sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Maria vai casar 6

Maria sentia-se feliz como nunca se sentira!
Longe iam os dias em que no seu país, vivendo só na aldeia, todos a olhavam meio de lado, como coisa rara. Vestida de forma singela  e pobre, que de outra forma não podia ser, com o cabelo amarrado, passava despercebida aos rapazes que mais lhe interessavam, que aos outros que a olhavam só por brincadeira, ela não dava a menor importância, apesar de com isso ganhar fama de pretensiosa pelo povo!

Agora estava feliz! Com o seu trabalho com os animais e na quinta, junto do pai, aprendeu e mostrou quanto valor tinha tinha. Todos reconheciam já á sua aplicaçaõ ao trabalho e o neto da Senhora da quinta já não passava sem a visitar inumeras vezes durantes as horas de trebalho!Os encontros repetiam-se. Um dia o mais provável aconteceu, Pierre declarou o seu amor a Maria! Ele gostava dela a sério, como ela sempre tinha sonhado ter alguém na vida a gostar dela. Amor sincero e verdadeiro, sem fingimentos, sem interesses materiais, pois que mais tinha ela? Muito amor em troca para lhe dar, e carinho e uma vida de ternura e fidelidade e mil e outras coisas que o seu coração todos os dias lhe oferecia sem cansaço e com doçura !

Não era nada recente! Foram-se conhecendo gradualmente e sem dar conta, de repente Maria já sabia falar muito bem francês e perceber muito bem tudo o que Pierre dizia, e também o que sentia!

Entendiam-se lindamente, bastava um olhar, um toque, e sabiam de imediato a vontade um do outro!
Durante muito tempo, conversaram o suficiente, primeiro por meio de gestos e meias palavras, porque se entendiam verbalmente menos bem, mas aos poucos foram dizendo um ao outro fluentemente o que pensavam da vida o que queriam dela, o que tinham feito e o que desejavam para o futuro, e chegaram a conclusões maravilhosas!

Ambos tinham gostos, sonhos, desejos muito semelhantes!
Nos mínimos detalhes eram parecidos!

Foi fácil reconhecer que a vontade de um era o desejo do outro. O importante no futuro para ambos, era estarem juntos, e seria isso que iria acontecer! Esse era o grande objectivo das suas vidas! Nunca mais se queriam separar!
Juras de amor, não faltaram nos passeios a cavalo que ambos faziam pela quinta. Os sulcos dos trilhos dos cavalos foram ficando vincados no chão, mas as rugas da avó, a  Senhora da quinta atenuaram-se, porque ao vê-los sair a cavalo, ou sómente a passear, os seus olhos voltaram a sorrir. Estava muito mais feliz, agora que Pierre namorava e ia casar com Maria, que ela tanto gostava. Com ele tinha arrastado para a quinta, mais visitas dos  irmãos e dos pais.
Realmente com Maria a quinta tinha ganho outra vida, estava mais viva, mais alegre, voltara a renascer!
 Desde que saira da aldeia Maria estava diferente!
 Transformara-se numa mulher maravilhosa, e a sua nova morada  estava completamente renovada, repleta de luz e felicidade, parecendo que há muito a esperava!
Maria ia casar, e depois de casada estava combinado, voltaria com Pierre e Fernando, seu pai, á aldeia.

Ela ansiava por todos esses momentos, esperava vive-los a todos com toda a intensidade e muita felicidade, exactamente como sonhou quando era jovem e vivia sozinha na aldeia!
Tinha a certeza que ia ser muito feliz!
Em pouco tempo, depois  de passar anos  de solidão e pobreza, de perder  a  mãe muito cedo, a  avó, trabalha sózinha sem amigos e quando nada o fazia prever o pai que ela não via desde bebé,chama-a para junto dele  em França,  fica noiva, ganha uma avó e claro toda uma família nova, que a acolhe muito bem.

Maria tinha aprendido muitas coisas novas e estava realmente preparada para  uma  vida  diferente ao lado de Pierre!
Ela sabia que tinha direito á felicidade, mas que para isso acontecer teria que lutar!
Estava disposta a travar essa luta e a vencer, e Pierre também. Ambos se consideravam já vencedores!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cheiro a pasteis de nata

Hoje, como ontem, como em muitos outros dias, a alegria não me visitou, nem sequer passou á minha porta!

Assim o meu vocabulário fica mais pobre , o meu sentir o meu querer ainda mais, assim como hei-de eu entender porque tenho de sorrir, ou fazer outras coisas mais ou menos complexas para ser feliz…

O seu vestido preto fosco, tinha circunferências brancas, e ela com o cabelo arranjado , ao contrário do meu, chorava de tristeza a sua viuvez, mas dizia que não, que “ele” queria que ela não chorasse…!

