quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Aquela casa...


Encostei-me ao portão 
e deixei-me ali ficar sem olhar ao tempo
Sonhei, pensei como tudo fora antes
Porque ali, 
agora só vou  de vez em quando
e aquele dia era importante
Não vou todas as vezes como deveria,
porque está tudo diferente 
e não me sinto ali aceite
Antes entrava por ali dentro
e aquele corredor comprido que hoje me assusta
dava-me conforto e confiança.
Hoje mete-me medo, envergonha-me, assusta-me

Então 
pensei nos beijos dados de fugida, 
repetidos,
 doces e macios e sempre poucos
Nos abraços de namorada apaixonada
(lembras-te)
e alguém com pressa a chamar-me pelo nome, lá de dentro



Pensei, pensei, até que as grades gravadas na cabeça
me fizeram doer e sentir que não estava ali por acaso,
Magoada pelos ferros,
pelo barulho dos chinelos gravado na minha cabeça,
arrastando pelo chão um corpo que bem conheço
mas que nega dar-me 
além de alguma atençao a mão

Acordei de um sonho antigo, vivido antes , 
mas presente em mim sempre
vivido ali e não noutro lugar.
Aquela fora a minha casa durante muito tempo.
Fora ela, que mal ou bem me acolheu e tapou o medo,
me prendeu e proibiu de ser livre,
mas me ajudou a conhecer o outro lado de mim
o meu avesso,
a mulher que eu queria e sonhava ser e comecei a nascer ali,
contigo a meu lado



Aquele corredor, 
longo,
que outrora  fiz muitas vezes aos pulos de contente,
onde me abraçaste e eu em ti ficava eternamente enlaçada,
se não tivesses que partir a uma certa hora,
aquela não é hoje a mesma casa.

Agora tem grades,
o corredor parece mais longo e apesar de branco e amarelo
mostra-se para mim sempre enevoado
e dá-me medo, é mais comprido,
e "tu" já lá não estás para me abraçar e beijar como antigamente
"Tu" estás aqui comigo,
nesta casa que é a nossa e não tem grades,
nem mãos fechadas, mas corações abertos.
Por isso tenho medo de lá ir,
bater à porta
Tenho medo das passadas, das grades pretas,
Porque ali eu não sou eu,
volto de novo a ser criança
e tremo assustada.


E com tudo isto,  
esqueci por que fui ali naquele dia
Aqueles que me deram o ser, estão unidos
(com todos os azedumes e desavenças, mas estão),
à sessenta e muitos anos e tenho a certeza, até ao fim da vida
Afinal fui lá para lhes agradecer, 
dar um mimo e um abraço.
Mas não estavam, 
estava tudo fechado e as grades pretas trancadas.
Parabéns 
e apesar de tudo obrigada.



Fotos do Google

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