terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Amigas de verdade



Parece-me que foi ontem que andámos na escola
Tu sempre bonita, 


eu meio desgrenhada,
Tu sempre atenta, esperta
eu despercebida e meio acanhada
talvez pela diferença ficámos amigas
Gozavas comigo, do meu laçarote, 
dos meus bibes de folhos, 
dos meus sapatos grossos
Mas depois ensinavas-me as contas 
e inventavas histórias que nos faziam rir
que eu adorava ficar horas e horas a ouvir

Ficámos amigas, das de verdade,
Por vezes às avessas, outras nem tanto
Amigas do peito, a quem se diz tudo, 

mesmo que doa, mesmo que  mate
amigas sinceras, 
sempre unidas e honestas
Mesmo que tenha sido contigo 
que ficou o homem que eu queria e com quem tu casaste

que  me importa isso agora, 
se chorei tudo na altura que mo contaste

e já esqueci tudo
se foi depois comigo, 

chorando de loucura e raiva
que te confessaste traída, 
trocada
posta de lado



Gostavas dele, eu também,
prendeste-o porque o afagaste como a mim, 
com histórias  doces que inventaste
És meiga e doce, bonita 

e na verdade tu sabes,
eu sou feia, 


e foi só por isso que tu mo ganhaste
mas perdeste-o depressa
trocou-te por outra, alguém diferente,
de sapatos mais altos, influente,
que escreve e lê bem, que sabe inglês,
que é mestre no beijo e na cama, bem melhor do que tu
e perdoa que to diga, foi o que me contaste


deixa-o lá, não foi meu, não tinha que ser teu...
 
Pois se ainda te lembras, 
quando ele voou foi para mim que correste 

babada e ranhosa,
desfeita em lamentos,
tu que sabes tudo, que falas fluente até o alemão,
foi junto de mim que apareceste chorosa, 

despenteada, quase feia
e eu como sempre, animei-te
servi-te de mãe, acalmei-te
fiz-te lembrar que és única
minha amiga do peito, de mim e de toda a gente
mais de mim, que te ouço desde sempre mil histórias
que rio contigo às gargalhadas

e se choras 

choro contigo e  seco-te o rosto
e faço-te  ver quem não te merece


Agora vais partir? 
que saudades vou ter, 
que falta sentirei do teu calor amigo no seio do meu regaço 
de te dar abraços, quentes,  
fraternos
de te pentear e acalmar com os dedos, 
de te dizer sem medo e tu a mim 
o que nos fazia rir

Toma amiga, leva contigo este laço
Lembras-te? 

É a fita do meu cabelo, a que te fazia rir
a mim, a menina de ontem
hoje a mulher amiga em que me transformaste

que aceitou de ti  tudo como um elogio,
Toma, 
guarda-o bem amiga

e leva com ele o nosso último abraço
Eu fico 
com todas as histórias que sempre me contaste

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