segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ano NOVO 2013


O poema de ano novo em destaque 
é Esperança 
escrito pelo poeta gaúcho Mario Quintana, 
uma maneira de começar o ano novo com a inspiração de um dos maiores poetas brasileiros.

poemas de ano novo

FELIZ 2013 para TODOS


Recomeço


"Mais um ano novo que começa, 
a oportunidade de um recomeço, 
a oportunidade de fazer tudo aquilo que você sonhou no ano que passou."
 (Luis Alves, frases para ano novo)

Frases de Ano Novo

Feliz Ano Novo.



"Os fogos anunciam a chegada de um ano novo! 
É hora de refazer seus sonhos ainda não realizados e acreditar que irá concretizá-los. 
Soltar um olhar solidário e acalentador para os seus amigos e bocejar para os inimigos. 
Aprender com os erros do ano que está terminando e brindar com um sorriso o ano novo que está se anunciando. 
Correr ao encontro daquele amor ainda não perdido ou surpreender mais uma vez o amor já conquistado.
 Desejo a TODOS um ano repleto de luz, amor, saúde e prosperidade. 
Feliz Ano Novo."
(Frases de Feliz Ano Novo 2013)

ano novo 2013

domingo, 30 de dezembro de 2012

Homem não te mates ..olha a vida..



Um pedido de vida… hoje é cedo

Todos partirmos  um dia, eu seu
mas mais um dia, fique mais um dia,
hoje é muito cedo ainda e está frio
Algum tempo mais por aqui, ia fazer-te bem
Pensa, pensa mais, por favor não te mates assim, nem de outra forma
sem pensar, sem o desejar, pois nada é como se imagina
(que disparate, pareço doida, não se pede a alguém que se quer matar para não o fazer, "por favor")

afinal todos partimos um dia.

E neste caso diz-se tudo, 
argumenta-se com psicologia  e pronto, exige-se, implora-se,
dá-se-lhe um murro, uma droga, sei lá que mais o que se faz, 

mas faz-se tudo o que se pode
mete-se-lhe à força na cabeça que se ele morrer, morremos também

Melhor ainda, 

dizemos-lhe que existem coisas que nunca mais verá, 
que todos vimos ao mundo e andamos nele à deriva, 
e também sofremos, mas vale a pena
comemos coisas boas e outras menos boas,  
por vezes passamos fome, bebemos água pura e vinho, 
amamos e padecemos, 
mas  mesmo sofrendo de amor ou seja do que for, vivemos, 
pois mesmo em segredo o amor vivido e o ausente e sofrido, 
ajuda a espalhar amor pelo mundo, 
e isso é bom.


Engrandece-o e fortifica-o, e se te vais, ele nunca mais será o mesmo, foi também o que lhe disse.

Com certeza que morrer não será melhor que amar, sorrir e gargalhar...
e é nisto que temos, que tens que pensar.
É certo que depois de morto acaba tudo, 
o que é mau desaparece, 
mas e o resto, o que é bom? 
O ovo estrelado, a batata frita, o pastel de nata, a sardinha assada no Verão? 
E o abraço, os amigos, os amores e o desejo contido e o outro
o sexo, o beijo dado e recebido  puro ou louco, mas sempre doce?

A vida é difícil e dura, todos sabemos
mas tão curta, para quê encurtá-la mais 

e ainda por cima com uma corda ao pescoço?
Anda tira isso...mas não sei se ainda ia a tempo...
Mas ia falando


As raízes que deixas na terra precisam de rega
são jovens, não têm estacas ainda
sem pais entortam, penso até que murcharão depressa,
que por a mãe  ter partido à força, por vontade do destino,  

não podem ficar à deriva, 
pensa nisto homem. 
Por favor( lá estou eu outra vez) não esqueça estas raízes puras
que são tuas e te aguardam todos os dias.