Estava triste, eu sei que ela estava triste, mas cheirava a pasteis de nata, e secou as lágrimas e fez o que “ele” lhe disse…, parou de chorar, e cheia de coragem pôs-se a caminho da dificil tarde que a esperava( a missa de homenagem feita na capela do hospital)!

Eu nunca seria capaz de cheirar a pasteis de nata, muito menos naquelas circunstâncias…!

Ia sair para a missa de aniversário do falecido, havia mais ou menos um mês! Como eu gostava de ser forte como ela, mas como se até o bater do meu coração me assusta?

Eu nunca pararia de chorar, mesmo que “ele” mo pedisse em sonhos, a não ser que ELE, o meu DEUS, me secasse as lágrimas dos olhos e eu chorasse em silêncio para dentro, só com dor, como hoje por vezes faço ….

Porque eu sou fraca, porque não presto, porque sou uma inútil …porque a alegria nunca passa á minha porta, e eu nunca como pasteis de nata…!

sábado, 14 de agosto de 2010

Todos juntos de novo...

  Sei agora, que tudo está diferente!
  Estando juntos,  já não falo brincando ao disparate!
  Não me apetece, algo  me faz conter, e não me deixa ser criança!
  O coração bate mais forte e sinto que todo este tempo quebrou entre nós algo e nada  voltará a ser igual!
  E que pena sinto disso, agora que me dou conta que realmente assim os dias serão realmente diferentes, muito mais frios e distantes. E uma familia quer-se diferente, muito mais unida...

 O sofá  permanecerá estático no canto, mas em vão á sua  espera!
As revistas passarão inevitávelmente de prazo e eu  esquecerei  completamente aquelas tardes em que o seu sorriso inundava toda a casa,  o sol era intenso e brilhava explenderoso!  Agora nada voltará a ser em casa como  era antes, mesmo que venha a ser melhor, mas não daquela forma desprendida e solta.....!
  Assim não gosto...., mas não vejo maneira  de tudo voltar  a ser de outra forma!
  Se bem me conheço, sei que não vou esquecer esta maldade, este desagrado, tamanho desencanto ...!
  Não se tira o que se dá, sem haver uma verdadeira  razão....!

  E  hoje, como ontem, continuo imensamente triste, porque sei que nunca nada mais será como já foi outrora !
  
        
             Também eu mudei....,
             não sei se  vou esquecer,
             e afinal nem há que   perdoar...!

Sessenta dias

 Por teimosia ou seja por que motivo for, não voltou a dizer nada, não voltou a aparecer, não voltou a sentar-se no sofá azul do canto!
 Com ou sem razão levou a sua avante!
 O silêncio passou a ocupar o espaço que ela  costumava preencher,  a casa ficou silenciosa, muito mais nua!
 As revistas que lia e folheava, deixaram de ser muito menos manoseadas e lidas , e ficaram mais pobres à apreciação dos seus conteúdos!

Também elas ficaram demasiado tempo à espera, mas lá permanecem ainda , sem desesperar ao contrário de mim, e calmamente aguardam que ela volte, quem sabe  um dia, e lhes pegue do mesmo jeito, primeiro para as revirar de uma só vez sem muito pormenor, e depois folha a folha atenta a um e outro detalhe, ou a alguma nota que mais a empolgue !


Não sei se é saudade ou se é revolta, se é tristeza, ou se é um sentimento de abandono o que me invade, isto que me corroi por dentro devagar, por ela ter sumido assim da minha vida, mas sei que passados sessenta dias vamos de novo todos estar juntos e isso me incomoda, e não imagino como vou reagir com ela!


 Sinto medo, nervoso, um misto de raiva e de tristeza, uma inquietude que me é estranha e revolta estando em familia.
 Sou uma mulher ansiosa todos sabem, e não sei muito bem o que vou sentir, quando a voltar a olhar, porque nunca o contei a alguns dos presentes e não sei fingir…

Não sei se vou ter como companhia o silêncio, se vou tagarelar!
Fazer de conta que nada aconteceu não me parece muito provável , mas não sei o que fazer, como proceder, estou nervosa …


Agora não posso afirmar nada, não tenho certezas, só uma  cicatriz  me arde, uma dor me ficou  do sucedido, mas que ainda me faz chorar!
A saudade dos seus olhos verdes, a ausência do seu sorriso, a frescura da sua presença….,ela não devia tê-lo feito assim!

A sua ausência faz-me falta, magoou-me, machucou-me, com ou sem razão ajudou a destruir-me mais um pouco, e agora não sei, se a revolta que sinto me apetece deixar que olhe para ela como antes.

