sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sangue...

Se tu pai não me tivesses feito
E tu mãe, não me tivesses parido
Agora não estava a sofrer,
Não sabia nada da vida
Não existia,
mas não me importava com isso

Teria uma existência nula
seria poeira, lixo, 
uma célula morta
mas não sofria, não via a dor, não a sentia

Que me importava saber se há lágrimas de alegria
se as que vejo cair dos olhos 
acarretam tortura e dor como as minhas
Para que quero saber se há sangue
que jorra das feridas e da alma de gentes
doentes, das guerras, de inocentes,
seres de toda a espécie, carentes de afecto e de amor, 
se em  que em todos o sangue é vermelho e dor, 
e eu não gosto de o ver
de lhe sentir o cheiro,
e sei que  salta a doer dos corpos que sofrem
muitos, quase todos sem culpa,
mas que sem querer 
lhe sentem o sabor na boca e na alma
e ainda guardam nos bolsos os restos,
vestígios para alguma força 
que lhes há-de servir de alento 
a outros pesares outras mágoas maiores  
a outras perdas diferentes, 
como não sei, mas que as há
eu sei que as há sempre


Perder um filho, perder um amante,
Ou um amigo, o mais querido de sempre,
Perder um vizinho, o mais próximo
perder um braço, um abraço terno, aquele de sempre
perder a mente, 
ficar no mundo a vegetar ao acaso

Morrer aos poucos, descalço, nu
sem lembranças, oco de pensamento
que se esvai da cabeça
como o sangue vermelho  se esvai de dentro da gente 
sem nunca pedir licença,
muito de dentro, mas também de fora 

E eu tenho medo, sinto-me aflita
estou com frio, fraca, sozinha, 
agarrada a algo que é vazio e cheira a bafio
E só vejo sangue, a tortura, a guerra, e mais sofrimento
a maledicências de todos até do parentesco


Tudo sempre tão cheio de mágoa, tão triste
Tão vil e cruel para merecer qualquer nascimento

Porque me fizeste, tu que és meu pai
E tu mãe, porque me pariste?
Se me tivesses falado eu teria dito: 
"não, não quero a vida"

Tenho medo mãe, 
estou sozinha, está escuro
E eu tenho medo da vida, ouviste  mãe, tenho medo
Preciso tanto do teu colo mãe
e das tuas mãos a afagarem-me o rosto e a cabeça
a fazerem-me esquecer
que o vermelho não é só sangue e dor
mas também pode ser uma flor 
uma rosa, uma  papoila.
uma flor silvestre qualquer apanhada no monte


Fotos do Google

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