Tenho os pés as pernas,
o corpo inteiro
cheios de areia
grudada em mim,
áspera e tão grossa
que me corta a pele
me seca a carne,
me chega à alma,
que não consigo pensar
e manter-me de pé,
inteira.
Na cabeça confusa
montes de terra grossa,
autênticos pedregulhos
negros, pesados e duros
imagens distantes,
cenas vividas atrás,
acontecimentos passados,
dispersos,
que deviam estar esquecidos
bem sei, mas não estão.
Inundam-me também cenas presentes,
perturbações recentes
penosas, recorrentes,
que pesam sobre os meus ombros,
me corroem por dentro
e querem enterrar-me viva,
sufocar-me de dor
de aflição, não resisto
e sofrida, dorida
só consigo gritar: NÃO!
Sei que sou parva,
incompetente
agora descrente de tudo,
acredito possível essa invasão
e consinto-a lentamente,
cada dia mais um pouco.
E a areia e a terra,
o peso do mundo inteiro
invadem-me num todo
e o meu corpo lascivo permite-o
porque estou farta,
não tenho forças,
estou cansada
e não tenho soluções
para nada do que sinto.
Que situação incrível!
Não sei mais o que sou,
e nem sequer porque existo.
Já não sinto amores
como antigamente,
nem paixões ardentes me avassalam.
O meu corpo já não vibra de emoções,
e de mim,
desapareceram as marés
dos sonhos que outrora me embalavam,
me faziam ruborescer,
povoavam a minha mente,
me faziam sorrir de amor,
sonhar e pensar que a felicidade existe,
fazendo de mim outro ser,
uma mulher diferente.
Que faço eu agora, escrevo?
mas o quê?
se não sei escrever nada
nem sequer sei o que sinto?
Porque não paro?
se dito ao papel, palavras soltas
simples, banais,
largadas ao vento,
sem nexo, sem sentido,
palavras loucas
que a mim nada dizem
nem me aliviam o peso que sinto.
Então porque as escrevo,
sim?
porque as escrevo afinal, ´
se não as entendo também?
E num grito aflito, paro,
solto a caneta, e grito de novo: NÃO!
A terra não me vai engolir que eu não deixo.
Fotos do Google
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