Tive que aprender a estar sem ela, como quem aprende a caminhar com apoio de muletas, e agora que aprendi, não vou largar o meu apoio.
Tive que silenciar o que sofria, porque não queria que "ele" que muito amo, sofresse mais que eu. Foi por ele que engoli, entendi, percebi, mesmo tudo aquilo, que não devia ter acontecido, nem cheguei muito bem a perceber ...

Queria esquecer tudo…

Queria fazer de conta que nada aconteceu..

Queria pensar que ela ontem esteve ali, sentada no sofá…

Logo se verá..,mas sei que nada voltará ser como era antes !

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dias vazios!

Existem dias como o de hoje, em que nitidamente vegeto, pois que faço eu senão isso?
Levantar, lavar os olhos e os dentes, vestir, comer, engolir aquelas drogas pela manhã, ao almoço, ao jantar, e ao deitar, senão o dia corre pior ainda, e depois fazer de conta que faço qualquer coisa, enganar o tempo e a mim mesma que meio tonta por vezes ainda me convenço que sou útil !

Todo dia pegada a esta máquina, leio uns emails, dou respostas, leio transversalmente uns textos, respondo a uns amigos, que nem sei se o são, atendo uns telefonemas raros, porque me cansam, só me pedem coisas....

Depois do almoço, que não fiz por merecer, termino e componho com fotos um texto de Maria, mais um, de uma história perfeitamente patética, daquelas ridiculas que nunca acontecem a ninguém, em que todos são felizes para sempre, tudo acontece bem, e em que o mundo parece pintado a cor de rosa, mas que também nunca ninguém irá ler, portanto pouco importa o conteudo!

Um texto como todos os que escrevo, com vocabulário pobre, tristemente enfeitado de imagens comuns que o transformam num texto banal e reles, mas o possível na altura!

Dias absolutamente ridículos, ocos, vazios e intensos de calor, porque estamos no verão, misturados com uma escrita reles, só podem dar com uma pessoa em maluca, esquisita, inútil…

O dia de hoje só me levou á rua exclusivamente, porque tive que ir ao correio colocar os documentos para a contabilidade! Grande coisa esse meu trabalho de hoje!

De regresso a casa, que já não voltei ao trabalho,(mas que trabalho) pois a hora ia avançada (isto faz-me rir, mas não agora, mais tarde, que rir também me cansa…) o desanimo acompanha-me na proporção do calor, sendo directamente proporcionais…, e o calor era muito ainda!

Será que no dia de hoje merecia, mereço um lanche?
Mas mesmo sem esse mérito comi, pois tinha fome, e um iogurte fora de prazo com korn-flakes soube-me bem!

Terá sido a primeira coisa que me dispôs bem no dia de hoje! Um lanche, ao fresco da minha casa, um lanche de um iogurte fora de prazo….

Depois, mais uma vez peguei nesta máquina e esperei pelo Tó como de costume, para o jantar…!  Agora penso se a gramática  que estou a aplicar neste texto está correcta, penso que não, mas como isso cansa-me, e assim deixo para depois acertar...

A partir do momento que o Tó chegou começa outra vida em casa, tudo parece ter outra importância, pois há rituais que se cumprem e sabem bem…conversa-se, vive-se, há movimento em casa…!

Depois do jantar, as conversas, outras conversas, as nossas conversas, o banho, as drogas para dormir, para isto e para aquilo, e outra vez o aparelho, o facebook, o blogger, o email, as consultas de blogs, até que chegue o sono…!

Sinto que o dia de hoje como tantos outros, não teve interesse nenhum, não valeu nada, mas afinal que fiz eu?

Nada que tivesse qualquer utilidade!Mas será que todas as pessoas fazem todos os dias coisas úteis ?

Não sei?

Será que sem me dar conta, fui útil para algo e nem me dei conta?

…..sinceramente não sei!!!!

Mas sinceramente gostava muito de saber!

Será que em algum segundo do dia, alguma coisa que fiz ou disse valeu a pena, o facto de eu ainda  existir?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Os anos do Toninho

Diz sempre que este é o melhor e o mais importante dia de todo o ano!
Mais importante que o Natal, ou a Páscoa, que o dia de anos dos seus filhos, ou o dia de celebração de qualquer outra efeméride, importante mesmo, com direito a ser condignamente festejado, badalado, comentado, celebrado,  como o faz  Sua Alteza a  Rainha Isabel de Inglaterra,  com tudo a que tem direito!
É o dia de aniversário do Toninho!
Mal começa Agosto, ainda o dia vem distante já  se começa a falar nele, das prendas que irá receber...Gosta de fazer anos, de os celebrar, juntar os amigos, a família comemorar mais um ano de existência, festejar a vida sempre com alegria!
Lá em casa todos falamos dos anos do Toninho, a começar por ele claro, que é o primeiro a dar o exemplo, não vá alguém esquecer-se!
"Quem vai fazer anos quem é, o Toninho, pois é" !
E começamos nesta conversa mal começa Agosto, no minimo até meados, porque depois também se comenta, da mesma forma  o sucedido, "quem fez anos quem foi "...."o Toninho, pois foi"

