injusto e mau pai,não cumprindo os seus deveres de tutor....
Coitada da Helena que sempre se sentiu filha do medo, do vazio, do nada. A ovelha negra da familia.
Sempre assustada e aflita, era como se nem tivesse espaço para respirar.

Nunca pensou como era ter um pai de outra maneira, e enquanto pequenina sempre imaginou que os pais seriam todos assim, frios, distantes, austeros, altivos, sem carinho para as filhas, e não de outra maneira.

Só muito mais tarde, quando cresceu um pouco e conheceu pais de outras meninas, portanto outras filhas,  ela compreendeu que os pais podiam ser de outras formas diferentes do seu, e então começou a sentir-se mais triste e infeliz e muito mais dificuldade em respirar.

Helena nunca se lembra de ver ou sentir o pai feliz, de o ver sorrir ou dar gargalhadas. Nunca o ouviu a ser feliz, que a felicidade também se ouve…

Isso perturbava-a e deixava-a ainda mais infeliz.

Ainda hoje Helena pensa nisso, porquê tanta angustia ou sabe-se lá que chamar, aquele estado permanente  de angustia de viver em casa... Porque era no convivio familiar que ela via o pai assim, sempre sizudo e muito sério.

Como podiam, áquela hora, tão longe do seu país depois de tantos anos decorridos, sabererem fosse o que fosse acerca da vida dela, se desde cedo Helena  viveu a fazer  de conta e deixou crescer ás escondidas, um sentimento enorme de mal amada. A carapaça que Helena usa ninguém conhece!
 Só conhece Helena a própria Helena…,e  por vezes nem ela se conhece muito bem!

  Essa maneira de ser, influencou negativamente todos o que o rodeavam, alterou-lhes a vida , o pensar, nem ele sabe quanto. A Helena sua filha a quem ele amou  tão mal, que assim mais vale ignorar completamente, influenciou para todo o sempre, a sua maneira de estar na vida, de sentir,de ser, de amar, de pensar...,de tudo!
 Ignorar  o passado é impossível. É muito tarde.
 Só se vive uma vida. E a um novelo pequenino, muitos fios se enrolaram  e hoje o novelo é gigante e pesado, e muitos dias difícil  de suportar.

Mas é urgente continuar, porque a vida se anuncia todos os dias.
 O sol nasce, e todos os dias se deita e há muitos anos que Helena engana a alma dizendo que está tudo bem, e tem superado..., mas os amigos não imaginam nem em sonhos o que Helena esconde por trás daquele corpo e mente de mulher!

 Permanece  nela, um  sentimento de dor profundo, que não tem medida, que de mansinho  lhe corroe por dentro a alma.  Mas algo a empurra a continuar, tal como o Sol que nasce  todos os dias e nem sempre brilha radioso,  mas  não deixa de iluminar o dia....


em brilhar...
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sábado, 29 de maio de 2010

A avó velha

Tenho saudades dela, de tudo o que me fazia e ainda hoje que a recordo, me faz sentir.

Lembro-me dela com ternura.

É como se estivesse aqui comigo, a fazer uma das coisas, que já com quase noventa anos fazia com toda a mestria. Tirar os borbotes e pontear as meias do genro e do neto, que rapidamente voltavam a ficar como novas, depois do tratamento que lhes dava. Fazia-o na perfeição, sem óculos, seguindo sempre o mesmo ritual.
Nunca foi mulher para estar sem fazer nada, quando não tinha que fazer inventava, que dentro de casa , uma mulher tem sempre o que fazer, basta querer, era o que ela dizia.
É verdade que não me lembro dela a dar gargalhadas ou rir muito ou pouco. Também não me recordo de a ver chorar. Sofria com certeza, mas com resignação. Devia aceitar tudo como sendo o seu destino, porque não reclamava de nada.
Não perdia tempo a falar com ninguém, mesmo com as vizinhas só o suficiente, mas todas a adoravam.

Nunca me recordo de a ver pela rua a conversar com alguém, de ir á mercearia, ao padeiro, ou até ir á missa ao domingo. Não me parece que alguma vez tivesse ido um funeral, não depois que eu a conheci. Recordo-me sempre de a ver em casa, ou no quintal.
Um dia disse-me, com muita convicção, que essa história da Senhora de Fátima não era verdade, era tudo inventado, isso sim. Não sabia, que iam as pessoas todas fazer em excursões ou a pé a essa terra, e não acreditava nada, que Senhora nenhuma de branco tivesse aparecido, por cima de arvore nenhuma, … as pessoas não tinham era mais que fazer … penso que foi a conversa mais séria que tivemos.

Nunca a ouvi dizer mal de ninguém, nem levantar a voz por nada…,mas para mim que era miúda e andava na catequese e até já tinha ido a Fátima, esse assunto era sagrado, e o que ela disse, inquietou-me.

Deixei-a falar. Calei-me. Não sabia como lhe dizer que estava errada. Pelo menos para mim que sou crente e acredito. De qualquer forma pensei que Deus lhe perdoaria pelo que estava a dizer, porque era uma boa mulher e não sabia o que dizia , e isso tranquilizou-me. Nunca mais falamos desse assunto. Afinal o nome dela era Maria como o da Senhora de Fátima…

Não sei o que pensaria da ida do homem à lua, mas nessa altura já muito velha, não assimilou a magnitude desse grandioso feito. Com certeza teria achado impossível e uma noticia inventada…mais uma.

Sempre a conheci viúva. Uma vida difícil para criar os filhos, cada um com uma história mais complicada que o outro , mas trabalhou sempre sem pensar nela, sem reclamar.

Excepção feita quando trabalhou no Brasil e por lá lhe quiseram ficar com a sua filha( minha avó). Aí sem dizer nada , pegou na filha, que era dela e não para dar ou vender por dinheiro algum, e voltou para o seu país, que é o meu, no primeiro barco a vapor em que conseguiu passagem. Abençoada a hora que o fez, caso contrário não estaria eu agora aqui.

Para ela ,todos os dias eram dias de trabalho. Recordo-me perfeitamente de a ver, já mais no final da velhice, simplesmente a mudar as coisas de lugar em cima da mesa e a deixá-las praticamente como estavam. Tinha que estar sempre ocupada .
As suas mãos velhas e enrugadas, com os dedos repletos de artroses, eram apesar dos trabalhos feitos, macias, como tudo nela.
Os gestos, a voz, por mais que fizesse ou dissesse nunca se alteravam.
Para ela estava sempre tudo bem.
Eu podia entrar em casa e dar a volta a tudo, que ela não reclamava nunca. “Então nina , tudo bem lá em casa”
Estava muitas vezes ao tanque á beira do poço. Lavar roupa, era o que mais gostava de fazer. Esta minha avó, que era minha bisavó, era lavadeira. Foi este trabalho que a levou ao Brasil, ainda com os filhos pequenos para arranjar vida , o que não conseguiu, mas isso é outra história.

