segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O novo lar

O voo de regresso foi mais cansativo que o da ida, e ao aterrarem em Madrid, Camila já estava farta daquela viagem que lhe parecia nunca mais ter fim. Voaram em seguida até Zaragoza e depois de carro chegaram até á que seria de futuro o novo lar de Camila e de Alberto, uma vivenda numa quinta na zona de Logroño, que se forma às margens do rio Ebro.

Esta é a capital financeira e comercial de La Rioja, cuja economia é fortemente dependente do vinho. Uma cidade alegre, hospitaleira e amigável. Ainda que o seu clima seja um tanto oscilante indo de temperaturas negativas no Inverno, a temperaturas altas  no Verão.

Ao chegar a Logroño, pelas ruas que percorreu de carro, Camila notou que a cidade tinha prédios novos e modernos, misturados com outros históricos, o que lhe dava um certo charme. Pelo caminho conseguiu observar algumas praças, uma delas parecendo mais um parque cheio de vegetação próprio para caminhadas e quem sabe relaxar. Ficou a saber, porque Alberto lhe disse, que a cidade era famosa pelas mais de 50 taperías (restaurantes de tapas) existentes no centro da cidade. E mais não viu, pois não iria ficar a viver nesta cidade, mas um pouco arredada dela. Foi com alguma pena  que Camila viu esta cidade ficar para trás.

Pararam à entrada de uma quinta numa zona pouco habitacional, de onde se avistavam ao longe vinhedos a perder de vista.
O espaço exterior era bonito, bem cuidado, bem ajardinado, com muitas árvores e recantos floridos, mas naquele momento Camila só queria entrar na sua casa, poisar as malas e depois de olhar o que seria a sua futura casa, tomar um bom banho e descançar. Finalmente com Alberto gostaria de ver tudo detalhadamente para ficar a conhecer bem toda a casa em pormenor.

Ao entrar na casa, que por fora lhe pareceu meio apalaçada, o primeiro olhar que lançou dentro foi de pura decepção. A casa estava decorada com um estilo clássico, muito pesado para ela, aliás, a impressão que dava é que ninguém tinha alterado nada ali, de há muitos anos até aquela altura.  Teriam  limpo o pó, deixando ficar todos os vestígios do passado. Ela não queria viver numa casa com um ar tão austero,  que nada tinha a ver com a sua maneira de ser. Alberto tinha-lhe dito que podia alterar o que quisesse, mas ali teria que alterar tudo, desde os cortinados até à cama que era de um estilo que ela desconhecia.
Camila não se conteve:
-Alberto esta casa é muito bonita, mas não para mim, para nós, a mobília é muito clássica, muito pesada, torna a casa muito escura, não me vou sentir bem aqui dentro, vai-me deprimir, e penso que um dia os nossos filhos também não. Gostava tanto de ter uma casa moderna, ampla onde o sol entrasse, e tudo ficasse muito alegre e iluminado, logo desde o rair do dia.

-Meu amor, esta casa é linda, e  era da minha avó, mas far-te-ei a vontade, como te prometi. Dirás que móveis queres mudar, serão retirados e escolherás outros para o seu lugar, e esses serão arrumados, para o futuro. Andaram a arrumar tudo da melhor forma, mas se as quiseres de outro jeito estás á vontade, só não poderás mexer naquela divisão que era a biblioteca e escritório do meu avô e está fechada. Não tem interesse nenhum. Ouviste? lá não precisa entrar.

Este pormenor intrigou Camila, mas na altura não ligou mais importância a esta questão.

A vontade de Camila era fugir dali para bem longe, distanciar-se daquela casa velha que lhe cheirava a mofo, lhe dava vómitos e a enjoava, e ir morar com Alberto para um andar moderno para  Logoño, mas isso estava fora de questão.
Aquela casa até podia ser uma construção antiga muito valiosa, mas era muito clássica, toda decorada de objectos antiquados, que lhe faziam lembrar a casa de velharias da mãe. Sem querer, estaria sempre a pensar nela, e a vê-la ali estando longe, e isso ia doer-lhe muito, aumentando-lhe as saudades, além de que não era apreciadora daquele tipo de objectos para conviver com eles diáriamente na sua casa. A casa dela não podia ser uma montra de velharias. Parece que tinha recuado no tempo e isso não era o que tinha imaginado para o seu futuro. Tinha que convencer Alberto a ir morar noutro local, se é que alguma vez o iria conseguir. Estava habituada a viver na cidade, e passar a viver naquele sítio, seria só de o imaginar, um tormento, quase uma doença.