E receber presentes pois então, que o Toninho gosta desta parte do aniversário!
Fazem  parte do ritual  as conversas e  reuniões familiares meio em segredo,  para se chegar á conclusão do que será a surpresa de cada ano, que cada vez  se torna mais dificil surpreender deveras o Toninho !
Quem não gosta de receber um presente, por pequenino que seja, abri-lo com carinho e com ar surpreso e em suspenso verificar o está lá dentro? E  se for um grande embrulho, quase gigante?
Nem sempre é o que se espera, mas muitas vezes são agradáveis e verdadeiras surpresas, as novidades que se revelam sob os nossos olhos….

De véspera, já repete mil vezes “amanhã o Toninho faz anos”!

Por vezes acontece que os amigos ao despique o acordam de manhã a ver qual é o primeiro a dar os parabéns! Mas isto só ás vezes, dependendo este fenómeno, do dia da semana em que coincide a efeméride.
Durante o dia chovem os telefonemas, emails, de todo e lado, de toda a gente, que o Toninho é amigo e bom companheiro!
E  quem é que não conhece o Toninho?Toda a gente o conhece, e sabe que ele é gente boa!

Não sabe é esta gente toda, que dois dias antes, já o Toninho, por lapso do paizinho dele que o registou com data errada, já recebeu alguns telefonemas de amigos que levados pela data que consta no B.I. lhe dá e muito bem os parabéns no dia 8, dia que realmente consta no seu BI como sendo a data do seu  nascimento!

Afirmando a mãe  que foi garantidamente no dia 10 que nasceu, foi sempre nesse dia que festejou o aniversário, ainda que a sério mesmo, tivesse de ter nascido muito mais cedo, pois andou na barriga da mãe  muito mais que os 9 meses, não fora na altura a destreza do médico tirá-lo de ceseriana, na altura coisa rara e perigosa, pois por força do destino ou de Deus, ele estava mesmo destinado a ter um longa vida rodeado de amigos.
Mas safou-se, estava escrito..."Salve-se a mãe que o filho salvar-se-á ou não", disse o médico, mas de facto salvaram-se os dois para contar a história....!
O jantar com o grupo de amigos, que não pode faltar e é sagrado!
Este jantar tem direito a discurso,  a espumante, bolo e velas, convidado especial para esse dia, e o local  á escolha do aniversariante. As prendas são sempre agradáveis surpresas, podendo ser barretes...!

O almoço restrito com os filhos e namorados, é sempre muito agradável, mais um dia de convívio ameno com mais surpresas e prendinhas…

E como a 13 de Agosto desde 1978 que faz anos de casado, continuam as comemorações que ultimamente se alongam até dia 15 com um belo repasto em casa de um amigo, que oferece por conta do feriado desse dia e de uma procissão que acontece nessa altura e que sempre me lembro de existir (Sr. Da Nazaré), por sinal...!

E é sempre assim que há muitos anos, 55,  se festejam os anos do Toninho, como sendo uma comemoração altamente importante, no dia mais esperado do ano, o dia de anos do Toninho!
Primeiro em miudo, com os pais, avós, tios, primos, outros amigos de então.
Depois outras pessoas se foram juntando ao grupo, á sua vida,  outras foram desaparecendo naturalmente, mas á sua volta  sempre  gente boa foi aparecendo, amigos, gente sadia, feliz, que é o que ele  precisa e merece ter a rodeá-lo para continuar  a viver e a sentir-se feliz ! O o Toninho merece ser feliz...!
 O Toninho não pode deixar de se sentir feliz, e realmente ele tem razão, para ele o dia dos seus anos é o mais importante de todos os dias do ano..."VIVA O DIA DE ANOS DO TONINHO"

Para o ano vou sugerir que se faça um cartaz com os  SEUS festejos, não esquecendo:

-dia 8
-dia10
-dia13
-dia15

A combinar:
   -almoço com a esposa
   -almoço com os cabras
   -almoço com os filhos e esposa (aniversário)
   -procissão na aldeia da Sr.ª da Nazaré
   -almoço convívio (casa do amigo)
   -passeio á tarde
   - Lanche no final

  Mas como o projecto é complexo,  tenho que pedir ajuda a algum consultor, pois quero que saia tudo mais que perfeito…perfeitissimo!!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O romance na quinta 5


Maria estava admirada com tudo o que via!

Como era possível o pai ter chegado àquela quinta, estar ali a trabalhar há tanto tempo e só agora a ter mandado chamar! A vida tem coisas estranhas, antes também ela não estaria preparada para enfrentar tanta mudança!