E as dividas que te importam? 
Deixe-as ter vida, também as tenho e olho-as todos os dias, 
e sabe que mais, elas sobrevivem. 
Um dia vão-se finar. Eu acredito, acredite comigo que as tuas, e as tuas dores e penas, também hão-de amainar.
Contra a fome o estado diz que ajuda, é o que dizem, 
mas os teus vizinhos são grandes amigos.
Vá, não faças isso. 
Olha, que eu grito aflita e aparece aí meio mundo.
Se morres assim, não leva padre e onde “ela” está, ficará triste e  magoada
Deus que existe, não vai gostar e a falecida roga-t
e uma praga


E o homem de cara já roxa, ouvia, ouvia e não se decidia, 
a nada me respondia, só ouvia, que já nem sei se isso acontecia
estava rouxo e hirto que isso era o que eu via.

De repente de olhar enevoado implorou  ajuda
lembrou-se dos filhos, 

o melhor de tudo que tinha feito no mundo, 
lembrou os seus rostos, viu-os sozinhos depois dele partir 
e  com mais fome que nunca.
Mas com tudo isto, não sei se era tarde.

Será que o homem caído no chão, estrebuchando, 

cuspindo sangue se salvaria
Até ali, fiz o que pude, implorei, roguei a todos os Santos, 
disse-lhe o que sabia, tudo o que me lembrei na altura, …
mas o homem estava hirto, mudo, parecia morto


O mundo está difícil, mas pelos filhos que ainda não sabem andar pela vida, 
tudo se faz-se, tudo nos é devido, não é?

E o homem mexeu-se e de repente  rebolou, 
cuspiu, e agachado não conseguia respirar,mas fialmente respirou
mas finalmente parece que ganhou forças e levantou-se
e estonteado, cambaleando, tonto, sabendo-se  arrependido 
pediu clemencia a Deus e de repente andou direito, parecia outro
que pelos filhos tudo se faz

E o homem roxo, 
meio moribundo, ressuscitou, 
eu vi que ressuscitou.

Decerto foi o amor que o salvou



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Preciso de força ...de amigos ..e dele...


Apesar de todas as coisas passadas
as mais mal vividas, 
as sofridas e choradas 
foi com ele que escolhi ficar, por isso aqui estou.

As suas dores são as minhas, 
as suas angustias também, 
e se ele não estiver bem, 
o meu coração encolhe, encolhe, 
entristece e cala de angustia
fica mudo, surdo, 
parece que não bate e esmorece   
e não consigo evitar que o meu olhar enevoe, 
fique baço, sem graça nem cor,



Perco a vontade de tudo, 
de escrever, ler e dançar, de rir, de falar ...
e só penso em me esconder do mundo 
fugir de tudo o que me rodeia 
de tudo isto que me acontece, e eu não quero porque me afoga
me tira o ar, me estrangula de angustia
e a ele o transforma e tira demais a força 
Sinto o mundo cair-me em cima e  não o suporto,
não tenho mais a coragem de ontem, 
aquela que nunca tive
 mas na hora precisa aparecia encoberta...
e mesmo frouxa existia



Queria esfumar-me no ar,
ser pequena e voltar ao regaço da minha mãe
mas não posso
perdi esse colo que não lembro há muito tempo, 
há muito tempo, tempo demais 
tanto que o recordo como um lamento
numa visão escura, enegrecida mas querida  

Por isso preciso de amigos
do ombro forte do homem que me acompanha
de quem sou completamente 
ontem , hoje e para sempre
enquanto ambos formos passado e presente
enquanto formos gente


Fotos do Google

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Estou aqui ....


Estou aqui,
podia estar noutro qualquer lugar,
mas  é aqui  que quero agora estar,
só e a pensar
Finalmente um dia só para pensar 
sem me importar se estou a fazer bem ou a fazer mal
por estar aqui e não noutro lugar
por estar a pensar no que não devo 
pois nem sei bem em que pensar 
recolhida neste canto onde sinto algum bem estar,
onde posso pensar baixinho,
onde ninguém interfere com o que sinto
me proíbe de sonhar, 
me recrimina, me aponta o dedo
um lugar onde olho no vazio e sou capaz de parar,
parar, sentir os olhos chorar
e mesmo assim meditar como sei,
e sem me dar conta de repente nada fazer além de respirar

Tudo e tanto me preocupa,
Tanto e tudo me entristece
A vida foi curta, fugiu-me depressa
E agora que olho para trás reconheço que podia ter sido diferente
Talvez melhor, quem sabe pior,
mas vivida de outro modo,
mais calma, mais consentida,
mais amada e  presente
Mais viva, mais sentida e gozada, 
mais aproveitada mas sempre, sempre muito mais vivida
que raio de vida tive, porque me acobardei de gritar,
porque tive medo de ser gente como todos  


