Vou rasgar
de mim a carapaça que me tapa
Vou gritar
ao mundo que tudo está imperfeito
Sim, vou
dizer a todos que não estou contente
Que fui ver
o mar e ele danado
cuspia lixo, latas, vómitos de gente
E pouco me
importa que me chamem louca
Porque me
hei-de importar agora seja do que for,
se
durante tanto tempo tudo fiz
e nada
recebi em troca?
Agora que
estou velha,
sim velha e só, tudo me acontece,
mas de mal
mas de mal
roubam-me, ignoram-me
até me batem
Não gosto
deste mundo enlouquecido,
sim, juro que não gosto
Nunca
gostei,
nunca foi meu por inteiro
Nunca me
acolheu como eu gostaria,
sempre o senti vil e traiçoeiro
sempre o senti vil e traiçoeiro
Queria fugir
para outros continentes,
ir em busca de outra vida, outros quereres
o querer só um pouco do tudo que sinto tenho direito
ir em busca de outra vida, outros quereres
o querer só um pouco do tudo que sinto tenho direito
Queria
entrar pelo mar adentro como Moisés
Ou voar nas
asas de um pássaro
Ir par um lugar distante e andar por lá nua e descalça,
sim descalça, nua na alma e livre como um pássaro,
de chinelo
no pé e um farrapo a tapar-me a solidão
e eu sei que isso me bastaria
e eu sei que isso me bastaria
Fazer
negócio de rua, vender laranjas,
viver numa
tenda qualquer feita de farrapo
Mas
libertar-me deste peso que me avassala,
Sim, que me
sufoca e mata
e não me deixa ser feliz sequer um dia,
Aprender a
rir sem pensar que há coisas que aos poucos me destroem e avassalam
Aqui não sou
nada,
sim,
eu sei que pouco fiz, que pouco valho
falta-me a graça,
a firmeza na vontade
a força de andar p`ra frente,
a capacidade de voar
e fazer o que me apetece.
Vivo num
barco que baloiça,
e me enjoa
Sim,
num
barco que não é meu
nem de ninguém
que não aprendi a comandar
onde não quero mais viver a suspirar
a tremer de
medo,
aflita sempre aos ais
com a certeza de um dia
quem sabe, não muito longínquo
decerto vou afundar,
afundar.
Fotos do Google
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