Que saudades tenho desta avó, a quem sempre chamei “avó velha” por ser mais velha que as outras avós, que além de lavadeira foi cozinheira, arrumadeira, costureira, companheira, e muito paciente para todos nós, os filhos, netos, bisnetos, genros, toda a família… que vi sempre vestida de preto, com o cabelo branco penteado num totó, com as mãos e a voz muito macias. Vi a avó velha envelhecer, sempre a trabalhar e a ficar cada vez mais pequenina, mas nunca a vi zangar…
Que saudades tenho de ser neta, de entrar de rompante na cozinha dar mil beijos na avó, comer da sopa de feijão que ela fazia e ficar de barriga cheia todo o dia.
Engraçado, não queria voltar a ser filha, mas sim neta, e adormecer no regaço da minha avó velha, com a cabeça encostado no seu peito fofo e macio… e ficar ali deitada no seu colo e ao acordar fazer todas as coisas que deixei incompletas…..mil beijos avó velha.

Amigo

Falei com ele e foi como se limpasse a agua suja de um grande jarro. A agua ficou turva, mas o lixo do cimo aparentemente saiu. Disse o que sentia naquela hora , ou quase tudo, que tudo seria muito para quem tão jovem não tinha sacrificar com os meus delírios.

Também há coisas que não adianta mais dizer, pensar ou repetir. Temos mais é que aprender a contornar a existência dos dias e maus momentos, situações mal resolvidas na vida um dia, e tentar sobreviver a elas, o que é deveras difícil tão ou mais, que sobreviver ao maior terramoto ou catástrofe de sempre. Todos os dias continuo a tentar sobreviver …

Por muito que se queira nada se repete nunca, nem de igual forma. Muitas vezes nada se repete. Seria extraordinário repetir factos, revivê-los, refaze-los como se fossem cálculos matemáticos e conseguir encontrar o resultado certo para cada um deles. Repeti-los continuamente, até obter o resultado desejado e aí sim, dar esse acontecimento por terminado e só aí, o considerarmos inserido, no conjunto de fenómenos que diariamente vão construindo a nossa história de vida.

Quantas contas matemáticas teríamos de fazer, para colocarmos tudo segundo a nossa vontade. Deixei por resolver muita expressão numérica , muita equação e até mesmo muita conta de somar… coisas simples e complicadas…

Todos nós teríamos com certeza histórias de vida fabulosas , ou quem sabe talvez não…

Ele ainda muito jovem, homem educado, ouviu-me atentamente, com o seu rosto miúdo parecia que me entendia tudo, ele que não tinha nada que me dar atenção .

Dançar faz-me bem, sinto-me viva e livre, esqueço o resto, faz-me pensar que ainda posso tudo, que se quiser posso viver tudo, o que pode ser socialmente correcto e normal ou não, para uma pessoa da minha idade, pois sou educada e não gosto de parecer ridícula.

Sinto a falta de força. Sinto o peso das pernas . Sinto falta de agilidade. Sinto cansaço. Claro que não tenho a graciosidade e leveza dos vinte anos, nem dos trinta, mas que importa?  Não vou desistir. Vou continuar a dançar, mesmo que no dia a seguir me doa tudo,  fique de cama e morra, tenha que estar deitada e tomar seja o que for para aliviar a dor, mas não vou parar. Antes morrer por dançar, que por estar inerte, parada..

Já decidi, este fenómeno que acontece neste momento na minha vida vou resolvê-lo como se fosse uma operação matemática, e vou deixá-lo perfeitamente resolvido. Tenho que repetir tantas vezes quantas as necessárias até obter o resultado pretendido. Não vou parar, até encontrar o resultado final.

Um dia os meus netos dirão, “a minha avó dançava muito bem “ ritmos latinos”, e sorrirão de alegria..

Obrigada professor P.P. pela  paciência que tem, em me ensinar e apoiar.

sábado, 22 de maio de 2010

Quase




- Hoje não estou bem , diz o Pequenino,

- Então? diz o grandão

- Dói-me a cabeça

- A mim também, diz o Grandão

- Coitado do meu amigo, pensa o pequenino .




...

... Esta imagem  dá tanto que pensar que não lhe resisti!




Estar só..

 Sinto-me melhor quando estou só e interrogo-me porque esta necessidade do silêncio, de não ver ninguém, de não falar.
 Se pudesse nem queria sentir nada. Sentir o quê e para quê? Sentir, faz-me mal…
  Não gosto deste calor e o frio já foi embora.
~Este sol aqui é diferente. Seca e queima ao mesmo tempo.
 O calor aqui não me afaga, seca-me por fora e cansa-me a alma…

Estou cansada, não tenho vontades, mas quero viver..., só que não sei como fazer…
Apetece-me dormir mas o sono foi-se embora, e gostava de chorar, como se comesse um chocolate, ou dois, ou mil, mas não tenho lágrimas, e não choro nem como, como se o chocolate me tivesse sido proibido e não houvesse mais chocolate no mercado….

Parece que fiquei sem nada. Despiram-me de tudo. Eles cresceram, foram viver no mundo ridículo que destrói os homens, mas foram, todos vamos…

Aqueles em quem confiei traíram-me, mas não sei quem foi…, levaram tudo.
Os sonhos. As histórias. As noites mal dormidas. As prendas das crianças, dos tios e das avós. Os anéis de noiva, e da mulher já feita, e os fios e brincos e tudo, tudo, que tudo é pouco para descrever o que numa vida se consegue reunir aos poucos com dor, com sacrifício e luta.

Que viver mal amada é difícil e muito pouco….

e os que me deram nome, transformaram-me num ser ridículo e inútil…

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Viajar de avião

Vista da sala de embarque, aquela máquina gigante,é assustadora nas suas dimensões. Pergunto-me sempre como pode uma coisa daquele tamanho, subir no ar, e ficar por lá horas a voar, suportando além do seu, milhares de outros quilos.


Não duvido nem um pouco do engenho e conhecimento cientifico dos “homens”, que sabiamente conseguiram com enorme competência e coragem, pôr em prática todas as leis que já  existentes ou inventadas na altura, permitiram ao homem ter asas e voar…

Eu, reles ser humano, inculta e mísera no saber, simplesmente contemplo e admiro esse acto heróico e de extrema competência, e limito-me, a ser cobarde e ter medo, muito medo de subir dentro daquelas maquinas de metal, e voar livremente...