Os medos, angústias parvas e loucas
invadiram-me continuamente
bloquearam em mim todas as entradas
roubaram-me a tranquilidade
o sono, as tardes calmas, os passeios com luz
o brilho que precisava sentir e ter nos meus olhos
para mesmo nos piores instantes ter força
reagir sem medo, 
caminhar em frente
pensar que era feliz e sorrir e até cantar
Mas eu escondi-me,
fugi de tudo, do mundo, de muita coisa, de muita gente.

Hoje estou aqui, estou só 
Com medo do que me aguarda
Algo que vejo além e muito perto me espreita
E eu não entendo porquê, mas pressinto me vai fazer mais mal que bem


Morei sempre com ela,
A portas meias com a solidão
O vazio, o nada ser, nada saber
O espanto de ver e ouvir o que muitos sabem, percebem e entendem
Coisas, que eu nunca soube e não vou perceber jamais,
 nem quero saber,
 pois para mim não são fundamentais para ser feliz
Só queria o que sei ser impossível
Porque o tempo me voou
Saltou das minhas mãos
E agora não posso, não mando em mais nada
e que pena, 
como lamento não ter sabido de tudo isto atempadamente.


Estou aqui e é aqui que vou ficar
Mais um pedaço de tempo
Até me esquecer de tudo o que me machuca
Me dói hoje mais que ontem
Até me voltar a lembrar
que é sempre tempo de dormir e acordar
e quem sabe, 
mesmo que seja tarde
aprender e recomeçar

Fotos do Google


.....tudo


Queria ter tanto 
 mas não tudo, 
que tudo é muito e decerto não mereço,  
só queria tanto, 
mas não tenho nem tanto, nem tudo, 
sim,  nem tenho tanto, nem tenho  tão pouco...
só tenho o que tenho
mas o ue tenho é pouco  
e  mesmo que rebusque, rebusque,
em mim, 
à minha volta 
à volta do mundo 
 parece que nada mais do que tenho, encontro...
e não sei se por ser pouco o que tenho, 
ou ser demais o  tudo tanto que busco, 
e sempre, 
sempre procuro
nada mais do que procuro encontro.

...mas queria ter tanto ter mais um pouco do que procuro
não tudo, 
que tudo é muito,
só queria tanto, 
mas por mais que procure, 
não encontro
e fico assim com o tudo que não tenho, 
apenas com o que tenho 
mesmo sem ser tudo
não sei se por ser pouco,
ou ser demais 
o tanto que sempre procuro, procuro.


...queria ter tanto, ter mais um pouco, 
não ter tudo, 
que tudo é muito,
só queria tanto, mas não tenho,
nem tenho tanto, nem tenho tão pouco...
só tenho o que tenho 
mas o que tenho sei que é  pouco,
e já o disse porque sei, 
que  mesmo que rebusque, rebusque, 
parece que nada mais encontro...
não sei se por ser pouco, 
ou ser demais o tanto que sempre procuro.

Não, não queria tudo,
só um  tanto do tudo que me pertence 
e não encontro 
no tudo que tanto procuro



Fotos do Google

domingo, 23 de dezembro de 2012

Vi-a ...era quase Natal



Vi-a,
olhei para ela e soube o que se passava
O seu rosto, 

de pele muito branca e fina
parecia veludo e brilhava
Os olhos com fulgor de vida
tinham a esperança e a força de quem renasce
E estampado no sorriso meio triste
a vontade firme de viver melhor,
muito melhor e mais, cada dia que passava

