sábado, 14 de agosto de 2010

Sessenta dias

 Por teimosia ou seja por que motivo for, não voltou a dizer nada, não voltou a aparecer, não voltou a sentar-se no sofá azul do canto!
 Com ou sem razão levou a sua avante!
 O silêncio passou a ocupar o espaço que ela  costumava preencher,  a casa ficou silenciosa, muito mais nua!
 As revistas que lia e folheava, deixaram de ser muito menos manoseadas e lidas , e ficaram mais pobres à apreciação dos seus conteúdos!

Também elas ficaram demasiado tempo à espera, mas lá permanecem ainda , sem desesperar ao contrário de mim, e calmamente aguardam que ela volte, quem sabe  um dia, e lhes pegue do mesmo jeito, primeiro para as revirar de uma só vez sem muito pormenor, e depois folha a folha atenta a um e outro detalhe, ou a alguma nota que mais a empolgue !


Não sei se é saudade ou se é revolta, se é tristeza, ou se é um sentimento de abandono o que me invade, isto que me corroi por dentro devagar, por ela ter sumido assim da minha vida, mas sei que passados sessenta dias vamos de novo todos estar juntos e isso me incomoda, e não imagino como vou reagir com ela!


 Sinto medo, nervoso, um misto de raiva e de tristeza, uma inquietude que me é estranha e revolta estando em familia.
 Sou uma mulher ansiosa todos sabem, e não sei muito bem o que vou sentir, quando a voltar a olhar, porque nunca o contei a alguns dos presentes e não sei fingir…

Não sei se vou ter como companhia o silêncio, se vou tagarelar!
Fazer de conta que nada aconteceu não me parece muito provável , mas não sei o que fazer, como proceder, estou nervosa …


Agora não posso afirmar nada, não tenho certezas, só uma  cicatriz  me arde, uma dor me ficou  do sucedido, mas que ainda me faz chorar!
A saudade dos seus olhos verdes, a ausência do seu sorriso, a frescura da sua presença….,ela não devia tê-lo feito assim!

A sua ausência faz-me falta, magoou-me, machucou-me, com ou sem razão ajudou a destruir-me mais um pouco, e agora não sei, se a revolta que sinto me apetece deixar que olhe para ela como antes.

Tive que aprender a estar sem ela, como quem aprende a caminhar com apoio de muletas, e agora que aprendi, não vou largar o meu apoio.
Tive que silenciar o que sofria, porque não queria que "ele" que muito amo, sofresse mais que eu. Foi por ele que engoli, entendi, percebi, mesmo tudo aquilo, que não devia ter acontecido, nem cheguei muito bem a perceber ...

Queria esquecer tudo…

Queria fazer de conta que nada aconteceu..

Queria pensar que ela ontem esteve ali, sentada no sofá…

Logo se verá..,mas sei que nada voltará ser como era antes !

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