A ideia de entrar no avião, para mim já é uma tortura, mas o medo invade-me continuamente, á medida que me aproximo  do dia, da hora, do instante,  do segundo em que coloco o primeiro pé no avião.

E quando, sem haver manga que me atire, para dentro do aparelho, quase de surpresa, e obrigatóriamente  faço a escalada para aquela montanha, subindo todos os  degraus, lentamente um a um, até á entrada do enorme táxi aéreo, bem lá do cimo, tomo consciência da gigantesca máquina voadora, e olhando o chão que me começa a fugir debaixo dos pés, o meu receio não tem tamanho e eu sinto-me um ser absolutamente indefeso, minusculo….,irremediavelmente perdido.

“Vai tudo correr bem se Deus quiser”, é sempre o que penso. E rezo seriamente, a todos os Santos que me acompanhem, a mim e a toda aquela gente que sobe comigo naquele voo, até ás estradas celestiais

Uma sala comprida, com tantas filas de cadeiras coladas umas ás outras quantas o fabricante lá conseguiu meter, separadas por estreitos e compridos corredores, as casas de banho pequeninas, só para usar no essencial, e por cima das cadeiras, porta bagagens, sempre a abarrotar de sacos e pequenas malas. A visão destes compartimentos herméticos onde vou ter que permanecer sem poder arredar pé, tiram-me a vontade de pensar, de relaxar, de falar ou fazer seja o que for…Ali dentro sou uma simples e minúscula formiga, onde o ar que respiro é verdadeiramente condicionado.

Depois de sentada e cinto de segurança colocado, faço tudo menos ligar muita importância ás informações da tripulação. Só me importam os seus rostos, que me interessa que sorriam sempre...Tento descontrair, o que se torna sempre uma tarefa árdua.
 Rezo ao meu Deus, e tento pensar  em tudo, menos que a minha vida, no tempo se segue, se resume a ficar confinada, encurralada naquele espaço diminuto, onde mal me posso movimentar.
Com toda a aquela gente, a quilómetros de altura, tenho a sensação de que a todo o momento me vão sair as vísceras todas por algures, vou ficar surda, ou algo pior me vai acontecer. É impressionante como os segundos ali me parecem horas...

Parece-me a mim, que ninguém vai ali mais aflito que eu. Gostaria de ser criança e como elas gritar, berrar se possivel, de pulmões abertos, o tempo todo, até que cansada conseguisse adormecer. Coitadas delas, que aliviam o seu mal estar fazendo crises de choro impressionante, incomodando toda a gente, sem ninguém as entender. Crianças não deviam viajar de avião!

  Os passageiros de rostos  conturbados e corpos contorcidos, das voltas  e reviravoltas dadas nos assentos, para conseguir passar o  tempo que ali abunda, no final da viagem parecem bonecos de trapo tirados de uma  qualquer arca, e agora reboscados para entreteter crianças em tempo de guerra. 

Ressalva para meia dúzia de pessoas felizardas, em duzentas,  instaladas em compartimento executivo, que pagando mais caro, sobem  por outra porta, e para além dela,  lhes é reservado mais espaço, mais conforto, que se aquilo cair o trambolhão e desgraça é igual...

Mesmo assim no final da viagem, sobretudo se ela é longa, todos os passageiros ficam mal encarados e parecendo alguns, como eu, saidos de um filme de terror.

Não, tenho a certeza que nunca vou conseguir perder o medo de voar!

E juro que não entendo, como podem haver pessoas com o fetiche de fazer sexo a voar ...
 Afinal é tudo tão apertado, tão escasso, tão sinceramente desumano, que não sei como encontram vontade e prazer, em fazer isso tão longe da terra, ou será que a eles, é mesmo isso que os incentiva a não ter medo e continuar a voar …, será que também eu deveria experimentar…?

terça-feira, 18 de maio de 2010

copacabana

Dez anos tinham passado, mas vista dali a cidade maravilhosa , mantinha o seu explendor, como que pintada pela mão de um pintor, todo a  energia e majestade  possiveis, numa mistura de montanha rochosa, cimento em betão armado e mar.

Na avenida marginal, o enorme circulo de areia recebendo no colo o oceano, mantinha o mesmo ar imponente, aquém e além pinceladas de chapéus de sol, pontos amarelos distribuídos ao acaso no areal, definiam melhor ainda o que a natureza ali engrandeceu e desenhou com perfeição. Os homens na praia, pequenas formigas coloridas mesclavam o areal, numa união singular de areia, mar e sol, transformando aquele quadro no mais belo do mundo.

Vistos dali, os meninos de rua, outros contudo, mas  da mesma forma descalços e meio nus, pareciam felizes e libertos, brincando sem receio nem constrangimento, em frente dos carros parados nos semáforos, com laranjas feitas bolas, mantendo a avenida num frenesim constante…

 Isabel estava fascinada, com todas aquelas belezas  que  tinha o previlégio de revisitar . Aquele era o lugar mais admirável, que alguma vez os seus olhos tinham vistos.

O Pão de Açúcar, obra construída por Deus, tamanha a grandiosidade natural, e depois acabada e mantida pelos homens, e o Cristo Redentor abraçando aquela cidade, aquele povo e nele todo o mundo, completavam o cenário mais extraordinário que alguma vez Isabel voltará a ver. Voltar a ver tudo isto era quase irreal…

Depois de tantos anos, estar ali de novo era mágico. O mesmo cheiro a calor húmido, o seu corpo lambido pelo ar quente, a visão de que o sol se põe tão cedo do lado oposto, e olhando o outro lado, continuando a mirar o Redentor, o prédio, que outrora lhe dera guarida numa posição majestosa,  em frente ao mar, dando permanebtemente conta de tudo o que ali se passava. Tudo parecia exactamente igual, e Isabel quase acreditou que ali o tempo tinha parado.

Naquele piso do hotel, olhar todo aquele cenário da cidade, era magnifico e  tão lindo, que Isabel acreditou  que estava a sonhar. Esqueceu os meninos, porque essa visão a inquietava, e imaginou que o mundo podia começar e findar ali, sem mais nada...

 Os namorados  passeando pela praia ou no calçadão, consumiam-se em beijos lânguidos, ternos e demorados, e as senhoras passeavam os seus cachorros perfeitamente tosquiados e aprumados, como se fossem reis do mundo.

 Homens e mulheres de todas as idades, a pé ou de bicicleta, exercitavam  árduamente os seus corpos  em exercícios lúdicos e frenéticos, queimando a pele ao sol e destilando suor em demasía, colorindo com movimentos permanentes, o passeio calcetado á portuguesa, que contorna o areal.