Pareceu-me doente, 
e verifiquei que estava
Mas diferente, de outros como ela que conheço
Diferente de mim que sou gente,

mas tudo temo 
tudo me assusta,
me faz gritar por dentro,
me sufoca e mata
Vi-a com força, capaz de enfrentar tudo
De vencer a luta que tinha pela frente 

e isso tranquilizou-me um pouco,
mas só isso, um pouco apenas


Disse-me que não era a primeira vez
Que já tinha tido “aquilo”

primeiro  num peito
e agora no pulmão
Mas estava a lutar,
custava, 

era duro
mas ia conseguir seguir em frente
Um dia de cada vez
Mas tinha que sarar, era urgente
Porque queria, e tinha que vencer
Tinha que ser ela a premiada, 
e não o bicho danado que a queria consumir,
senão partia e isso ela não queria
não,

isso ela não ia consentir



“Vou vencer”,  foi o que me disse devagar
e depois mais convicta, disse-me que queria ficar e isso ia, tinha que acontecer
Tinha por aqui ainda muito que fazer, 
coisas por concretizar
Sonhos, abraços , beijos, 

muito amor para dar e receber
conversas que não tivera, pensamentos que queria expor
muita coisa por criar que ainda a esperava
O jardim da sua vida inteira para cuidar
E o seu cão, 
sim, o seu cão ainda pequenino
não teria com quem ficar 

Ele confiava nela, eram amigos, 
ela tinha que ficar 

E presa por um fio tão fino, 
ela sustentava a esperança de sobreviver, 
de vencer e ganhar a guerra onde aparecera sem contar
Queria existir muito mais tempo na vida que lhe pertencia
Fugir do mal que lhe vi estampado no rosto
na sua tez macia, branca e acetinada
No seu sorriso brando,
 terno e doce 
cheio de esperança, 
que queria vida, muito mais vida pela frente
E tudo isto eu vi, ouvi, me foi dito, 
e eu  senti na véspera de Natal

Meu Deus, será que existes?
E há tantos que sofrem assim e lutam...onde estás?
Por detrás da lua?
Não acredito !



sábado, 22 de dezembro de 2012

Não sou nada



Não sou nada, 
nem ninguém
Sou poeira, 
sou um reles e nojento trapo 
sou lixo que cheira mal, 
daquele da pior espécie, 
impróprio para tudo e nada
sou filha de ninguém
Não sei de onde vim, 
nem para onde vou,
De mim pouco sei ou nada
há muito que ando quebrada
partida , 
rasgada em mil pedaços
mas hoje sei o que quero 
hoje, como ontem preciso e quero mais do teu abraço
e do teu, e do teu, e mais do teu…
Sim,  do teu  que além  me foges e nunca me dizes nada

Para viver preciso do abraço de todos
mesmo dos que não me conhecem
não me querem
não  toleram o que faço, 
o que digo e  penso,
mesmo os que não sabem como sou
Eu que vegeto e não conheço  ninguém, 
confesso, 
preciso de todos
 todos os amo e beijo sempre que posso e  abraço 
e os que não conheço mas preciso que me  abracem.
Preciso desses carinhos, 
senão morro de frio e fome de amor
morro sem ter amado, 
sem ter sido amada neste mundo enorme 
que todos os dias me invade e come

Sou do tamanho de todo o mundo
Na imensidão do meu cansaço
no desgaste do que sinto e penso,
na ausência do que não tenho
de tudo o que me roubaram, 
 que arrancaram de mim sem eu ver, 
sem eu  querer
e abruptamente violada por esse acto
sem pena ou dó, 
fizeram de mim este trapo nojento que  sou
reles, sem graça,
inculto, impuro por incompetência, 
por medo do desamor
indigno de ser gente


Quereria ser passarinho
ser cuidada com carinho
e ao contrário de todo o mundo que vive 
e luta para ser livre e andar solto
eu queria estar presa, guardada numa gaiola, 
viver resguardada, ter o carinho de um dono
e mais nada, mais nada...

Sou do tamanho de todo o mundo
Maior que o horizonte, 
mais profunda e  penosa no pensar 
que todos os oceanos
Maior nas falhas, e na pobreza do ter, 
maior na falta de amor que todo o universo
Que não é nosso, 
mas de alguém que o fez e é omnipotente

É o que creio, o que acreditava ontem, 
pois hoje não creio mais nada.
Será que como eu , 
o mundo, 
o universo surgiram também do  nada?
E no dia que nasci, 
por ser feia e ruim, 
destemperados se viraram todos contra mim,
me diminuíram, 
assustaram, me fizeram temer tudo,
me proibiram de sentir o amor que eu sonhei, 
que escalda, 
que revolta as entranhas, nos esmaga de prazer  
e eu não sei porque raio de vida parva não tive
não tenho e não vivi ainda?


