domingo, 20 de janeiro de 2013

Sonhos...Sonhos...




Adormeci sem hora e acordei aflita
sem fôlego e abalada
envolvendo-me uma angústia que conheço há muito.
Sentia que não estava bem,
e nem parecia  que ali estava 
porque a dormir nunca estou calma e parada,
mexo-me, contorço-me no pensamento,
pareço outra pessoa, 
não sei para onde vou, de onde venho,
vivo uma outra vida, é o que me parece.  

A minha cabeça percorre caminhos que estranho,
cantos, estradas, rumos 
e muitos lugares onde me vejo
onde corro ofegante, 
desejo e penso amando,
onde  sofro e choro porque me rejeitam
lugares  que desconheço, 
que nunca vi antes
que me atormentam a alma, 
o coração e a mente.


Sempre que adormeço 
e me envolvo sonhos dentro
quando acordo como ontem 
ou agora,
sinto-me como se o mundo 
parasse de repente,
como se aterrasse doutra aurora,
num cais que nunca foi meu, 
que não existe
e depois disso 
paro assustada,
muitas vezes julgando-me doente.

Depois olho para mim 
e sei-me aqui,
aos poucos relaxo 
e acredito que foi tudo sonhado
que dormi 
e acordei de mais um duro pesadelo.

Durmo, 
e sonho sempre, 
vivendo em turbilhão
outras vidas que não são minhas,
mas me pertencem,
são sonhos nítidos, contagiantes
que me fazem sofrer, 
ter medo,
me assustam e nunca por nunca ser
me fazem sorrir ou acordar contente.

Inundam-me constantemente o meu descanso
angustias que não domino,
que se apoderam de mim e não me largam
desgastando-me, 
deixando-me aflita e perturbada:
casas velhas, feias, inundadas de água,
móveis velhos, com bolor e trapos,
escadas, muitas escadas de mil formas, 
soltas no ar, 
bambaleando sem corrimão, 
sem ter fundo, 
largas, estreitas, profundas,
difíceis, impossíveis de subir ou de descer,
de onde me vejo cair solta sem saber onde vou ter,
e quando largas de pedra mal esculpida,
cheias de musgo e ervas
onde colocando os pés caio de seguida
tentando em vão segurar-me  com as mãos, 
e´um susto, uma aflição imensa,
e nessas horas penso mesmo que vou morrer.

O coração bate a mais de cem à hora.
Acordo assustada, suada, 
com o bater do coração acelerado
e só então reparo que estou no meu colchão
na minha cama, que não saí dali, 
que tenho os pés no chão.

Salas velhas, mal arrumadas
com malas escancaradas pelo chão,
roupas negras, estranhas, por todo o lado
camas desarrumadas,
portas e janelas antigas, nada ensolaradas
gentes de rostos desconhecidos ou por vezes não,
Velhos e novos que se amam ou batem, 
que se esfregam, não distingo bem,
amantes  de face apagada
que me interrogam, me afiglem pelos gritos
abraçando-se entre berros, 
incompletos, não sei se sendo felizes ou não,
mas me angustiam, me devoram de noite, 
me assustam em vão.

Crianças de bibe, tristes, mal cuidadas,
carentes de colo, de mimo, de outros mil cuidados,
crianças com medo de nada e de tudo
como eu, crianças que vivem, vivenciando tudo aquilo
cobertas de medo, querendo regaço e mimo de mãe

Chorando assustadas, gritam pedindo ajuda
querem como eu quero, sair dali para longe,
mas deixadas no mundo, sozinhas sem ter nada
vivem ali presas, 
em silêncio encurraladas
sentindo tudo e vendo o que não querem ver
angustiadas só pedem clemencia e paz.
Eu como elas, parada e muda 
fico mais queda ainda e nada faço,
pois que posso fazer?

Que angustia, que aflição a minha.
De repente suada, acordo  e choro, choro muito.
Uma criança só, uma delas eu sei que pareço eu,
o resto: o desarrumo, a água, o bolor, a casa velha,
as escadas enroladas de degraus curtos, 
as malas escancaradas,
isso se me diz algo, eu quero esquecer.



São tudo sonhos que tenho quando durmo
Quero esquecê-los quando vivo acordada
Sinto-me mal amada, não querida, não desejada.

Despertar é para mim sempre um outro dia,
que sei pode ser duro,
mas tenho que o viver de olhos abertos, 
escancarados
para tudo preparada
pois sei, que esses sonhos danados de estranhos
vão sempre voltar,
quer eu esteja a dormir, 
quem sabe um dia, estando acordada. 


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