Desde que me lembro
que o teu sorriso me
alegra e tira o medo
Fazíamos correrias, saltávamos à corda
e tu trepavas às árvores
com a ligeireza com que rias
de joelhos esfolados, sem dar um “ai”
juntavas-te a mim fazendo de marido,
eu que no chão
brincava às bonecas,
fazia de mãe atenta
te cuidava os “aches” das quedas
e tu rias, rias,
pois sabias que era tudo mentira.
Namorámos
e uma à outra
contámos do nosso primeiro beijo,
do sabor, do tempo e do resto.
do primeiro encosto, do rubor no rosto,
do gosto na língua,
do sabor do aperto do nosso corpo no corpo do outro
Do doce na pele ao tocar,
no sentir apalpar,
Do permitir e gostar no nosso corpo o sentir roçar
na alma a volúpia de ser amada e desejada
sem medo
ou escondida e em segredo
E tu dizias sempre que tudo era bom
e eu abanava a cabeça,
dizia que sim
e atenta calava, consentia e sorria,
sorria feliz para mim
Casámos ambas
e acreditámos ir ser felizes com os nossos amados
Com eles sonhámos futuros só nossos,
partilhámos desejos ardentes,
decepções impensadas,
ultrapassadas
trocámos segredos do tudo e do nada
do meu desejo de ser logo mãe
e do teu de trepar,
de fugir daqui, de voar,
viajar para longe, mesmo que fosse só,
sem marido, sem filhos.
Pensavas deixá-lo só, certa que ele te esperaria.
Eu temia por ti e chamava-te louca
mas tu não desistias desse pensamento
e um dia lá foste
voaste em busca de outros sonhos
Sempre fomos diferentes,
unidas, amigas,
mais que irmãs nascidas da mesma barriga
mas sair daqui, e só, sem eles?
Eu nunca sairia.
Os meus e os teus filhos cresceram
São livres,
inteligentes
e o teu sonho continua a ser o mesmo, voar e voltar
Mas o meu,
ficar, ficar sempre com eles.
Dizes-me que te vais agora e não vais voltar?
Como sabes,
para mim foi sempre tarde
mas tu que não tens idade e és teimosa
finalmente vais de vez sem medo de os perder.
Vai, vai e sê feliz,
vê se consegues ser feliz, sem os ter junto de ti.
Eu não seria
e morreria todos os dias mais um pouco.
Mas tu és outra,
és forte e nunca desistes.
Os segredos partilhados,
o carinho que nos demos
a nossa longa,
eterna e imortal amizade
Sei que se não sou mais mulher,
mais nada tudo do que tu
foi porque de menina te tive e terei para sempre
como a minha segunda
pele,
minha amiga do peito, que lamento não te voltar a ver.
Vai,
mas vê se um dia
voltas a tempo.
Fico com o eco do teu sorriso
para sempre comigo,
com o cheiro do teu doce e profundo abraço
a amizade que não morrerá nunca
dentro do meu peito.
Fotos do Google
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