Não sou nada,
nem ninguém
Sou poeira,
sou um reles e nojento trapo
sou lixo que cheira mal,
daquele da pior espécie,
impróprio para tudo e nada
sou filha de ninguém
Não sei de onde vim,
nem para onde vou,
De mim pouco sei ou nada
há muito que ando quebrada,
partida ,
rasgada em mil pedaços
mas hoje sei o que quero
hoje, como ontem preciso e quero mais do teu abraço
e do teu, e do teu, e mais do teu…
Sim, do teu que além me foges e nunca me dizes nada
Para viver preciso do abraço de todos
mesmo dos que não me conhecem
não me querem
não toleram o que
faço,
o que digo e penso,
mesmo os que não sabem como sou
Eu que vegeto e não conheço
ninguém,
confesso,
preciso de todos
todos os amo e beijo sempre que posso e abraço
e os que não conheço mas preciso que me abracem.
Preciso desses carinhos,
senão morro de frio e fome de amor
morro sem ter amado,
sem ter sido amada neste mundo enorme
que todos os
dias me invade e come
Sou do tamanho de todo o mundo
Na imensidão do meu cansaço
no desgaste do que sinto e penso,
na ausência do que não tenho
de tudo o que me roubaram,
que arrancaram de mim sem eu ver,
sem eu querer
e abruptamente violada por esse acto
sem pena ou dó,
fizeram de mim este trapo nojento que sou
reles, sem graça,
inculto, impuro por incompetência,
por
medo do desamor
indigno de ser gente
Quereria ser passarinho
ser cuidada com carinho
e ao contrário de todo o mundo que vive
e luta para ser
livre e andar solto
eu queria estar presa, guardada numa gaiola,
viver resguardada, ter o carinho de um dono
e mais nada, mais nada...
Sou do tamanho de todo o mundo
Maior que o horizonte,
mais profunda e penosa no pensar
que todos os
oceanos
Maior nas falhas, e na pobreza do ter,
maior na falta de amor que todo o
universo
Que não é nosso,
mas de alguém que o fez e é omnipotente
É o que creio, o que
acreditava ontem,
pois hoje não creio mais nada.
Será que como eu ,
o mundo,
o universo surgiram também
do nada?
E no dia que nasci,
por ser feia e ruim,
destemperados se
viraram todos contra mim,
me diminuíram,
assustaram, me fizeram temer tudo,
me proibiram de sentir o amor que eu sonhei,
que escalda,
que revolta as entranhas, nos esmaga de prazer
e eu não sei porque raio de vida parva não tive
não tenho e não vivi ainda?
Tenho falhas,
ausências,
medos que me atropelam
carências de toda a espécie,
que a todo o instante me
acordam e matam
me esfaqueiam a alma,
me fazem desfalecer
Sou do tamanho de todo o mundo
e existo nele
mas dele não sou nem sei nada,
nem quero saber
se ele não sabe de mim
que me importa
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