sábado, 22 de dezembro de 2012

Não sou nada



Não sou nada, 
nem ninguém
Sou poeira, 
sou um reles e nojento trapo 
sou lixo que cheira mal, 
daquele da pior espécie, 
impróprio para tudo e nada
sou filha de ninguém
Não sei de onde vim, 
nem para onde vou,
De mim pouco sei ou nada
há muito que ando quebrada
partida , 
rasgada em mil pedaços
mas hoje sei o que quero 
hoje, como ontem preciso e quero mais do teu abraço
e do teu, e do teu, e mais do teu…
Sim,  do teu  que além  me foges e nunca me dizes nada

Para viver preciso do abraço de todos
mesmo dos que não me conhecem
não me querem
não  toleram o que faço, 
o que digo e  penso,
mesmo os que não sabem como sou
Eu que vegeto e não conheço  ninguém, 
confesso, 
preciso de todos
 todos os amo e beijo sempre que posso e  abraço 
e os que não conheço mas preciso que me  abracem.
Preciso desses carinhos, 
senão morro de frio e fome de amor
morro sem ter amado, 
sem ter sido amada neste mundo enorme 
que todos os dias me invade e come

Sou do tamanho de todo o mundo
Na imensidão do meu cansaço
no desgaste do que sinto e penso,
na ausência do que não tenho
de tudo o que me roubaram, 
 que arrancaram de mim sem eu ver, 
sem eu  querer
e abruptamente violada por esse acto
sem pena ou dó, 
fizeram de mim este trapo nojento que  sou
reles, sem graça,
inculto, impuro por incompetência, 
por medo do desamor
indigno de ser gente


Quereria ser passarinho
ser cuidada com carinho
e ao contrário de todo o mundo que vive 
e luta para ser livre e andar solto
eu queria estar presa, guardada numa gaiola, 
viver resguardada, ter o carinho de um dono
e mais nada, mais nada...

Sou do tamanho de todo o mundo
Maior que o horizonte, 
mais profunda e  penosa no pensar 
que todos os oceanos
Maior nas falhas, e na pobreza do ter, 
maior na falta de amor que todo o universo
Que não é nosso, 
mas de alguém que o fez e é omnipotente

É o que creio, o que acreditava ontem, 
pois hoje não creio mais nada.
Será que como eu , 
o mundo, 
o universo surgiram também do  nada?
E no dia que nasci, 
por ser feia e ruim, 
destemperados se viraram todos contra mim,
me diminuíram, 
assustaram, me fizeram temer tudo,
me proibiram de sentir o amor que eu sonhei, 
que escalda, 
que revolta as entranhas, nos esmaga de prazer  
e eu não sei porque raio de vida parva não tive
não tenho e não vivi ainda?


Tenho falhas, 
ausências, 
medos que me atropelam
carências de toda a espécie, 
que a todo o instante me acordam e matam
me esfaqueiam a alma,
me fazem desfalecer
Sou do tamanho de todo o  mundo 
e existo nele
mas dele não sou nem sei nada,
nem quero saber
se ele não sabe de mim
que me importa





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