sábado, 5 de janeiro de 2013

Sei que sou louca...


Vou rasgar de mim a carapaça que me tapa
Vou gritar ao mundo que tudo está imperfeito
Sim, vou dizer a todos que não estou contente
Que fui ver o mar e ele danado 
cuspia lixo, latas, vómitos de gente

E pouco me importa que me chamem louca
Porque me hei-de importar agora seja do que for,
se durante tanto tempo tudo fiz
e nada recebi em troca?

Agora que estou velha, 
sim velha e só, tudo me acontece,
mas de mal
roubam-me, ignoram-me até me batem
Não gosto deste mundo enlouquecido, 
sim, juro que não gosto



Nunca gostei, 
nunca foi meu por inteiro
Nunca me acolheu como eu gostaria, 
sempre o senti vil e traiçoeiro
Queria fugir para outros continentes,
ir em busca de outra vida, outros quereres
o querer só um pouco do tudo que sinto tenho direito

Queria entrar pelo mar adentro como Moisés
Ou voar nas asas de um pássaro
Ir par um lugar distante e andar por lá nua e descalça, 
sim descalça, nua na alma e livre como um pássaro,
de chinelo no pé e um farrapo a tapar-me a solidão 
e eu sei que isso me bastaria

Fazer negócio de rua, vender laranjas,
viver numa tenda qualquer feita de farrapo
Mas libertar-me deste peso que me avassala,
Sim, que me sufoca e mata 
e não me deixa ser feliz sequer um dia,
Aprender a rir sem pensar que há coisas que aos poucos me destroem e avassalam


Aqui não sou nada, 
sim, 
eu sei que pouco fiz, que pouco valho
falta-me a graça, 
a firmeza na vontade
a força de andar p`ra frente, 
a capacidade de voar 
e fazer o que me apetece.

Vivo num barco que baloiça, 
e me enjoa
Sim, 
num barco que não é meu 
nem de ninguém 
que não aprendi a comandar
onde  não quero mais viver a suspirar 
a tremer de medo, 
aflita sempre aos ais 
com a certeza de um dia 
quem sabe, não muito longínquo 
decerto vou afundar,
afundar.

Fotos do Google

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