sábado, 5 de janeiro de 2013

Abraça-me


Abraça-me forte
e ama-me até me faltar o ar,
pode ser de mansinho,
sem que o notem os passarinhos
mas sempre com carinho 

como se não houvesse outra vez, 
nem outra nunca mais
que o mundo pode acabar
e se eu morrer hoje, quero morrer de amor
fazendo da tua a minha pele,
sentindo o teu cheiro amante
sim, quero ficar colada a ti,
como se tu e eu fossemos um só corpo, 

uma só alma completa
quero esquecer contigo que este mundo que é o nosso
está perdido,
esquecer as bombas, os homens que morrem
e os que os matam
as guerras loucas e infinitas 

em que vivemos e não acabam.



Sim, 
quero esquecer que há filhos que matam pais,
e pais que matam os filhos,
que os fazem arder vivos,
e em seguida feitos loucos
vão passear e dormir no cais

Pais, que violam os filhos
e outros pais que os trucidam e enterram vivos,
avós que vivem sozinhos,
velhos solitários sem raízes, sem nada,
sem roupa, comida ou qualquer carinho

Sim,
isto é sério
pois ninguém tem tempo para dar afecto a um farrapo velho

E os velhos que fizeram o mundo girar
aparecem secos,
mirrados pelo vazio,
a cheirar ao podre da solidão


Como está diferente e revoltado o mundo, 

não vês amor?
Sujo, quase impróprio e impuro

Sim, 
como está diferente de há anos atrás
quando ainda éramos crianças,
quando não líamos jornais nem víamos televisão.

Destroem-se lentamente todos os valores morais
mas deixa lá, 

vem, esquece-os por hoje
vem ter comigo e abraça-me forte
faz-me esquecer que existimos neste mundo

porco e imundo
traiçoeiro e vil
faz-me sentir uma rainha
dá-me tudo o que tens contigo 
que em troca eu dou-te tudo o que tenho ainda
e depois de me amarese eu a ti

deixa-me adormecer no teu regaço
fica tu no meu colo amante, 
por ti renascido, hoje  mais feliz que antes

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