Tenho falhas, 
ausências, 
medos que me atropelam
carências de toda a espécie, 
que a todo o instante me acordam e matam
me esfaqueiam a alma,
me fazem desfalecer
Sou do tamanho de todo o  mundo 
e existo nele
mas dele não sou nem sei nada,
nem quero saber
se ele não sabe de mim
que me importa





Fotos do Google

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Nasci de pernas para o ar



Nasci de pernas para o ar
Nessa manhã não havia anjos
As mulheres de branco, gritavam, giravam
e num coropio constante nunca paravam
E os anjos que eu sei são meigos e doces 
não berram nem correm aflitos
voam e têm asas macias e fofas 

E do buraco esquisito onde me encontrava
eu via-as a falar muito, meio desesperadas.
não não eram anjos mesmo que aflitos
Era o trabalho. Muito que fazer.
Muita gente a nascer.
E eu ali escondida, que culpa teria disso acontecer?

O céu não estava estrelado, era de manhã
E o Outono anunciava-se cinzento e mesclado.
Mais um a nascer, (era eu)
berravam, as que pareciam anjos fardados
A noite fora longa
O mundo crescera, já tinha mais gente
Seres que mamavam, dormiam ou choravam
no colo das mães, 
deviam ser mães as que os agarravam
ou que  em minúsculas camas dormiam  descansados



Vá, vamos lá, temos que o tirar!

Dizem que as estrelas só aparecem de noite
E de manhã se escondem com medo de ser pescadas
e eu sabia que isso era verdade  

Os homens e as mulheres acordados, bradavam  
e eu ainda escondida, ouvia-os assustada

As estrelas escondidas fugiram zangadas
Voltariam ou não à noite, quando aquele tumulto findasse

E as mulheres vestidas de branco, mas sem ser anjos,
estavam cansadas e barafustavam
para quê mais um?
Não sabia que eu era uma, 
bem feito, enganei-as, para nada mas enganei-as.

E quando nasci gritei assustada, de raiva e de medo
não queria nascer, estava tão guardada
mas elas com mãos certeiras, ferozes, zangadas
puxaram por mim, puxaram
rasgaram o ventre da minha mãe, as entranhas de onde saí

E naquele dia em que todo mundo parecia às avessas
sem estrelas, que estas fugiram  por ser de manhã,
sem sol, por estarmos no Outono
parei de gritei, apareci nua, fiquei muda, toda calada
e por isso levei, levei tantas  palmadas
até que de novo gritei, berrei muito e tudo
de raiva, de ódio, de medo, 
e também delas que me batiam sem eu ter feito nada
que não eram anjos,
apenas mulheres muito bem disfarçadas



Não tinham que me bater nem tinham que me berrar
Eu estava ali, mas não pedi a ninguém para nascer
Não tive colo, nem berço
sei lá agora se os tive, 
não me lembro de mais nada nem quero recordar

Só me vejo  mais tarde de carrapito apertado
No cimo da cabeça,
dos bibes com folhos e dos sapatos mal aparentados
Das proibições de não poder correr, saltar, andar de bicicleta
Não poder sair à rua, ir a festas, ao cinema, sair com amigas (os)
Não poder namorar, dar beijos a quem eu quisesse
recebê-los de graça, por amor, com sabor a morangos maduros
Por ambos nos gostarmos, nos queremos bem
Beijos e morangos e muita de outra fruta,
toda madura e uito gostosa
Até da mais comum, barata ou de graça, 
que nunca comi e só provei mais tarde, 
mas nesta altura, que pena que tive, com outro sabor

Não poder fazer nada, não conseguir viver como idealizara.