 Daquele andar da Avenida de Copacabana , tudo parecia estar perfeitamente organizado e em conformidade com a natureza. Por segundos Isabel pensou que a felicidade existe, que os homens sorriem, e que não há mais meninos sós, nus e abandonados. Que não há fome, nem guerras, nem nada…

Se ela pudesse queria viver sempre ali, ali no alto, daquele sitio onde tudo parecia como outrora, belo e  perfeito…, e esquecer tudo o resto.

Isabel fechou os olhos e pensou que não queria mais acordar…

E ficou absorvendo tudo aquilo , até que a luz do sol se deitou…

segunda-feira, 17 de maio de 2010

o embarque

Quando faço férias e viajo de avião, a melhor fase para mim, é mesmo o fazer  das malas.
 Invento, sonho, imagino, sobre o que vai acontecer e tudo o que vou precisar nesses lugares diferentes, o que vou fazer, as gentes novas que vou conhecer, tudo com os pés bem assentes no chão. Vou enchendo as malas com  o que imagino vir ou não a precisar, e muitos dias á noite ao deitar, pensando nestas banalidades, o sono vence-me e eu acabo por relaxar e dormir em paz.
Começo nestes afazeres, no mínimo uma semana antes da partida, quase tantos dias como os que tenho de férias…
Com tudo o que lhes enfio dentro, as malas parecem chumbo, e eu que não sou abonada em nada especial, com as minhas parcas forças, nem as consigo mover. Ficam abertas no chão, escancaradas, para melhor as poder rechear, até à hora de alguém as fechar.
É sempre preciso a força gigante de um homem, para as carregar e chegar com elas á fila do check-in, onde, espero sempre não ter que pagar por excesso de bagagem.

Numa mochila ao ombro, carrego coisas diversas, muito mais que o necessário, mas que em alguma altura posso vir a precisar. Parece que vou mudar de país,  viver uma aventura num país distante ou que vou hibernar e estar meses escondida algures, onde ainda não chegou a civilização.

Levo ainda o Bobby de mão, repleto de coisas, cumprindo as normas impostas, mas de tal forma recheado, que se for aberto, dificilmente o consigo reorganizar.

Tenho ar de tudo, menos de quem vai de férias para algum lugar exótico, diferente…,vendo-me ao espelho nesta hora, tenho ar de quem vai para o calaboiço…

Nessa fila enorme de gente, que parece toda irradiar felicidade, começa o meu martírio secreto, que há muito tempo me habita a mente. É que nessa hora é definitivo, não posso recuar, e eu tenho muito medo de voar…

O check-in está feito, as malas despachadas, já tenho lugar certo. As horas seguintes são para aguardar a hora de entrada no avião.

Será porventura, que haverá no meio daquela gente toda, alguém aflita como eu? Todos me parecem calmos e relaxados.

Fico branca, sem fome, nem vontade de falar, e acabo sempre por me perguntar porque me meto nelas, se naquelas horas perco a vontade de tudo, e mal consigo respirar.

Sendo eu assim com medo de subir no ar, porque preparo tudo e não desisto nunca de fazer férias daquelas , de voar ?

Levo dias a juntar tudo, a planear, a encher malas de mil coisas, e na hora do embarque, sofro como se o mundo de um momento para o outro pudesse acabar…

Devia ficar em casa, fazer malas e mais nada …., deixar a roupa amarrotar e depois de alguns dias repunha tudo nos seus lugares.

Ficaria tudo mais barato, evitava taquicardias e crises de ansiedade.

Um bom livro havia de me mostrar tal qual, os ludares que vou visitar…
 Mas não posso desistir, tenho sempre que tentar, e quando vejo alguém mais velho que eu, com ar calmo e tranquilo, penso que tal como ele um dia, vou conseguir superar e deixar as malas leves, só com o essencial...

…. e ainda há quem diga que é bom viajar….

Depende…,do ponto de vista...

domingo, 16 de maio de 2010

Viajar sem malas

É muito fácil dizer que se gosta muito de viajar .

Eu também gosto. Conhecer novas gentes,  sentir outros climas, outros costumes. Mas desde que marco a viagem até que regresso e tudo volte ao normal, incluindo eu própria, é um inferno.

O retorno ao lugar certo, de todas as miudezas que consigo juntar, para que nada me falte por terras longínquas, ou não, que me proponho visitar, demora mais que a maioria das viagens que já fiz na vida.

Alguns artigos, no regresso nunca mais encontram poiso certo.

Desde o comprimido para qualquer dor ou enjoo, á pinça para tirar os pêlos que inesteticamente não metem férias e vão aparecendo sempre onde menos são desejados, aos lenços de papel, protector solar, livros bem ou mal escolhidos, corta unhas ou linhas de coser, não vá um botão cair e ficar nesses lugares, distantes ou não, mas que não são a casa do botão, tudo arrumo dentro de sacos e saquitos de forma tão organizada, que ultimamente se torna difícil, encontrar seja o que for, em caso de necessidade, pelo que junto uma lista que tenta recordar-me de tudo, mas que pode andar perdida algures durante todas as férias.

Não falta nunca toda a roupa, calçado e acessórios, pensados até á exaustão, para que longe de casa não me falte nada para me sentir bem. Isto é o que penso, eu que me conheço e sei que ainda não aprendi a estar bem em lado nenhum.

Levo sapatos e chinelos, para todas as ocasiões, calças, vestidos, tops e calções e muitos bikinis, se as férias forem no verão, porque conforme o dia gosto de escolher a cor que me assenta melhor á disposição. Não faltam agasalhos, pensados para algum frio súbito, as meias, cuecas e soutiens contados para o tempo certo, e quem sabe uma roupa especial, que por vezes as noites são de festa.

Penso sempre em reduzir, faço listas e mais listas e vou cortando e acrescentando, de forma a conseguir levar o menos de coisas possível, mas até agora, só deixei de meter na mala o chapéu de chuva, pois com a proliferação dos chineses por todo o mundo, já me convenci que em qualquer lugar posso comprar um a pouco custo.

Viajar é relaxante, cultural, mas sai caro, e a pensar nas malas, muito mais esgotante que trabalhar!

sábado, 15 de maio de 2010

A nova Cinderela...

Cinderela, foi assim que ficou conhecida a Gata Borralheira, depois daquela noite no baile, em que se apresentou deslumbrante de beleza e com porte e atitude de rainha.

O jovem com quem costumava falar de fugida, quando cuidava do jardim, naquela noite jurou-lhe amor e fidelidade eternas. Há muito que apreciava a sua humildade e delicadeza e a partir desse dia ficaram juntos para sempre. Lisonjeada  e apreciada por todos, tinha então o que merecia, um amor calmo e forte, e uma nova família pronta para a acolher como ela merecia.

