Trago-te preso a mim
desde o dia que te conheci
As tuas calças largas,
usadas e poídas
Lembro-me delas com
ternura,
Assim como da camisa
axadrezada cintada,
Não sei se lavada, sim lavada, mas que sei te
assentava bem
Fazendo de ti mais
delgado e faminto de tudo e de mim,
Sim, que bem sei
que me querias como eu a ti
Tu e tudo que era teu, falavam-me de ti,
e eu ouvia-te sem palavras e atenta
escutava das tuas
mãos,
dos teus dedos delgados que falavam sem fim
histórias que me
encantavam, me faziam sonhar e até chorar
quando no palco
daquele teatro tu eras actor,
sim o actor principal
e não o
negues a mim, nem agora,
pois também sabias que sim, que o foste e serás.
pois também sabias que sim, que o foste e serás.
E por tudo isto que o
desejo de te ter junto de mim crecia até ao fim, crescia sempre
E cresceu até hoje, sim até agora e eternamente
Que hoje ainda é cedo
e o amanhã existe
e quando eu não sabia
nada de nada,
sim de nada,
sonhava contigo mil venturas
e só de te ver, queria
ter-te inteiro
porque o teu olhar,
as tuas mãos de dedos delgados e finos
as tuas mãos de dedos delgados e finos
pareciam buscar-me
sempre que me olhavas e passavas por mim
e eu gostava
e construía em mim o paraíso dos amantes que
não existe
e da fome dos beijos
e abraços ainda não trocados,
dos encostos ternos e meigos sonhados
palavras sussurradas a
medo,
sim, palavras mudas, melodiosas, doces imaginadas e
sentidas,
apaixonadas e amorosas
apaixonadas e amorosas
e assim construí o castelo
da nossa vida,
sim, o castelo onde eu seria a rainha e tu o meu rei
onde tudo seria
perfeito, sem mácula, só nosso e intenso
Mas tudo isto era
mentira, sim a mentira mais perfeita
Pois os castelos não
existem, as dores e mágoas sim
e tudo modificam
e até os amores intensos,
até os que doem e matam,
Sim, até esses desvanecem.
Ficam os outros,
como o que inventámos depois de estarmos juntos e ainda hoje é só nosso.
Hoje damos as mãos,
beijos calmos, e o resto não importa
Sim, o resto não sei para onde foi, mas também já não interessa, nem a ti
eu sei, afinal vivemos outro tempo
eu sei, afinal vivemos outro tempo
As calças ainda são usadas, largas, coçadas
mas as camisas não são mais cintadas.
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