Chorar é o
que me apetece,
chorar muito e sempre, sem parar
Chorar para aliviar a pressão, o susto e a dor
e não parar de o fazer por um momento
Tenho dentro
de mim algo que não identifico e me devora
A tortura de
horas vividas numa espera longa que não findava
A expectativa
de algo que ia acontecer,
se desejava apressada
mas demorava a
surgir,
uma demora longa, desesperante,
lenta e magoada.
Chorar, chorar
e de repente olhar em toda a plenitude
o tempo,
senhor
de si a toda a hora,
a rua,
as casas da
cidade iluminada,
a natureza
viva,
verde e linda que se agitava com o vento,
o fresco da
chuva,
os pingos de água pura que escorriam pela janela
que se
misturavam de fora para dentro
com as lágrimas que caiam dos meus olhos
e imaginar
que chorava por nada.
Tudo era um sonho passageiro,
e o resto
era a vida que girava.
Pensar que tudo
parece perfeito,
olhando cá de cima deste lado,
pensar que tudo é
são e está correcto,
é um engano ledo,
pura fantasia, mas é o certo,
senão damos todos em doidos,
loucos apavorados.
Os carros
que deslizam acelerados nas avenidas
As pessoas
que aqui do alto,
apressadas,
me parecessem perfeitas
tudo e todos me enganam e se enganam sem saber
Mas é assim que a vida passa
e avança cada dia.
Sei bem
por mim,
que tudo é pura fantasia
Muito do que
gira à minha volta, à frente e atrás de mim
está imperfeito e doente,
todos corremos riscos que desconhecemos e não cremos,
o risco de estar mal e não o saber até ao último instante.
Quantas vezes
o mal entra sem bater à porta
instala-se
de poltrona,
avança e fica entre nós
como se fosse coisa muito nossa e desejada,
faz-se mordomo,
senhorio da nossa casa,
e sem pedir licença,
ali fica
e se lhe apetecer se instala
até nos destruir a mente o corpo
Chorar é o
que me apetece,
chorar e assim ficar até aliviar...
chorar sempre.... Chora, chorar, chorar...
Que hei-de
escrever aqui
que me alivie a alma
Que hei-de
dizer aqui,
que me liberte destes pensamentos duros
que me
magoam,
me fazem doer a alma e o sentir do coração
me assustam,
metem medo,
me enchem a cabeça de um silencio permanente
mudo e inquieto,
uma
inquietação calada e constante
que me põe louca.
Não,
de verdade
não sei o que fazer,
não consigo dizer nem pensar nada
Só sei e
quero chorar,
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