Precisava muito falar com Reina, desabafar com ela, pedir-lhe a opinião sobre o que lhe tinha acontecido. Precisava contar-lhe que amava Alberto, que não o queria perder, mas começava a ter medo dele, pois ele tinha sido violento com ela, e isso nunca lhe tinha passado pela cabeça ser possível acontecer.

No jantar de recepção e boas vindas, oferecido pelos pais dos noivos  à sua chegada, estiveram  também presentes os padrinhos de Alberto e Camila. Depois de narrada quase toda a viagem feita pelo Brasil durante o jantar que decorreu animadamente, a certa altura Camila não se sentiu bem. Muito enjoada, mas sem o dizer, alegando imenso cansaço, pediu autorização para se levantar. Todos os presentes incluindo o marido, entenderam que a viagem fora demasiado longa e concluíram que ela podia e devia  retirar-se.

Alberto chegou ao quarto um pouco mais tarde, quando depois de se arranjar Camila se preparava para se deitar, portanto não dera conta da sessão de vómitos que ela tivera mal chegou ao quarto. Todo o jantar tinha vindo parar à rua. Valeu-lhe chegar a tempo à casa de banho, assim ninguém ficou a saber de nada, mas já havia alguns dias que sentia aquele mau estar constante.
Camila desconfiava o que seria, mas  queria ter a certeza para fazer uma surpresa ao marido, no entanto esse era um desejo que não sabia se queria para já.

Camila tinha um marido apaixonado, sedutor,  quem sabe com muitos defeitos escondidos, mas até ali louco por ela. Vê-la assim naquele quarto, em roupa intima, foi o suficiente para se aproximar e começar como era seu hábito por um abraço a envolve-la, e depois com mil caricias e beijos, e tantas meiguices, que Camila perdeu o controlo de tudo e deixando-se cingir naquele doce enlevo, se perdeu de amor como se aquele fosse o ultimo dia da sua vida. Bastava uma mão de Alberto tocar o seu corpo, que ela tremia, e se ele continuasse, a cada toque ela desejava outro, e esse toque fazia-a nesse momento esquecer aquele outro na sua face, mas era só nesse instante. Camila, fora estes momentos que se perdia nos braços fogosos de Alberto nunca mais esqueçeu aquela cena em Angra e seria dificil esquece-la tão fácilmente.

Será que Camila resistiria ao tempo naquela casa velha?

Para a ajudar Camila ia pedir ajuda de Reina.

Nesse dia antes de dormir, já Alberto dormia profundamente, pela primeira vez  antes dela, Camila  telefonou à mãe. Tinha saudades de Pia. Nas férias tinha falado duas vezes com ela, só para mandar beijinhos e Pia dizia-lhe sempre o mesmo"estou bem, não te preocupes, diverte-te", apesar de Camila sentir que avoz da mãe já não era a mesma de outrora. Naquela hora apesar de ainda à pouco Alberto a ter coberto de caricias, algo nela  estava imcompleto.
Precisava ouvir a voz da mãe. Se pudesse naquela hora o que lhe saberia melhor era falar com ela, pousar a sua cabeça no seu regaço contar-lhe os seus problemas, e sentir os afagos que a mãe lhe costumava fazer no seu cabelo, quando era mais miúda. Mas nunca contaria à mãe o que se passava com ela, não iria preocupá-la  com os seus problemas.

 Quando conversava com a mãe, sentia sempre que existia entre elas uma grande cumplicidade, parecia que se reconheciam pela voz, que se  conheciam pela entoação das palavras.
Teria que disfarçar a voz, colocar uma voz doce, dizer que tudo estava bem, que em breve juntamente com o Alberto iriam visitá-la, mas primeiro estava a tentar convencer Reina a visitá-la no Norte.
Estavam ambas bem de saúde, deram-se os beijos do costume e as boas-noites, foi o que Camila, concluiu.
Agora Camila iria dormir mais tranquila.


Nunca iria preocupar a mãe com os seus problemas, a ela que tanto amava e a prevenira da sua precipitação, isso era ponto assente.



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