terça-feira, 23 de dezembro de 2014

AQUELE ABRAÇO


AQUELE ABRAÇO

Mente pesada, corpo dorido
Um frio gelado, estranho, 
Invadia-me e eu tudo deixava
Fazendo de mim um ser indefeso
Alguém que, não sei como, 
gritava e chorava 

De agonias passadas, desejos incompreendidos
E eu nada mais sentia, senão um tremor profundo
Gritos que me vinham da alma
E ali gritava, sem pudor, 
Sem incerteza alguma, sem força para me impor 
E gritava o desejo que tudo aquilo fosse um sonho 
E não aquele sofrer intenso 
O recordar de novo tudo que existe em mim
O meu passado reprimido,
Tudo o que me afunda, 
Me atira para profundezas contusas
Me dão dor, atormentam, que desconheço
Tudo me cometeu de novo 
E chorei, gritei
Gritei, dentro de mim e para o mundo
Gritei o teu nome e supliquei-te ali
A dares-me a tua mão
Esperava-te para me consolares
O teu corpo colado ao meu seria o meu maior alento
Sustento, ar, alívio para cessar aquele tormento
Abri os olhos, chorava 
E entre lágrimas sentidas, vi-te com olhar admirado
Quanta amargura a minha
Pois se era amor, ternura, que queria ver no teu rosto
Sentir-te unido a mim, suspenso naquele mesmo sufoco
Não foi isso que em ti pressenti
Precisava que me arrancasses dali
Me trouxesses à vida
E assim, aquele abraço que nos demos 
Que foi forte, mais que nenhum outro
Foi pouco, curto no amor que ali me entregaste
Estavas assustado, eu carente demais
Molhada em lágrimas que tu não compreendeste
Quanta apreensão em ti se gerou
Precisava que o nosso abraço fosse uno
Que os nossos corpos se tivessem fundido
Que o teu eu tivesse sentido o meu 
E grudado em mim ali chorasses 
Me secasses com as tuas, 
As lágrimas amargas que por mim desciam
Não sabes como dói viver assim
De ti, foi pena que vi sentires 
Abraço forte, amigo, estranhamente magoado
Precisava tanto que me amasses
Que aquele abraço que trocámos
Fosse mais que amor
Para mim, tudo que tenho ali, completa, te ofereci
Abraço doce, meigo e carinhoso
Mas de mágoa e bondade, foi o teu Abraço, 
Que sendo de pena 
Não guardarei para a vida inteira


Inês Maomé

23/12/2014






terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A NOSSA CASA!

                     


                             A NOSSA CASA

Da janela da nossa casa vejo montes, 
Vejo gente, vejo muito 
Vejo pouco
E outras casas
Casas, casas, só vejo casas
Sombrias, caladas, lavadas de branco 
Outras não
Parece que esperam, que chamam
Que guardam segredos belos, cinzentos ou de carvão
Ao abrir cada janela da nossa casa
Parece que te vejo chegar, pura ilusão
Chegas sempre mais tarde

Dentro das casas tudo acontece
Tudo se despe, se sente, se diz, se consente
Numa calma ou descontente aflição
Abre-se cada porta e eu atravesso-a
Magoo o ar, solto gritos de solidão
Não te vejo
Só chegas depois do dormir da noite

Na nossa casa, igual a outras tantas
Tudo acontece de noite desde o amor à desunião
E os passos dados caminham em sentidos diferentes
Ajustados ao silêncio do escuro denso
Que saudades dos beijos trocados acesos
Como fósforos incandescentes
E dos nossos peitos apertados, quase sem ar,
Fervendo colados no amor
A nossa casa vestiu um silêncio que colocou no meu coração
Pertencemos à nossa casa
Dentro dela vestes-te de fato
Falas tudo que te apetece, falamos em união ou não
No meu peito nada se passa, no meu corpo também não
Dentro da nossa casa
Nada de festa alguma, corre de ti para mim
Enfeitando as minhas mãos
A nossa casa, como todas as casas, é estranha
Guarda o silêncio do último segredo que já não lembro
Habita no interior da noite, sobrevive a ela e à dor
À falta de amor

E eu não…

DAR-TE UM BEIJO...



DAR-TE UM BEIJO

Queria tanto dar-te um beijo
Unir a minha boca à tua e senti-la minha
Só mais uma e outra vez
Sentir em ti aquele frenesim
A que um beijo de imenso amor nos conduz
Sabes que te amo, que sou tua
Que sentir-te em mim seria mais que tudo
Mas o nosso tudo findou
Ficaram as nossas mãos enlaçadas
Enfeitiçadas pelo amor
Cruzadas de dor
Encanto e fascinação
Mãos únicas as nossas
Que unidas pela força do nosso amor
Com todo o amor nos falarão
Mil segredos nos contarão….

Inês Maomé
10/10/2014




terça-feira, 9 de dezembro de 2014

SOU.... QUEM SOU?




SOU...QUEM SOU?

Sou um corpo esventrado 
por fora 
e por dentro, 
sou assim, mesmo antes de ser gente, 
cortada ao meio, 
aos pedaços, 
estraçalhada, maltratada ... 
por nunca ter feito 
o que devia fazer perfeito


Mágoa a minha 
tanto que queria e sonhei, 
que sempre almejei...
amar tudo e todos, até aos ossos, 
até me doer na carne, 
no coração 
e depois ser amada 
até ao sufoco dos abraços que inteira me trespassassem
que aflita, com risos, eu gostaria
mesmo que me matassem 
pois de amor morreria
e feliz seria...seria ...seria...


Inês Maomé
28/11/2014

domingo, 7 de dezembro de 2014

NÃO SEI



NÃO SEI

Não sei se te amo
Se amor é este rio que nos une
A dor que sentimos e nos prende
Nos faz crescer e não ter 
Passar a noite a ver a lua
Sentir o sol na pele sem ver o anoitecer

Que amor é este que me faz estremecer
Sentir que sem ti não vale a pena ser
Que contigo a solidão não existe
Que amar é um tormento, fraqueza de não ter

Vou chamar quem saiba mais que eu
Vou gritar ao vento a dor que sinto
Este pesar e angustia de estar aqui,
Contigo ser
De tudo incontido sentir
De tudo nada saber
Ó ignorância absurda de amantes impossíveis
Ó sabor insensato o deste amar louco,
Louco amar este
Que a ti me amarrou
Presa a ti me deixou ficar
E eu cega fiquei e viverei sempre

Inês Maomé
07/12/2014