                                                   A paisagem vista da entrada da quinta era soberba.

As vinhas ondulavam no terreno, em carreiros muito verdes, perfeitos e ordenados como se tivessem sido pintados e não plantados, e depois devidamente arranjadas todas as videiras uma a uma, para que os cachos e o vinho, a casta, não perdessem qualidade! Tudo era feito com o maior rigor desde a preparação do terreno á poda, á vindima, e finalmente á preparação do vinho que na sua maioria era para venda !

Maria estava fascinada, os terrenos eram a perder de vista e  tão verdes, que pareciam um mar onde apetecia mergulhar….

E no estábulo o que mais a encantou, foram com certeza os cavalos!
Ao principio serviam no arranjo das terras, depois com a vinda das máquinas agrícolas, ter cavalos na quinta foi um costume a que a família se habituou, pois consideravam-nos os seus animais de estimação! Deitados agora um pouco de lado, há uns anos atrás, na infância dos netos do patrão (já falecido) do pai de Maria, todos aprenderam a cavalgar, e a trotear devidamente, indo de vez em quando á quinta treinar, durante várias épocas do ano.

Ultimamente porém, apesar do nascimento de um potro, nenhum dos jovens se deslocava muito da cidade até á quinta, para andar de cavalo….

Maria estava muito entusiasmada com tudo o que via e depressa tomou conhecimento do que mais lhe chamou a atenção que foram sem duvida alguma todo o trabalho que se relacionava com os cavalos!

Depois da entrada geral da quinta e do estábulo, da casa onde ia viver, das zonas de arrumos á volta, onde teria de se deslocar a fazer as suas lides diárias , foi com o pai ao Solar grande, conhecer a Senhora dona da quinta, que ofereceu a casa ao pai, em troca dos seus serviços.

Entre ambas surgiu uma empatia mutua. Trocaram muitas informações apesar de Maria não falar quase nada de francês.

Depois de muito conversarem Maria ficou á vontade para percorrer a quinta com um pequeno tractor que existia no alpendre, entrar e sair do Solar quando precisasse. Também Maria ofereceu os seus préstimos á senhora para o que fosse preciso. Realmente era como se ambas já se conhecessem há muito apesar do pai, ter passado o tempo a traduzir á filha a maioria da conversa pois á senhora, de vez em quando falhava-lhe o português!

Também a senhora estava encantada com a simpatia e simplicidade de Maria. Sentiu-a humilde mas inteligente e deu para reparar que gostou dela assim desse jeito.

Maria não se lembrava de se sentir assim compreendida, estimada, considerada, respeitada, amada.
Realmente sentia-se feliz naquele momento!

Aos poucos iria conhecendo o resto da quinta, que tempo era o que não lhe iria faltar.
Daí a algum tempo, era vê-la a dominar tão bem o guiador do tractor percorrendo as avenidas dos vinhedos até perder de vista, como as rédeas do cavalo “SULTÃO”,que começou a cuidar especialmente, e a aprender a cavalgar, o que sem dar conta chamou a atenção do jovem neto mais novo da senhora que tendo ido de visita á quinta um dia por acaso para visitar a avó reparou em Maria e na maneira altiva e airosa como montava elegantemente aquele cavalo!

Uma jovem na quinta, ainda por cima a cavalgar daquela forma?

Há muitos meses que não visitava a avó, e aquela visão intrigou-o deveras! Quem seria aquela moça loira tão bonita, tão interessante que ele nunca vira por ali! Não conseguiu evitar que a curiosidade o levasse a fazer um autentico inquérito acerca daquela rapariga!


Voltou uma série de vezes e nunca mais deixou de voltar…,e apesar de uma certa desilusão por saber, que ela era filha do encarregado, agora dono da casa pequena junto à cavalariça, cada vez estava mais preso a ela , tanto que toda a gente já reparava, já sabia…


Em toda a sua vida nunca tinha ido tanta vez visitar a avó como nos últimos tempos, quase não faltava dia nenhum.

Arranjava sempre uma razão, uma desculpa qualquer, mas a senhora sabia muito bem que a desculpa era a Maria!


O romance pairava no ar…


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Era, já não é mais!

Custa-me vê-la partir sem dizer nada, sem sentir um "ligeiro aperto no peito"!
Uma perda banal, que afinal só nos dava prejuizo, mas cuja construção não foi em vão!
Afinal é só mais uma perda, e esta era aborrecida, mas foi uma aquisição feita com tanto amor, com tanto empenho, que me custa agora vê-la partir, assim sem dizer um "ai", um adeus, sem sentir nada! E ao pensar desta forma molham-se-me os olhos, não pela perda, mas pelos anos passados, pela vida que passou e pelo que aprendi e vivi com essa firma!

