sexta-feira, 21 de maio de 2010

Viajar de avião

Vista da sala de embarque, aquela máquina gigante,é assustadora nas suas dimensões. Pergunto-me sempre como pode uma coisa daquele tamanho, subir no ar, e ficar por lá horas a voar, suportando além do seu, milhares de outros quilos.


Não duvido nem um pouco do engenho e conhecimento cientifico dos “homens”, que sabiamente conseguiram com enorme competência e coragem, pôr em prática todas as leis que já  existentes ou inventadas na altura, permitiram ao homem ter asas e voar…

Eu, reles ser humano, inculta e mísera no saber, simplesmente contemplo e admiro esse acto heróico e de extrema competência, e limito-me, a ser cobarde e ter medo, muito medo de subir dentro daquelas maquinas de metal, e voar livremente...

A ideia de entrar no avião, para mim já é uma tortura, mas o medo invade-me continuamente, á medida que me aproximo  do dia, da hora, do instante,  do segundo em que coloco o primeiro pé no avião.

E quando, sem haver manga que me atire, para dentro do aparelho, quase de surpresa, e obrigatóriamente  faço a escalada para aquela montanha, subindo todos os  degraus, lentamente um a um, até á entrada do enorme táxi aéreo, bem lá do cimo, tomo consciência da gigantesca máquina voadora, e olhando o chão que me começa a fugir debaixo dos pés, o meu receio não tem tamanho e eu sinto-me um ser absolutamente indefeso, minusculo….,irremediavelmente perdido.

“Vai tudo correr bem se Deus quiser”, é sempre o que penso. E rezo seriamente, a todos os Santos que me acompanhem, a mim e a toda aquela gente que sobe comigo naquele voo, até ás estradas celestiais

Uma sala comprida, com tantas filas de cadeiras coladas umas ás outras quantas o fabricante lá conseguiu meter, separadas por estreitos e compridos corredores, as casas de banho pequeninas, só para usar no essencial, e por cima das cadeiras, porta bagagens, sempre a abarrotar de sacos e pequenas malas. A visão destes compartimentos herméticos onde vou ter que permanecer sem poder arredar pé, tiram-me a vontade de pensar, de relaxar, de falar ou fazer seja o que for…Ali dentro sou uma simples e minúscula formiga, onde o ar que respiro é verdadeiramente condicionado.

Depois de sentada e cinto de segurança colocado, faço tudo menos ligar muita importância ás informações da tripulação. Só me importam os seus rostos, que me interessa que sorriam sempre...Tento descontrair, o que se torna sempre uma tarefa árdua.
 Rezo ao meu Deus, e tento pensar  em tudo, menos que a minha vida, no tempo se segue, se resume a ficar confinada, encurralada naquele espaço diminuto, onde mal me posso movimentar.
Com toda a aquela gente, a quilómetros de altura, tenho a sensação de que a todo o momento me vão sair as vísceras todas por algures, vou ficar surda, ou algo pior me vai acontecer. É impressionante como os segundos ali me parecem horas...

Parece-me a mim, que ninguém vai ali mais aflito que eu. Gostaria de ser criança e como elas gritar, berrar se possivel, de pulmões abertos, o tempo todo, até que cansada conseguisse adormecer. Coitadas delas, que aliviam o seu mal estar fazendo crises de choro impressionante, incomodando toda a gente, sem ninguém as entender. Crianças não deviam viajar de avião!

  Os passageiros de rostos  conturbados e corpos contorcidos, das voltas  e reviravoltas dadas nos assentos, para conseguir passar o  tempo que ali abunda, no final da viagem parecem bonecos de trapo tirados de uma  qualquer arca, e agora reboscados para entreteter crianças em tempo de guerra. 

Ressalva para meia dúzia de pessoas felizardas, em duzentas,  instaladas em compartimento executivo, que pagando mais caro, sobem  por outra porta, e para além dela,  lhes é reservado mais espaço, mais conforto, que se aquilo cair o trambolhão e desgraça é igual...

Mesmo assim no final da viagem, sobretudo se ela é longa, todos os passageiros ficam mal encarados e parecendo alguns, como eu, saidos de um filme de terror.

Não, tenho a certeza que nunca vou conseguir perder o medo de voar!

E juro que não entendo, como podem haver pessoas com o fetiche de fazer sexo a voar ...
 Afinal é tudo tão apertado, tão escasso, tão sinceramente desumano, que não sei como encontram vontade e prazer, em fazer isso tão longe da terra, ou será que a eles, é mesmo isso que os incentiva a não ter medo e continuar a voar …, será que também eu deveria experimentar…?

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