Já noite adentro, quando abandonou a festa, cansada de tanto bailar, num enorme tropeção que deu em algo, perdeu um dos sapatos.  Por mais que todos o tivessem procurado, não mais apareceu.  Onde se teria metido nunca mais se soube.Terá saltado para o lago do jardim onde ninguém naquela altura procurou,

Os sapatos eram da  sua amiga Branca de Neve, que sem qualquer problema se prontificou a emprestá-los á amiga. Combinavam lindamente com o vestido que lhe tinham oferecido, e  a Cinderela agora não tinha como justificar o seu desaparecimento. Eram de puro cristal, brilhantes como o sol, únicos e belos como nenhuns outros.

Cheia de tristeza, e com o apoio do noivo , justificou como pode, aquele desaparecimento, lamentando o sucedido. Branca de Neve entendeu. A amiga não tinha culpa de nada. Algo a fez tropeçar e daí o sapato terá saltado para bem longe e  como era de cristal, já estaria algures feito em mil pedaços, com certeza. Mas o que importava era a felicidade da amiga.
E daí, para que queria ela os sapatos? Assim resolveu guardar o outro como recordação, e esquecer o assunto.

Cinderela não tinha a culpa e como castigo, Branca fez-lhe jurar que iria lutar para ser eternamente feliz daí em diante.

Afinal eram só uns sapatos que ela agora nem usava, e o que importava era que Cinderela agora estava feliz, e que na casa da madrasta todas tinham reconhecido o mal que lhe haviam feito, proibindo-a de viver como uma jovem como as outras. Também elas tinham agora o seu castigo. Trabalhar para se sustentarem.

Branca de Neve continuava entretida com as brincadeiras e atitudes, muitas vezes disparatadas dos Anõezinhos, ajudava a avó, e os amigos e vizinhos que precisavam, conversava muito com o Capuchinho Vermelho e como já iam ficando crescidas, conversavam ambas dos moços bonitos que costumavam falar com elas ás escondidas, como se isso fosse coisa proibida.

Tinham conhecido uma jovem bela como elas, que andava sempre feliz. A vida para ela eram sonhos. Punha sempre tanta força nas coisas que pretendia realizar, que normalmente conseguia resolver todas as situações que enfrentava. Alice, assim se chamava conhecia todos os animais da floresta e nenhum lhe metia medo. Viviam em plena harmonia, e á volta dela tudo estava sempre tão perfeito, que por isso era conhecida como Alice no País das Maravilhas. Ao seu lado tudo estava bem, tranquilo e feliz , em perfeito equilíbrio. Os animais, as plantas, os rios e os mares tudo estava em pleno equilíbrio. O sol não impedia a chuva de cair e nos dias de sol ele brilhava sem nuvens a a encobrir o seu brilho...

O ideal seria que todo o mundo fosse como aquele seu  maravilhoso mundo, envolvido numa bola de cristal, onde nada de mal  acontecia, mas isso daria outras histórias, que não cabem nesta história.

Mas de tanto conversar com Alice, Branca de Neve entendeu, que se desejasse com muita força, um dia com toda a certeza iria conhecer  um certo moço que encontrara um dia a cavalgar no bosque e lhe oferecera uma flor. Quem sabe ele lhe falasse e gostasse dela . Desejava  isso com tanta força  que por vezes até parecia, já ter acontecido.

Certo dia porém, quando se preparava mais uma vez para levar a merenda á avozinha, bateu á porta de Branca e dos sete Anões , um jovem formoso e bem parecido. Os anõezinhos  quando viram o jovem, ficaram num reboliço. Parece que adivinhavam que um dia a sua Branca de Neve iria embora, com um jovem como aquele. Fizeram o que puderam para dizer que não conheciam nenhuma jovem ali ,mas Branca de Neve apareceu finalmente.

O jovem, de linhagem nobre, durante uma caçada, tinha quase caído do seu cavalo, porque ambos foram encandeados por uma luz extraordinariamente brilhante que saía de um canto do lago, onde àquela hora o sol incidia como nunca. Parecia mesmo querer mostrar-lhes qualquer coisa, e ambos encandeados olharam o brilho com tanta insistência  que o cavalo parou e o jovem foi ver o que era.
 Um sapato, nada mais que um sapato!
 Mas um sapato digno de uma rainha, mais lindo do que algum dia já vira algum.

Não foi difícil saber de quem era aquele sapato. Na altura quando desaparecera, todos tinham andado á sua procura sabendo que ele pertencia a Branca de Neve. Rápidamente o informaram quem era a dona de tão delicado sapato.

Quando Branca  apareceu á porta e os olhares de ambos se cruzaram de imediato souberam que aquele era um momento esperado por ambos á muito tempo. Era como se toda a vida se tivessem conhecido.
Alice tinha que saber, foi o que pensou de imediato!
Guardou o sapato junto do outro, e sentiu que o melhor que lhe feito era te-los emprestado á amiga. Sem isso nunca teria encontrado o seu amor, ou talvez sim, mas o importante é que estava radiante. O jovem estava fascinado, com a beleza, candura e singeleza daquela jovem. A histórias das famílias não interessam para aqui, pois todos a seu tempo ficaram felizes com a sua união. Nesta história   onde tudo é um sonho, um fazer de conta...,tudo se passa como nas nossas vidas...

Ali perante os anõezinhos  o jovem fez promessas e juras de amor eterno a Branca de Neve. Os Anõezinhos e a avózinha deles, naquela altura sentiam triteza e alegria conjuntamente. Sabiam que Branca ia embora. Haviam de se habituar a ficar sem Branca perto deles, ainda mais, porque não iriam faltar as visitas e todos ficariam satisfeitos. Desde que ela vivia com eles  que todos sabiam que um dia ela  teria que seguir o seu percurso, encontrar um outro rumo, a sua verdadeira casa...
   Os dois apaixonados  foram então visitar Alice. Esta recebeu-os  com muita alegria numa sala linda, com flores por todo o lado, muita luz e pássaros a chilrear, e numa parede um grande espelho bordado de pequenas flores verdes e amarelas. Quando ambos se aproximaram dele, de mãos  e almas unidas  e o olharam ao fundo, o que viram foi um mundo de histórias  a desenrolar sem parar, onde as suas vida decorriam plenas de luz e felicidade. Aquém além, algumas trovoadas e chuvas, mas nada que pudesse assustá-los ou fazê-los recuar.

Aquilo era verdade, estava a acontecer, eles iam ser muito felizes.

Milhares e milhares de histórias podiam ser descritas, vistas naquele espelho. Tudo dependia deles, da sua força de vontade, do seu amor, da coragem que poriam daí em diante em todas as coisas que fariam e da forma como o fariam.