Fez-me crescer um pouco, sair de casa, da casca, perder alguns medos e receios, das centenas  que tenho ainda, conhecer gente, evoluir, correr riscos, passar tormentos, e  fazer coisas que nunca imaginei  ezequiveis noutras épocas. Conduzir sozinha até Leiria, (grande coisa) e de repente ir dar a volta a Torres Novas! Escolher sózinha colecções de roupa para vender na loja..., um risco!

Fazer desfiles para ajudar causas nobres e autarquicas,  (arranjava a roupa, convidava as jovens, preparava os ensaios, fazia os pedidos, organizava tudo e no fim repunha tudo no seu lugar)! Era uma  mulher de vários oficios, com muita força e muita energia ! Orgulho-me de mim nessa altura!

Comovo-me ao pensar na loja antiga, nas colecções, nos clientes, na falta deles, na dificuldade em pagar aos fornecedores, na felicidade sentida no final de um Verão, em passar a loja a um jovem casal, (com algum lucro)!

Penso na abertura da loja em Coimbra, no desfile no hotel, na recepção no mesmo, no lanche servido aos convidados no hotel, no trabalho feito na casa onde vive o João agora, as noticias nos jornais, as fotos que guardamos com carinho!

Recordo o primeiro dia de vendas da loja,(um sábado 19 de Setembro), em que estive presente todo dia!

Um dia de muitas vendas, muitas visitas, muita simpatia…Nesse dia cumpri bem o meu papel de gerente! Vestia um fato cinzento marca da loja!

Como gostava de mexer na roupa, dobrá-la, vestir e despir e ver como assentava, dar e ouvir opiniões…!
Muitos outros dias se seguiram, alguns agradáveis outros nem por isso!
E tudo passa!!!Muitas vezes também, porque as pessoas não acarinham os projectos!
Não posso deixar de registar o gosto e o prazer, apesar de tudo, que sentia em ir escolher as colecções de roupa, pese embora o transtorno que isso passou a ser pelos vários factores envolvidos nesse trabalho…

(….Mas já não há mais desfiles, nem roupa para vestir, nem para dobrar, nem ninguém precisa que faças nada do que fazias, “porque tu não sabes” lembras-te?)....é o que me diz o meu pensamento...!

Acabou-se a época de fazer de conta que se tem uma loja de roupa, que só dá dores de cabeça!
Ás amigas que fiz e deixei por todo lado, a João, a Mila, a Sónia, um obrigada muito grande por me terem aturado :-)

Espero sempre continuar a visitar-vos!



Também um agradecimento, ao António e á Fátima. Tive muito gosto em trabalhar convosco! Obrigada pelo que me ensinaram!

Aprendemos todos os dias uns com os outros!

Vou continuar eternamente a gostar de mexer em trapos, roupa bonita, ao meu gosto, porque eu  SÓ gosto de roupa bonita, mesmo que seja barata, e não consigo evitar, deixar mais ou menos dobradas, as peças que remexo das prateleiras.



Para matar saudades, hoje mesmo sem dinheiro, fui mexer em trapos como lhe chamo, vestir e despir  o que me apeteceu até me cansar e comprei  roupa, para me fartar!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O meu GRITO!

 NÃO

Preciso gritar bem alto!
Gritar bem alto é pouco, mas preciso  gritar a dor que sinto, por não soltar nunca o desejo que o meu corpo reclama, de forma que se ouça em toda a parte  e faça eco em todos os cantos e becos …
Preciso falar e dizer ao mundo, a toda a gente, mesmo àqueles que não vejo nem conheço, o mal que me consome, que me mói, que me esmaga e me destrói por dentro lentamente….
Este mal que me destrói aos poucos de mansinho, desde que me sinto entregue ao amor físico, á troca, á partilha, á dádiva do meu corpo ao teu, entregue ao deleite do sonho de mil carícias, entregue á vivência do meu amor e do teu conjuntamente…


Queria sentir o meu corpo fervilhar de amor por ti cojuntamente, como idealizei desde bem cedo, e poder dar-te tudo, cada vez mais, e receber muito, mas muito, receber tudo, mas tanto, que não imagino o quanto, porque o que se dá e recebe não tem peso, nem  tamanho, não tem medida de troca …


Queria saber como era sentir as tuas mãos passarem no meu corpo como se fossem seda e sentir frio, ou calor isso que que importa,  e ter desejo de fugir, mas  ficar ali parada á espera que as tuas mãos e o teu corpo, serenassem o meu , e permanecessem nele e ali ficassem e o despertassem e lhe dessem prazer e vida e  o acordassem, como se fosse possivel recomeçar tudo de novo outra vez... Mas nunca foi assim, e nunca assim será, não sei explicar porquê, mas andámos perdimos eu e tu,  navegando no mesmo bote num mar revolto onde cada um a sei jeito tentou não se afundar...

