sábado, 4 de agosto de 2012

OS amores de MARTA!


Filipe era gastroenterologista, uma especialidade em desenvolvimento havia pouco tempo, desde o início de 1990, no principal Hospital do Funchal, especialidade que tinha tirado num hospital em Lisboa com muito sacrifício pois exigira dele várias vindas e idas ao Continente. 

Foi nessa altura que Sílvia desenvolveu dentro dela o  medo infundado de perder o seu amor. Quando das ausências absolutamente necessárias de Filipe ao Continente, quando este preparava a sua especialização, ele entendia a sua angústia e tristeza e tentava compensá-la por ter que a deixar, a ela e ao filho, esses períodos sem ele, sem nunca imaginar que ela se transformaria com isso numa mulher tão ciumenta e possessiva.

Mas na verdade a partir dessa altura Sílvia apesar das várias virtudes que tinha, deixou aumentar dentro de si sentimentos de posse excessivos e outros análogos que em nada a beneficiavam. 
Se supusesse que o marido tinha um caso com alguém, ninguém lhe demovia essa inquietação e mania da cabeça. Inventava-lhe namoros com enfermeiras ou médicas colegas, comparando a vida dele à vida passada num filme ou qualquer novela da TV, onde houvesse um protagonista que sendo médico vivia de namoricos no hospital. 

Sílvia tornava-se assim por vezes uma mulher difícil, o que lhe dava instabilidade e inconstância emocional para orientar o seu dia-a-dia com calma e serenidade. Se pudesse, teria o marido sempre junto de si, sendo professor como ela, preso a ela como um animal de estimação, ou uma jóia rara, mas sabia que isso não podia ser. De nada valiam os conselhos que as amigas lhe davam quando ela se lamentava, pois até delas desconfiava por lhe dizerem bem do marido. 
Filipe gostava dela, e ao princípio até gostava de ser tão adorado, mas ultimamente já lhe incomodava o seu excessivo zelo e as imensas questões que ela lhe colocava.
Se o marido chegava mais cedo a casa, ela desconfiava, mas se se atrasava desconfiava também. Se tinha algum serviço extra não agendado, alguma urgência ou até uma substituição que fizesse para ajudar um amigo tendo que pernoitar inesperadamente no hospital, Sílvia desorientava-se igualmente e enchia-o de perguntas quando ele chegava a casa. Imaginava-o constantemente envolvido com enfermeiras ou médicas bonitas que faziam com ele tudo o que lhes estava vedado, por não passarem de colegas.

Aquela relação era estranha, não pela falta de amor entre ambos, mas pelo amor em excesso e doentio, pela falta de compreensão e desconfiança de Sílvia no marido, ela que ia sofrendo em silêncio todas as situações mirabolantes que criava na sua cabeça, como se fossem de facto verdades vividas por Filipe. Pensava muitas vezes que acreditava e confiava nele, queria muito admitir isso, mas não confiava nas mulheres que o rodeavam. 

Ultimamente havia dias que Filipe chegava tão cansado que fazia tudo para não dar muita importância ao que Sílvia lhe dizia, para não se aborrecer. Precisava de descanso e sabia muito bem que a mulher o amava, que tudo o que esta lhe dizia era pura imaginação, mas as suas conversas sempre sobre o mesmo assunto enfadavam-no. 
Amavam-se, mas muitas vezes amuavam e ficavam aborrecidos pelas dúvidas doentias e descabidas de Sílvia. Filipe não podia tratar da mulher como uma doente, não aprovava nem aceitava isso, mas ele sabia que ela era uma pessoa ansiosa, obcecada e compulsiva. 


Sílvia ainda não se apercebera que sem dar conta estava gradualmente a afastar dela o homem a quem tanto queria. Mas pouco havia a fazer, pois eram as suas vidas e Sílvia parecia cega.
Sílvia vivia tão enciumada, que ao ver Marta naquela tarde tão jovem e viúva mas tão segura de si e com uma filha crescida para a sua idade, não conseguiu evitar que sobrevoasse pela sua mente um rasto de inveja pela sua postura e atitude firmes, surgindo-lhe a ideia que o melhor seria o marido nunca mais a encontrar, como se isso fosse possível acontecer daí para a frente numa ilha como aquela. 

Afinal nunca se tinham encontrado até àquele dia, mas a partir daí como os filhos eram colegas e amigos, não seria difícil isso voltar a suceder nalgum encontro casual e isso assustava Sílvia, fazendo-a tremer. 
Ela iria fazer tudo para o filho não brincar de coisa alguma com Joana, muito menos pensar em a namorar mesmo que só de brincadeira, para evitar que Filipe um dia encontrasse aquela jovem viúva e bonita  que lhe pareceu tão elegante, de quem ela não tinha nada a apontar senão o facto de ser desimpedida, pois ainda se poderia atirar um dia nos braços do marido.

"Um excerto do romance que ando a escrever:) Ainda sem revisão!"

Inês Maomé 


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