Alice continuou sempre a inspirar as pessoas a não desistirem de desistirem dos seus sonhos. Em frente do seu espelho, a vontade e força de cada um, não se pode desistir nunca..
A vida pode ser um pouco assim, o resultado de uma vontade muito forte de querer e lutar pelas coisas que desejamos…, mesmo as impossiveis...

Está sempre tudo á nossa frente, só precisamos querer muito e lutar por esses sonhos … sempre.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

....Lá em cima

 Hoje mais uma vez estou sózinha.
 A noite já  me habita  há muito tempo, e o escuro  lá fora caiu há algumas horas atrás. São exatamente três horas da madrugada...

Os olhos teimam em não fechar e a mente preversa e má, flagela-me com pensamentos ansiosos que me torturam, me consomem , me asfixiam, não me deixam dormir, nem relaxar...

Busquei dentro de mim o que fazer, o que pensar, algo que nesta longa noite me acalmasse, me desse força para não ter medo, e sossegar... além das pilulas coloridas que engulo sem pensar...
....e vi-me aqui !

Pensar em vocês, tem horas que me enche a alma, mas outras como hoje, que me tortura.
A vossa ausência assusta-me por ser  muda. Machuca-me porque é pesada..., e dura!

Lá em cima ainda existem os vossos cheiros, restos das vossas vidas, muitas histórias escondidas, que não conheço, pequenos gestos quietos, que todos os dias se esfumam mais um pouco e desaparecem..

Por onde andam todos? Onde estão? Sairam tão em silêncio e devagar, que não sei se abalaram de vez, se vão voltar, se isto que sinto também vai partir ou vai ficar..
Há pouco, quando não estava bem, onde estavam todos? Chamei-vos  em pensamento, mas deviam estar moucos...

Estou aqui neste meu eterno lugar,  neste meu corpo agitado, mas mesmo quando por momentos me retiro, é aqui que fica o que em mim, sente mais a vossa falta.

Parece que quando retorno, uma nuvem  feita  um  manto negro e  pesado, me envolve e me força a sentir a vossa ausencia com dor e pesar, não porque vos queira prender aqui comigo, não, mas porque sinto saudades das portas a abrir de madrugada...,do calor das vossas vozes, do andar nas escadas...

Quero respirar e não consigo. E quando a tranquilidade me abandona e a  ansiedade  me domima o corpo e  a mente, como ainda  há pouco,  só  consigo pensar em vocês.

Imagino que ainda estão por aí, sinto o ranger das cadeiras, a agua nas torneiras a correr, e como acredito em fadas, sei que  sim que estão por aí, mas ocupados. O meu coração diz-me que será sempre assim, e eu, que até sou forte, para não vos incomodar, resisto aos medos que me invadem, e deixo que o sono me visite, sem no entanto ter vontade de o aceitar...

Se eu gritar, quem vai ouvir? Ninguém. Eu própria estou a ficar surda, por isso, não  que não fosse uma coisa que  gostasse de fazer,  não grito, nem chamo, nem falo, nem choro, nem nada ... , e tento entender tudo.
 E  de um lado para o outro, peço a Deus que a droga engolida faça efeito e olhos se fechem sem  eu contar... 

 O vosso tempo aqui passou depressa, ganhou asas e voou, voou sem parar...
 De mansinho, desfizeram o  ninho e procuraram outros lugares.

E eu, que ainda gosto de brincar, faço de conta que lá em cima estão vocês, agora como outrora, a dormir, a estudar, quem sabe a descansar, cada um no vosso novo espaço, no vosso novo lar....

Afinal é muito fácil imaginar...
Obrigada por  tudo o que me deram e dão, e por serem assim como são...
Obrigada por me deixarem sonhar...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Histórias de encantar

Sempre com o seu vestido imaculadamente limpo e engomado, de mangas coloridas, bem tufadas, aquela menina,  a Branca de Neve, assim lhe chamaram os amigos dadas a sua pureza e frescura, andava sempre muito bem cuidada, pois os seus amigos anõezinhos, nunca deixavam que lhe faltasse nada.

Depois de a terem encontrado e ela ter acordado de um sono profundo, tratavam-na como a uma princesa, como se fosse coisa sua. Roupa e cama lavada e perfumada, a casa num brinco de asseio, o jardim mais que organizado, sempre com novas flores a desabrochar, tudo sempre como nos sonhos de histórias de fadas. A família deles passou a ser a dela. E a dela passou a ser a deles.

A comida na cozinha sempre pronta, que os anõezinhos todos tinham uma missão  defenida e o que melhor cozinhava, todos os dias tinha pronta as refeições e uma suculenta merenda que a menina levava à avozinha deles, agora também dela, que vivia numa casinha do bosque ali ao lado.

Branca de Neve era uma menina feliz como há poucas e o motivo porque vivia ali com aqueles amigos não lhe interessava. Não se lembrava senão de acordar um dia numa cama fofa e tão macia que parecia estar deitada sobre nuvens. Á sua volta aqueles amigos pequeninos, muito risonhos e felizes, fizeram-na sentir tão bem que nem se questionou. Não se lembrava de nada e assim pensou em ficar ali com eles. Aquela era a sua casa. Sentia-se feliz naquele mundo onde todos a amavam e cuidavam com muito zelo, e isso é que lhe importava.

Todos os dias quase sempre á mesma hora Branca partia  a saltitar, com o cestinho da merenda para casa da avozinha que raramente encontrava em casa.
 Mas a menina que conhecia o ronronar do gato da avó, adivinhava pela maneira como este se esfregava nas suas pernas, que mais uma vez a avó devia ter saido numa daquelas escapadelas para ajudar alguém.
Costumava  muito ir a casa daquela madrasta ruim e malvada, que martirizava com trabalho e castigos a filha mais nova.Toda a gente sabia que ela e as duas filhas mais velhas tinham inveja da beleza da mais nova e assim tratavam-na pior que a um escravo que nesta história nem existia. Todos os dias arranjavam forma de a carregar com afazeres e saíam para se divertirem sabe-se lá onde.
Mas a avó de Branca de Neve, manhã cedo depois de tratar das suas coisas ia ajudar a menina, a quem chamavam na vizinhança Gata Borralheira, por nunca sair de volta dos arrumos da casa e das panelas da cozinha. A avó ajudava-a com muita alegria e juntas aprendiam todos os dias coisa novas...

