quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Saudades do mar, da areia ...do antigamente....


Tanto mar
tanto ir, tanto voltar,
tanta luta deste mar imenso, 
tanto batalhar intenso 
e a areia dourada na praia 
recebe-o sempre serena,
deixando que ele incansável
lhe bata,
lhe bata constantemente
sem nunca gemer um"ai"
sem proferir um lamento.
E num ir e vir permanente
ouvindo dele grunhidos,
sussruros, 
ralhos que parecem loucos,
ela deixa-o sempre bater-lhe, 
bater...
bater-lhe eternamente.

Passa gente,
num compasso apressado ou lento,
mas passa constantemente
olhando ora um lado ora outro, 
quase sempre 
desatentas a outras gentes
e ao mar que as cobiça 
e a todas convida  a entrar
porque as deseja abraçar 
sempre, sempre 
gratuitamente.

Passa gente que vai e volta
que conversa sobre a vida, 
sobre o tempo,
gente descontraída
que não se cansa
gente que conversa e ri, 
que falam de mil coisas diferentes.
Decerto gente feliz.

Gente despida, quase nua
de carnes expostas ao sol
magras escanzeladas, 
gordas, altas, baixas
muito ou pouco torneadas,
bonitas ou feias
isso que importa,
mas passam e falam muito
e parecem ser felizes 
que eu como o mar bem as olho
e não ouvindo o que dizem
vejo que sorriem
e dão gargalhadas.

Mas eu aqui parada
só quero olhar o mar
e se pudesse
queria falar-lhe, 
conversar com ele,
confessar-lhe como agora ao contrário dele
sempre no seu constante labutar,
que não o cansa, não o muda,
não o faz padecer nada,
estou diferente no sentir, no querer e até no amar.

Mas muito descontente,
por esta gente que não para de passar,
não consigo dizer-lhe nada,
contar-lhe o que tenho feito,
como tenho vivido, 
sentido a vida,
falar-lhe do que hoje me rodeia,
não consigo dizer-lhe do meu pesar,
desde que eles deixaram de vir vê-lo,
que deixaram de pisar comigo este areal infindo.

Admiro este mar profundo,
bendito e fresco no olhar,
no seu trabalhar ruidoso, incessante e belo,
sinto na pele o sol intenso e quente
que espelha na areia raios de luz brilhante,
oiço o convite que juntos
me fazem constantemente,
a pisar o areal ardente
e depois mergulhar no mar, sem medos,
como fazia com eles antigamente.

Mas eu estou diferente,
e não quero.
Ao contrário do mar que  não envelhece,
extenso azul e verde até ao horizonte,
eu sou como a areia que fica
que muda e desanda continuamente,
mas sempre lhe abre os braços ternos e o amansa,
e o deixa depois partir docemente,
como se fosse gente,
tal como eu fiz 
e faço agora com eles
que partiram para o mundo
e voltam soltos e livres para mim
como se fossem mar e eu um areal imenso
para os receber cada instante.


Fotos dos Google

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