Queria sentir ainda, o que aos poucos me fugiu, e eu parada a observar, o que fugazmente existiu  e já não tenho mais comigo!
Esse amor escaldante que se sente quando o amor nos visita cedo, esse fogo ardente que nunca segurei, que tentei prender mas  me fugia sempre, mal de leve lhe tocava , que nunca me visitou deveras, nunca foi meu amigo, amor físico mal comportado, mal tratado, mal amado, sofrido, chorado, impróprio, mal feito, e que hoje não sei por onde anda, onde se escondeu, que foi feito dele!
Amor sofrido, dolorido, ainda desejado, fugidio, que continua a povoar os meus sonhos de quando em vez…, malvado por me sacanear,  me torturar ainda, em vez de me dar calma e de uma vez por todas, me deixar tranquila a alma e o corpo!

Porque mesmo assim lhe sinto a falta, porque sei que existe, e se é possível existir, e é, para mim foi-se de vez, partiu, escondeu-se nalgum sitio bem longínquo, algures onde nunca mais conseguirei vislumbrar-lhe a cor, o jeito, a graça…
Preciso gritar para o mundo esta carência, esta falta, este sufoco, esta ausência de te não ter inteiro como sonhei, e tu ali, aqui, sempre tão perto!
Só muito tarde me dei conta que os sonhos nos traem, nos enganam, nos levam á pobreza física, á tristeza profunda, nos envelhecem, nos corrompem o espirito, nos enfraquecem,  nos fazem morrer devagar, nos elouquecem, tão devagar que não se sente que aos poucos vamos mesmo morrendo lentamente...
E eu não quero morrer..., muito menos lentamente, isso não!
Senão quando morrer não morro inteira!
Quando morrer, quero morrer num segundo, ou menos tempo ainda! Mas agora que disse tudo vou mais leve, mais tranquila...!
Tinha que dizer que não amei nem fui amada como imaginei que seria...
Vivi de olhos vendados toda a vida!
Tinha que o dizer num  só grito!
Não!
Mas se na vida não amei por completo, porque não soube amar, não entendi o amor nem ele a mim, ou não mereci ser assim amada porque assim estava escrito, quando morrer quero que todos saibam que mesmo assim  amei, esse amor sofrido, calado, derrotado, mal-amado, mas amei e nunca desisti nem nunca me dei por vencida..., e amei o mais que pude e soube, e se mais não amei é porque não consegui!
 Eu juro!
          
           Nunca devia era ter acreditado nos meus sonhos,
         ...porque os sonhos traem, os sonhos são meras fantasias e quimeras e enganam...!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Perder o "NOSSO" amor


 Perder o nosso amor num só segundo, é também perder a nossa vida nesse instante!
 É como se a força que nos impele a caminhar em segundos se esfumasse, e o mundo inteiro cheio de medos e receios nos caísse em cima de repente. Tudo nos fica distante, e a força que nos impele a ir em frente e a caminhar sem nunca desistir de nada,  nesse momento desaparece,
como se fosse agua  num deserto!

A nossa força, a nossa ancora, o  pilar que nos apoia e onde encontramos energia para vencer os obstáculos difíceis do dia a dia, o nosso oásis, o nosso refugio, o nosso conforto, o nosso aconchego nas boas e nas más horas,  aquele abraço forte que nos acolhe sempre, mesmo que em silêncio e já cansado, e nos murmura quase sem sussurro… “deixa-te estar...., chega-te a mim….,descansa..., tudo vai ficar bem…., estamos aqui…., vamos conseguir.…, somos fortes…, tu e eu somos valentes…,gosto de ti assim….,e  tu de mim….,tu és poderosa…., vou estar sempre aqui contigo...!”

E mesmo sem palavras,  pois  para que servem as palavras, se o amor é cego e mudo e surdo,  se os olhares já dizem tanto, quase tudo, e o toque do corpo, o sentir e roçar da pele dizem o resto ....?
Quantas horas de amor, quantas palavras, quantas caricias , quantos segredos  trocados numa vida, tudo o que fizeram  já passou e agora só resta a lembrança do nunca mais tocar, nunca mais sentir, nunca mais nada...!
Esse abraço forte terno e carinhoso, fica guardado secretamente no nosso coração, capaz de abraçar eternamente o nosso amor infinitamente sentido,  aconchega-nos  para sempre todas as mágoas  e alegrias, todos os dias  mal passadas e noites mal dormidas,  todas as dores sofridas, que sentindo assim é mais fácil  sobreviver a tanta dor, ao tamanho dessa mágoa, a essa perda cruel e defenitiva !
De resto tudo se esfuma no ar  ficando  sem rumo, e por instantes  tudo perde a graça e o jeito e parece que  nunca mais, nada  terá forma ou interesse nesta vida...!