Quando chegava a casa a avozinha agradecia a Deus a neta que tão inesperadamente lhe tinha aparecido na vida, e que tal como os seus netos anõezinhos não lhe deixavam faltar nada.
"Temos que ser todos uns para os outros" ,era o que a avó lhes ensinava e eles entendiam. Sabia que a neta não precisava da sua ajuda, porque os anõezinhos cuidavam dela como de uma rainha, e se algo acontecia corriam logo a avisá-la.

Os sete  Anõezinhos sem excepção, passavam o dia numa roda viva para que tudo estivesse sempre impecável, que de pequeno só tinham o tamanho e no resto eram os maiores e melhores amigos e trabalhadores do mundo, (enfim á excepção do Dorminhoco e do Preguiçoso que se arrastavam sempre para fazer fosse o que fosse mas que no final conseguiam sempre surpreender os irmãos ),e assim  a avó bem se podia dedicar a ajudar quem  mais precisava mais dela, vivendo todos em plena harmonia.

Um dia quando ia a caminho do bosque para casa da avó, Branca encontrou uma menina  como ela, que cantarolava feliz e com quem falou . Também ela ia levar um cestinho com frutas e doces que a mãe tinha preparado para a avó, mas distraída com a cantilena tinha-se perdido no caminho, e já estava um pouco assustada.

_”Hei, menina, de  vestido vermelho tão bonito, assim a cantar distraida, donde vens, não te conheço destes caminhos. Com essa cantilena podes chamar a atenção de lobos  ou algum ladrão, que esfomeados te comam o que levas no cesto, que pelo cheiro deve ser gostoso. Vem comigo que juntas, com os meus pequenos amigos depressa encontraremos  a casa da tua avó”

A menina de vestido vermelho, que também tinha uma capa com um capuchinho, ficou encantada com os seus novos amigos, pois na verdade apesar das cantorias já se sentia meio confusa. Todos juntos lá foram bosque adentro e mais esfoladela daqui , mais estorcegão dacolá, caminharam todos á procura da casa da avó, o que não foi difícil de conseguir com a perspicácia dos anões.

Esfalfados e doridos do percurso, mas todos juntos com a ajuda da avó do Capuchinho Vermelho, a quem entregaram a merenda e que ficou muito feliz por os ver, depressa se organizaram,  se puseram  em ordem , roupas e sapatos limpos, e num esfregar de olhos ficaram alinhados. Andavam nestes arranjos, quando ouviram ao longe um grunhir que parecia de lobo.

A avó avisou-os logo que era mesmo um lobo. Andava por ali a rondar-lhe a casa á tanto tempo que ela até  estava para avisar a neta para não voltar a visitá-la, pois tinha medo do que lhe poderia acontecer.

Os anões pensaram logo em montar um estratagema de forma a assustá-lo, que o malvado  não mais voltaria a passar por ali enquanto se lembrasse.

Assim, encavalitados  um em cima dos ombros do outro, formaram uma torre  com rostos á janela a fazer caretas horrendas. Cobertos com lençóis da avó deixando de fora só os rostos, entoando uma sinfonia de gritos e lamentos que se ouvia a quilómetros, mal o lobo se aproximou e viu  tal" bicho" fez marcha atrás e fugiu de rabo entre as pernas como um cordeiro assustado.

A avó e as meninas riram que se fartaram, mas eram horas de voltar a casa, e depois das despedidas  e dos conselhos da avó, puseram-se a caminho.

Desta vez  o Capuchinho Vermelho garantiu que nunca mais se ia enganar no caminho, porque afinal só se tinha perdido por falta de atenção e  não ter seguido os conselhos da mãe. Tinha-se posto ás voltas pelo bosque pensando que estava a escolher um percurso mais curto, e com a cantilena nem dera conta que se estava a afastar. Mas de facto, tal qual o Espertalhão comentou, se não fora ela perder-se nunca se tinham conhecido e nunca poderiam ter ficado amigos, além de que tinham conseguido afastar para sempre o lobo do bosque.

Bocejando sem parar de tanto cansaço Preguiçoso concordou, e com o Dorminhoco ao colo todos entraram para casa e disseram um forte e alegre até breve á menina do Capuchinho.

Branca estava cansada mas feliz. Cada dia tinha mais amigos e irradiava de felicidade por conseguir ajudá-los.

No dia seguinte tinha que ajudar a acabar um vestido de baile que a avozinha e a madrinha Fada da Gata Borralheira, lhe iam oferecer de surpresa, para ela levar a um baile onde as irmãs e a madrasta iam e não a queriam levar. o vestido estava um sonho de beleza só faltando mesmo os retoques finais.
A Gata Borralheira nem sonhava, mas ela iria ser a jovem mais bonita e encantadora do baile, e o jovem que muitas vezes conversava com ela ao muro do jardim, quando cuidava das flores, sem se importar com os seus pobres trajes, pois a ele importava-lhe mais a beleza que sentia nas suas palavras e atitudes,  ficaria tão fascinado com ela, que não resistiria aos seus encantos e iria levá-la com ele para sua casa, para viverem felizes para sempre.

Branca de Neve sabia  tudo isto, porque a avó e a Fada madrinha lhe contaram, mas mantinha segredo como tinha sido combinado. Era uma surpresa que queriam fazer á Cinderela, por todos os sacrifícios e martirios que  desde pequenina passava com as irmãs e madrasta, que a partir dessa noite não teriam mais ninguém que as servisse.
As  histórias podemos contá-las como entendermos, mesmo que seja ás avessas, mas têm  de ser histórias  de encantar, que histórias de encantar não acabam nunca...,e esta ainda está a começar.

domingo, 9 de maio de 2010

Como uma flor

Queria ser uma flor,
 não de nome, mas uma flor verdadeira.

...uma flor qualquer, vulgar, sem cor definida, fresca e singela.

...uma flor do monte ou do campo ou de um qualquer paradeiro.

Mas uma flor a sério, com caule e pétalas, com pólen amarelo mesmo sem cheiro.

Uma flor singela, tão simples que ao passar ninguém reparasse nela,

Mas forte e altiva que ao ser cortada ou pisada

Permanecesse sempre inteira…

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Breezes 2010

Queria guardar para sempre, ocupando todo o espaço da  minha curta memória, os jardins imensamente verdes e delineados, enfeitados por flores bem coloridas, a sombra do verde das palmeiras e coqueiros, o chilrear dos pássaros que livremente poisavam ali e acolá, esvoaçando livremente, o cheiro intenso a frutos tropicais naturalmente amadurecidos, a terra quente, vermelha e molhada, que a chuva, se não chega de dia de noite não tarda, o calor do sol quente e húmido, pois que a chuva permanece com ele lado a lado.

E o mar infinitamente azul e calmo, e quente, capaz de nos tranquilizar o corpo e a alma, despertando todos os sentidos …, o mar onde o sol todos os dias nasce em vez de se deitar.