Sim, porque um dia aprendi a pensar
E desejei muito não ter nascido para não sofrer
não ser penalizada por ser mulher
Não estar presa, acorrentada, ser violentada pela vida
Dos direitos que me pertenciam e me foram roubados
Por ter nascido fêmea  e não homem, como era esperado.
raios partam os homens, raios parta eu e a vida que me fugiu depressa
não me deixou gozar, experimentar quase nada

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Amigas de verdade



Parece-me que foi ontem que andámos na escola
Tu sempre bonita, 


eu meio desgrenhada,
Tu sempre atenta, esperta
eu despercebida e meio acanhada
talvez pela diferença ficámos amigas
Gozavas comigo, do meu laçarote, 
dos meus bibes de folhos, 
dos meus sapatos grossos
Mas depois ensinavas-me as contas 
e inventavas histórias que nos faziam rir
que eu adorava ficar horas e horas a ouvir

Ficámos amigas, das de verdade,
Por vezes às avessas, outras nem tanto
Amigas do peito, a quem se diz tudo, 

mesmo que doa, mesmo que  mate
amigas sinceras, 
sempre unidas e honestas
Mesmo que tenha sido contigo 
que ficou o homem que eu queria e com quem tu casaste

que  me importa isso agora, 
se chorei tudo na altura que mo contaste

e já esqueci tudo
se foi depois comigo, 

chorando de loucura e raiva
que te confessaste traída, 
trocada
posta de lado



Gostavas dele, eu também,
prendeste-o porque o afagaste como a mim, 
com histórias  doces que inventaste
És meiga e doce, bonita 

e na verdade tu sabes,
eu sou feia, 


e foi só por isso que tu mo ganhaste
mas perdeste-o depressa
trocou-te por outra, alguém diferente,
de sapatos mais altos, influente,
que escreve e lê bem, que sabe inglês,
que é mestre no beijo e na cama, bem melhor do que tu
e perdoa que to diga, foi o que me contaste


deixa-o lá, não foi meu, não tinha que ser teu...
 
Pois se ainda te lembras, 
quando ele voou foi para mim que correste 

babada e ranhosa,
desfeita em lamentos,
tu que sabes tudo, que falas fluente até o alemão,
foi junto de mim que apareceste chorosa, 

despenteada, quase feia
e eu como sempre, animei-te
servi-te de mãe, acalmei-te
fiz-te lembrar que és única
minha amiga do peito, de mim e de toda a gente
mais de mim, que te ouço desde sempre mil histórias
que rio contigo às gargalhadas

e se choras 

choro contigo e  seco-te o rosto
e faço-te  ver quem não te merece


Agora vais partir? 
que saudades vou ter, 
que falta sentirei do teu calor amigo no seio do meu regaço 
de te dar abraços, quentes,  
fraternos
de te pentear e acalmar com os dedos, 
de te dizer sem medo e tu a mim 
o que nos fazia rir

Toma amiga, leva contigo este laço
Lembras-te? 

É a fita do meu cabelo, a que te fazia rir
a mim, a menina de ontem
hoje a mulher amiga em que me transformaste

que aceitou de ti  tudo como um elogio,
Toma, 
guarda-o bem amiga

e leva com ele o nosso último abraço
Eu fico 
com todas as histórias que sempre me contaste

sábado, 15 de dezembro de 2012

Amizade



Desde que me lembro
 que o teu sorriso me alegra e tira o medo
Fazíamos correrias, saltávamos à corda
 e tu trepavas às árvores com a ligeireza com que rias
de joelhos esfolados, sem dar um “ai”
juntavas-te a mim fazendo de marido,
eu que no chão
brincava às bonecas,  fazia de mãe atenta  
te cuidava os “aches” das quedas
e tu rias, rias,
pois sabias que era tudo mentira.


Namorámos 
e uma à outra
contámos do nosso primeiro beijo,
do sabor, do tempo e do resto.
do primeiro encosto, do rubor no rosto,
do gosto na língua,
do sabor do aperto do nosso corpo no corpo do outro 
Do doce na pele ao tocar, 
no sentir apalpar,
Do permitir e gostar no nosso corpo o sentir roçar
na alma a volúpia de ser amada e desejada
sem medo 
ou escondida e em segredo
E tu dizias sempre que tudo era bom
e eu abanava a cabeça, 
dizia que sim
e atenta calava, consentia e sorria, 
sorria feliz para mim


Casámos ambas
 e acreditámos ir ser felizes com os nossos amados
Com eles sonhámos futuros só nossos,
partilhámos desejos ardentes,
decepções impensadas, 
ultrapassadas
trocámos segredos do tudo e do nada
do meu desejo de ser logo mãe
e do teu de trepar, 
de fugir daqui, de voar,
viajar para longe,  mesmo que fosse só,
sem marido, sem filhos.
Pensavas deixá-lo só, certa que ele te esperaria.
Eu temia por ti e chamava-te louca
mas tu não desistias desse pensamento
e um dia lá foste
voaste em busca de outros sonhos

