No princípio o pouco era tudo e não era nada.
Os dedos entrelaçados
falavam uns com os outros inventando
segredos
Os olhares trocados
proferiam desejos mudos,
sussurravam do
sol e do tempo
As bocas, sequiosas beijavam-se a medo,
largavam sorrisos,
suspiravam ais
E as mãos, sôfregas e a receio,
afagavam os corpos tapados.
Palpavam-se, esfregavam-se tementes
e diziam as gentes: que
isso era amor.
Com o tempo esse amor brando
enredou-se, complicou-se, teve
um fim
Nunca fora mais que um ténue raio de sol
num dia de Inverno e
só isso.
Vivia suspenso, preso a algo,
por um simples clip e
soltou-se.
Agora todos falam, gritam e declaram:
“quero-te”, “amo-te”,
“desejo-te”
dizem isto e com isso acham-se completos,
perfeitos e fazem
sexo de todo o jeito,
embrulham-se em qualquer canto,
no lodo de um desejo brusco
Jogam sujo, dizem amar-se,
lutam com os corpos a algo que os
leva a um fim deserto,
um escasso ápice de prazer volúvel
a que não chamo amor,
mas
fim de nada e de tudo.
Para mim amor é mais que vida,
é amar-te e tu a mim,
perdidamente,
com um amor que faz suar até à alma,
molhar a cama, fazer do
leito vida,
e dos suspiros e ais,
criar uma fonte inesgotável de alento.
Com o meu corpo cingido ao teu, unidos na carne e no espírito,
colados até ao infinito,
numa pele que não é minha nem tua, mas nossa,
sermos um só
corpo em chama.
Sentir nesse enleio,
o teu corpo flutuar no meu e nele
permanecer e tu em mim
O nosso coração, o mesmo,
com um bater próprio, num compasso
marcado,
apaixonado e louco,
muito mais que amante, ser um Deus celeste.
E depois de os nossos corpos vibrarem cansados,
gritarem e
gemerem: juntos serem.
Existirmos e ficarmos esquecidos, sempre,
do mundo que fora de
nós é nada.
No amor que eu creio,
dá-se e recebe-se tudo
e só se existe naquele
puro instante.
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