quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

No princípio...


No princípio o pouco era tudo e não era nada.
Os dedos entrelaçados 
falavam uns com os outros inventando segredos

Os olhares trocados 
proferiam desejos mudos, 
sussurravam do sol e do tempo
As bocas, sequiosas beijavam-se a medo, 
largavam sorrisos, suspiravam ais

E as mãos, sôfregas e a receio, 
afagavam os corpos tapados.
Palpavam-se, esfregavam-se tementes 
e diziam as gentes: que isso era amor.

Com o tempo esse amor brando 
enredou-se, complicou-se, teve um fim
Nunca fora mais que um ténue raio de sol 
num dia de Inverno e só isso.
Vivia suspenso, preso a algo,
 por um simples clip e soltou-se.

Agora todos falam, gritam e declaram:
 “quero-te”, “amo-te”, “desejo-te”
dizem isto e com isso acham-se completos, 
perfeitos e fazem sexo de todo o jeito,
embrulham-se em qualquer canto, 
no lodo de um desejo brusco

Jogam sujo, dizem amar-se,
lutam com os corpos a algo que os leva a um fim deserto,
um escasso ápice de prazer volúvel 
a que não chamo amor,
mas fim de nada e de tudo.


Para mim amor é mais que vida,
é amar-te e tu a mim, perdidamente,
com um amor que faz suar até à alma, 
molhar a cama, fazer do leito vida,
e dos suspiros e ais, 
criar uma fonte inesgotável de alento.

Com o meu corpo cingido ao teu, unidos na carne e no espírito
colados até ao infinito,   
numa pele que não é minha nem tua, mas nossa, 
sermos um só corpo em chama.
Sentir nesse enleio, 
o teu corpo flutuar no meu e nele permanecer e tu em mim  
O nosso coração, o mesmo, 
com um bater próprio, num compasso marcado,
apaixonado e louco, 
muito mais que amante, ser um Deus celeste.


E depois de os nossos corpos vibrarem cansados, 
gritarem e gemerem: juntos serem.
Existirmos e ficarmos esquecidos, sempre, 
do mundo que fora de nós é nada.

No amor que eu creio, 
dá-se e recebe-se tudo 
e só se existe naquele puro instante.


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