Adormeci sem
hora e acordei aflita
sem fôlego e
abalada
envolvendo-me
uma angústia que conheço há muito.
Sentia que
não estava bem,
e nem parecia que ali estava
porque a
dormir nunca estou calma e parada,
mexo-me, contorço-me
no pensamento,
pareço outra
pessoa,
não sei para onde vou, de onde venho,
vivo uma outra vida, é o que me parece.
A minha
cabeça percorre caminhos que estranho,
cantos, estradas,
rumos
e muitos lugares onde me vejo
onde corro
ofegante,
desejo e penso amando,
onde sofro e choro porque me rejeitam
lugares que desconheço,
que nunca vi antes
que me
atormentam a alma,
o coração e a mente.
Sempre que
adormeço
e me envolvo sonhos dentro
quando
acordo como ontem
ou agora,
sinto-me como
se o mundo
parasse de repente,
como se
aterrasse doutra aurora,
num cais que
nunca foi meu,
que não existe
e depois disso
paro
assustada,
muitas vezes
julgando-me doente.
Depois olho
para mim
e sei-me aqui,
aos poucos
relaxo
e acredito que foi tudo sonhado
que dormi
e
acordei de mais um duro pesadelo.
Durmo,
e
sonho sempre,
vivendo em turbilhão
outras vidas
que não são minhas,
mas me
pertencem,
são sonhos nítidos,
contagiantes
que me fazem
sofrer,
ter medo,
me assustam
e nunca por nunca ser
me fazem
sorrir ou acordar contente.
Inundam-me
constantemente o meu descanso
angustias que não domino,
que se
apoderam de mim e não me largam
desgastando-me,
deixando-me aflita e perturbada:
casas
velhas, feias, inundadas de água,
móveis velhos, com bolor e trapos,
escadas,
muitas escadas de mil formas,
soltas no ar,
bambaleando sem corrimão,
sem ter fundo,
largas, estreitas, profundas,
difíceis,
impossíveis de subir ou de descer,
de onde me vejo
cair solta sem saber onde vou ter,
e quando
largas de pedra mal esculpida,
cheias de
musgo e ervas
onde colocando os pés caio de seguida
tentando em
vão segurar-me com as mãos,
e´um susto, uma aflição imensa,
e nessas horas penso mesmo que vou morrer.
O coração bate a mais de cem à hora.
Acordo assustada,
suada,
com o bater do coração acelerado
e só então reparo que estou no meu colchão
na minha cama, que não saí dali,
que tenho os pés no chão.
Salas velhas,
mal arrumadas
com malas
escancaradas pelo chão,
roupas
negras, estranhas, por todo o lado
camas
desarrumadas,
portas e
janelas antigas, nada ensolaradas
gentes de rostos desconhecidos ou por vezes não,
Velhos e novos que se amam ou batem,
que se esfregam, não distingo bem,
amantes de face apagada
que me interrogam, me afiglem pelos gritos
abraçando-se
entre berros,
incompletos, não sei se sendo felizes ou não,
mas me angustiam, me devoram de noite,
me assustam em vão.
Crianças de
bibe, tristes, mal cuidadas,
carentes de
colo, de mimo, de outros mil cuidados,
crianças com
medo de nada e de tudo
como eu, crianças
que vivem, vivenciando tudo aquilo
cobertas de
medo, querendo regaço e mimo de mãe
Chorando
assustadas, gritam pedindo ajuda
querem como eu quero, sair dali para longe,
mas deixadas no
mundo, sozinhas sem ter nada
vivem ali
presas,
em silêncio encurraladas
sentindo tudo e vendo o que não querem ver
angustiadas só pedem clemencia e paz.
Eu como
elas, parada e
muda
fico mais queda ainda e nada faço,
pois que posso fazer?
Que angustia,
que aflição a minha.
De repente
suada, acordo e choro, choro muito.
Uma criança
só, uma delas eu sei que pareço eu,
o resto: o
desarrumo, a água, o bolor, a casa velha,
as escadas
enroladas de degraus curtos,
as malas escancaradas,
isso se me diz algo, eu quero
esquecer.
São tudo sonhos
que tenho quando durmo
Quero esquecê-los
quando vivo acordada
Sinto-me mal
amada, não querida, não desejada.
Despertar é
para mim sempre um outro dia,
que sei pode
ser duro,
mas tenho
que o viver de olhos abertos,
escancarados
para tudo preparada
pois sei,
que esses sonhos danados de estranhos
vão sempre voltar,
quer eu esteja a dormir,
quem sabe um dia, estando acordada.
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