Sempre fomos diferentes,
unidas, amigas, 
mais que  irmãs nascidas da mesma barriga
mas sair daqui, e só, sem eles? 
Eu nunca sairia.
Os meus e os teus filhos cresceram
São livres,
 inteligentes
e o teu sonho continua a ser o mesmo, voar e voltar
Mas o meu, 
ficar, ficar sempre com eles.


Dizes-me que te vais agora e não vais voltar?
Como sabes, 
para mim foi sempre tarde
mas tu que não tens idade e és teimosa 
finalmente vais de vez sem medo de os perder.
Vai, vai e sê feliz, 
vê se consegues ser feliz, sem os ter junto de ti.
Eu não seria
 e morreria todos os dias mais um pouco.
Mas tu és outra, 
és forte e nunca desistes.


Não esqueças o nosso abraço,
Os segredos partilhados,
o carinho que nos demos
a nossa longa, 
eterna e imortal amizade
Sei que se não sou mais mulher, 
mais nada tudo do que tu
foi porque de menina te tive e terei para sempre
como a minha segunda pele, 
minha amiga do peito, que lamento não te voltar a ver.
Vai,
 mas vê se um dia voltas a tempo.

Fico com o eco do teu sorriso
para sempre comigo, 
com o cheiro do teu doce e profundo abraço
a amizade que não morrerá nunca 
dentro do meu peito.


Fotos do Google

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sangue...

Se tu pai não me tivesses feito
E tu mãe, não me tivesses parido
Agora não estava a sofrer,
Não sabia nada da vida
Não existia,
mas não me importava com isso

Teria uma existência nula
seria poeira, lixo, 
uma célula morta
mas não sofria, não via a dor, não a sentia

Que me importava saber se há lágrimas de alegria
se as que vejo cair dos olhos 
acarretam tortura e dor como as minhas
Para que quero saber se há sangue
que jorra das feridas e da alma de gentes
doentes, das guerras, de inocentes,
seres de toda a espécie, carentes de afecto e de amor, 
se em  que em todos o sangue é vermelho e dor, 
e eu não gosto de o ver
de lhe sentir o cheiro,
e sei que  salta a doer dos corpos que sofrem
muitos, quase todos sem culpa,
mas que sem querer 
lhe sentem o sabor na boca e na alma
e ainda guardam nos bolsos os restos,
vestígios para alguma força 
que lhes há-de servir de alento 
a outros pesares outras mágoas maiores  
a outras perdas diferentes, 
como não sei, mas que as há
eu sei que as há sempre


Perder um filho, perder um amante,
Ou um amigo, o mais querido de sempre,
Perder um vizinho, o mais próximo
perder um braço, um abraço terno, aquele de sempre
perder a mente, 
ficar no mundo a vegetar ao acaso

Morrer aos poucos, descalço, nu
sem lembranças, oco de pensamento
que se esvai da cabeça
como o sangue vermelho  se esvai de dentro da gente 
sem nunca pedir licença,
muito de dentro, mas também de fora 

E eu tenho medo, sinto-me aflita
estou com frio, fraca, sozinha, 
agarrada a algo que é vazio e cheira a bafio
E só vejo sangue, a tortura, a guerra, e mais sofrimento
a maledicências de todos até do parentesco


Tudo sempre tão cheio de mágoa, tão triste
Tão vil e cruel para merecer qualquer nascimento

Porque me fizeste, tu que és meu pai
E tu mãe, porque me pariste?
Se me tivesses falado eu teria dito: 
"não, não quero a vida"

Tenho medo mãe, 
estou sozinha, está escuro
E eu tenho medo da vida, ouviste  mãe, tenho medo
Preciso tanto do teu colo mãe
e das tuas mãos a afagarem-me o rosto e a cabeça
a fazerem-me esquecer
que o vermelho não é só sangue e dor
mas também pode ser uma flor 
uma rosa, uma  papoila.
uma flor silvestre qualquer apanhada no monte


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