Perder o nosso amor num segundo e viver depois sem ele, é como andar á deriva no mar alto, em tempo de maré-cheia, sem ter canoa nem remos, sem ter barco nem veleiro, sem saber  bem onde se está, perdido  no oceano  infindo, sózinho entre o céu e  o mar, sem  encontrar uma ajuda, sem avistar  uma ilha qualquer perdida no mapa,  um tronco pequeno que seja,  algo onde se  possa agarrar, uma  orientação,  um barqueiro que nos  ajude a  navegar, acostar, e mais tarde  talvez  descansar…

Na nossa existência no mundo,  perder o nosso amor, mas o nosso amor verdadeiro, o nosso companheiro,  significa ter que voltar a nascer, reaprender a viver...!
É como perder um braço, uma perna, pior ainda, deixar de mexer o corpo, e ter que reaprender a andar, ou viver sem braços sem pernas ...!É  preciso resistir, reaprender tudo de novo, reconstruir uma nova vida…! É necessário sobreviver de alguma forma! É necessário renascer novamente! Não podemos vegetar...! Isso seria dar-nos por vencidas!

Mas como e o que fazer, sem braços, sem pernas, sem forças par lutar... ?
Uma força superior, a mesma que levou o nosso amor, deve ensinar-nos a caminhar sem pernas, a trabalhar sem braços , a pensar sem cabeça, a olharmos o mundo de uma forma diferente, a conseguir sobreviver mutilados...,a olhar o horizonte e voltar a ver como é belo o nascer do sol, e á noite o brilho do luar sobre o mar tranquilo...

Perder o nosso amor para todo o sempre, porque estava assim escrito, ou foi coisa do destino, ou foi vontade de Deus , é sempre um sofrimento atroz, mas acontece todos os dias!

Nunca mais ouvir o nosso amor dizer o nosso nome, ouvir a sua voz,  nunca mais tocar a sua pele ou ele a nossa, sentir a sua presença ali ao lado, sentir o seu cheiro, a sua presença, o seu silêncio, os seus berros e ralhos , senti-lo adormecer , e milhares de tantas coisas que não consigo enumerá-las, por serem infindávelmente impossiveis de inumerar...!!
 Ter a certeza que esse amor se vai, e só fica para sempre a lembrança dos seus sentidos nos nossos, e na nossa mente a sensação de que  se sente ainda o cheiro do seu amor ausente, tudo isso parece uma cruel e muito dura realidade, e tudo isso doi fundo dentro de nós, tanto que nem parece verdade ao dizer !
Mas não, tudo isso é triste,  cruel mas  verdadeiro !

Na nossa pele a lembrança distante do seu toque, preso num fino véu de seda a sobrevoar eternamente a nossa mente, como se um vento ténue pairasse sobre nós eternamente, mas cada vez tão mais distante, que de quando em vez não se consegue evitar que a saudade faça libertar dos nossos olhos lágrimas de saudades do vivido, cada vez mais distante no tempo, mas sempre  eternamente presente!

Com muito carinho e ternura, especialmente  dedicado á minha querida amiga, que perdeu o seu amor e companheiro,o marido e pai dos seus queridos filhos, para lhes dar força e ânimo, porque recordar é viver, e eu a tenho, como uma guerreira e mulher lutadora de muitas batalhas, e agora a espero  vencedora desta violenta guerra! FORÇA!!!!

....me perdoem todos, a audácia da "lembranças de momentos", (que estas são todas vossas), decerto vividas  intensamente com amor e vida, e que deixo aqui registadas para sempre, que todos elas, ficarão decerto guardadas, nos vossos corações como reliquia vossa, amor vosso,numa caixinha de onde nunca mais sairão, por mais que o mundo dê voltas...

“....Os nossos filhos, o nosso amor, o nosso quarto, a nossa sala, a nossa casa, os baptizados, as comunhões, a escola dos filhos, as compras para a casa, os nossos amigos, o teu trabalho, o meu trabalho, os nossos cães, o meu salão, o nosso Rancho, os nossos telefonemas, a nossa família, a nossa terra, os nossos almoços fora com os amigos com a família, os Natais, as Pascoas, as festas da aldeia, os nossos serões, a nossa praia , as nossas férias, as nossas arrelias, as nossas discussões, os nossos encontros e desencontoros, o estarmos sós, o acordarmos juntos, os nossos passeios, as viagens de avião, tudo o que vivemos juntos…, e tudo o que ainda vou viver cada dia a pensar em TI, contigo a meu lado,  porque  te amo sempre, meu companheiro, minha força,  meu amor, meu amigo...." OBRIGADO MEU AMOR!!!!!


UM ATÉ JÁ ETERNO!!!!!!