Sentada novamente ali, tudo parecia ter-se eternizado. Nada parecia ter mudado apesar do tempo passado. Ali nada fora destruido ou inventado.

Tudo continuava igual ao que vira outrora. Ao contrário de mim que todos os dias morro devagar, para depois acordar....

Nada poderia acontecer que alterasse tudo aquilo que os meus sentidos pressentiam.
O riso das pessoas simples e humildes, que arrumavam meticulosa e exageradamente todos os dias, cada coisa exactamente no seu lugar, no mesmo lugar que já o era outrora. Que conversavam  com calma no seu português cantado, envergando  trajes abafados do trabalho, e o suor escorrendo pelo corpo, conversas que as dispunham bem, porque sorriam...

Visto assim, parecia mesmo que ali o mundo era perfeito.

Aquela paz e  arrumo entre  pessoas e  natureza, que conjuntamente desfilavam ordeiramente os seus afazeres, deixando o homem  viver, o sol passar, a chuva cair, tudo acontecer, como se todos já soubessem que era assim e não de outra maneira que tudo deveria ser. Isso encantava-me.

Gostaria de ter um acordo ritmado com a natureza, e viver com ela em harmonia …,sem ter que fazer de conta, sem inventar nada.

Sentir as coisas assim era um fascínio.

Inundava-me uma onda de paz e um tal alívio, que por segundos imaginava que o mal não existe …

O meu desejo seria viver ali, todos os dias,  misturada com aquele jeito diferente de ser, com aquela gente e a natureza, assim devagar, ao sabor do tempo e com o tempo a ajeitar-se a mim devagar, que devagar é que se vive ,…

Mas na verdade eu  não sou dali...., e também não sei se era assim que gostava de ser...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O tempo

O tempo não o podemos parar e guardá-lo num saco fechado para mais tarde o podermos soltar e com ele voar,

e de novo o podermos guardar e voltar a soltar,

até que cansados de tanto saltar

caminharmos lado a lado com medo do tempo nunca mais querer andar…

....agarrá-lo por um braço, moê-lo com socos e mandá-lo sentar
poder mandar nele, poder segurá-lo, exigir dele um ir, um ir e voltar…

Mas o tempo não pára, não gira, não voa, não sente, não nada ….

O tempo é  uma fonte velha, com um pingo-pingo sempre a salpicar....,sem forma nem geito de se poder consertar...,até  certo dia deixar de pingar...

A princesa


Ultimamente vejo-te sempre assim. Simples e bela.

Uma princesa, que é sempre assim que eu te vejo mesmo que acordada em plena insónia.
Vestida de rainha, que princesa é pouco, povoas o meu espírito e fazes-me sonhar.

Mais bela que ninguém, és a minha fada, e na mão no lugar da varinha de condão, um ramo de flores, escolhidas uma a uma, pelo aroma e singeleza, irradiam das tuas mãos todo o brilho e luz que o sol pode conter.

Como uma dama de beleza rara, iluminada por Deus, que tu mereces, desces uma escada toda engalanada de flores  discretas de cor e aroma raros. Flores de jasmim, margaridas, rosas e hortenses desfolhadas, e aquém e além laços de seda brancos, apertando sem dor ramos de alecrim e violetas perfumadas, inundam o espaço que percorres  sobre nuvens, passo a passo.

Nos ramos das arvores passarinhos engravatados, chilreiam cantando a felicidade.

Ao fundo, tendo como tecto o céu estrelado, um altar. Um livro grosso e uma vela a cintilar. Tudo símbolos de uma vida a começar.

Muito mais que isto, tudo o que sinto e vejo é um desfilar de belezas raras em sonhos acordada. Sonhos que me encantam, me acalmam e inspiram cada dia.

Que tu mereces mais, que tudo é pouco para quem ama e vive como tu, solta como o vento, como um rio fluido e firme, a deslizar calmamente  de caminho até ao mar…

“Vai ser feliz todos os dias”, são as ordens supremas …

No livro grosso o teu nome e o dele confirmam o veredicto…
Serás sempre o meu luar... Obrigada

Dia da mãe 2010


Ouvir de tão longe a tua voz me sossegou.

Sinto uma constante inquietude que me perturba toda e consome as entranhas. Parece que tudo está constantemente inacabado, que existe sempre algo por fazer…, mas na verdade tudo parece estar perfeitamente realizado.

Pensar não sei o quê, também é ser. Mas que sou eu?

Pensar não sei o quê é existir. Será? Mas as gentes que pensam, morrem por dentro  de  mente seca. Os mortos não pensam. Mas eu, será que morri já?

Hoje não há sol. O luar acabou ainda há pouco.

E não fora o comprimido rosa da caixinha de plástico, meu coração bateria muito mais que um martelinho de cuco. Sorte tem a caixinha que se farta de viajar, cumprindo a sua missão com dignidade. Lá dentro tem sempre o que se busca.

Fingi  para fugir, ainda há pouco, que tudo estava bem e disse pouco, o suficiente para ficar bem e ser correcta. Também sei ser discreta e educada.

Dia de todas as mães. Dia da minha, da tua, dia da Mãe celeste.

Agora que eles se foram, ouvir a tua voz me aquietou. O sol voltou, e espelhou toda a sua luz sobre a piscina e os homens e mulheres de faces bronzeados, recebem nos seus rostos energia para viver mais um dia, aquele dia. O dia da mãe, de todas as mães. O meu dia. O dia em que a tua voz de longe carinhosamente me afagou.
Obrigada

Férias BRASIL 2010

Ausente durante algum tempo, cheguei  de viagem  pronta para recomeçar.
Será?
São tantos os pensamentos de histórias revistas e vividas, que tudo se atropela no consciente, de forma que se torna dificil escrever tanta beleza imensa, ouvida, sentida e tantos segredos encobertos desvendados.

Melhor será pensar que não vou dizer nada e se sentir vontade de beber dessa água, vou fazê-lo devagarinho como se cada gole fosse o ultimo, e a sede não tivesse fim.

Não fora a distância, aqueles lugares seriam por mim eternamente revisitados, não só pela magia e beleza que encerram, mas  principalmente porque lá me sinto outra pessoa.
Mais calma e feliz, muito mais livre, como gostaria de me sentir sempre...,pese embora a saudade que sinto  sempre dos meus amores....

O calor do sol,  o mar tranquilo e morno, o verde das plantas, o cheiro que sai da terra quente e humida, o riso solto das pessoas, tudo lá me faz sentir diferente e me tranquiliza...
 Se eu pudesse ficaria lá eternamente e faria dessa  a minha terra, o meu país, a minha casa, a minha gente...