quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A escolha

Tinham percorrido praticamente toda a cidade e todos os vestidos que tinham encontrado apesar de muito bonitos não as tinham fascinado o suficiente para a ocasião. Acabavam por achar que lhes faltava algo, um pormenor simples que fosse mas que as encantasse.

Naquela tarde resolveram dar um passeio pela Glorieta, tradicional praça ajardinada junto ao Rio Segura, com zonas pedonais ocupando a maior parte da zona histórica.

Ao fundo, virada ao sol numa esquina da praça a montra de uma loja chamou-lhes a atenção. Vestidos de cerimónia, e de gala, bem colocados e de muito bom gosto, davam um toque de charme e elegância muito especial à montra da loja. Não entendiam como lhes tinha passado despercebida, talvez por não terem andado muito por aquela zona.

Entraram e ficaram fascinadas com o que viram. Provaram alguns vestidos e logo ali, Camila e Reina pediram que lhes reservassem dois vestidos até à tarde, combinando a hora a que regressariam com as mães, para estas darem a sua opinião, aprovarem ou não as suas escolhas, pagarem e fazerem todos os acertos necessários.
Estavam deslumbradas. Como seria possível terem percorrido toda a cidade, já terem passado por ali anteriormente e não terem reparado naquela loja, naquele sitio de passeio.

Os vestidos eram igualmente lindos. Descreve-los não era obra fácil, pois  apesar de belos mais fácil seria vê-los vestidos, pois pendurados numa cruzeta não diziam nem metade do que representavam. À tarde quando vestiram cada uma o vestido escolhido na presença das mães, ambas ficaram encantadoras.
Tendo em conta que ainda não tinham os cabelos nem os rostos arranjados, com as respectivas maquilhagens, estavam ambas deslumbrantes. As mães estavam orgulhosas das suas filhas e estas, só riam de felicidade, e de braços abertos bailavam como se já estivessem no baile. Na loja todos as olhavam a sorrir e a mãe de Camila comentou:
-Meninas cuidado, não estamos em nenhum salão de baile, ainda acabam por cair, contenham-se.
E riam as quatro de felicidade.

O vestido de Reina era rosado, sem costas, muito cintado até à zona da anca. Daí para baixo tinha folhos que gradualmente se sobrepunham e iam escurecendo, até aos pés. Os folhos eram todos plissados, dando voluma á saia, de um plissado muito fininho, que lhe dava muita graça, lembrando um pouco o estilo sevilhano, tendo um pouco de cauda. Sapato da cor do vestido, e como adorno uns brincos pendentes de ouro branco que a mãe lhe ofereceu, um fio muito simples com um pequeno “R”, a inicial do seu nome também em ouro branco, e uma pulseira na mão direita.

O vestido de Reina, que começava no peito num tom rosa claro, enfeitado com pequenas missangas, e pérolas, envolvendo o decote, as cavas, e o peito, acabava nos pés num tom rosa muito mais vivo e forte, sendo bem o seu género alegre e vistoso,  como era o seu estilo. Dentro dele, ela  parecia uma flor fresca e singela, se tirasse os sapatos e soltasse os cabelos, ou uma princesa real, se colocasse uma tiara e se pusesse em cima de uns saltos altos e colocasse um ar altivo e austero.

Camila com o seu vestido azul e branco, ficava sempre bela. Podia estar descalça ou calçada, podia soltar ou não os cabelos, que a sua beleza, dentro daquele vestido era sempre a mesma, quanto mais se olhava para ela, mais a sua beleza aumentava. O azul da seda e cetim do vestido bordado na parte de cima, que gradualmente se esfumava para branco até aos pés, deixando-lhe as costas e ombros a descoberto, davam-lhe um ar finíssimo e elegante e algo perturbador, realçando-lhe o azul dos olhos de uma forma desorientadora. Mais ainda, chegando à cintura o bordado feito de pequenos brilhantes cintilantes, marcavam-lhe a zona da cintura acentuando-a com o bordado até à anca, contornando esta elegantemente, moldava-lhe a  silhueta de uma forma perfeita e sensual, deixando depois da zona da anca sair por entre os espaços não bordados até aos pés, saias e nestes folhos, que faziam do seu vestido, uma excelência. Parecia uma princesa.

Camila completava o vestido, mas na verdade o vestido sem Camila não seria o mesmo.

Nos pés uns sapatos azuis de cetim, com uns lacinhos cintilantes. O cabelo apanhado, com alguns caracóis soltos, iria deixar a descoberto todo o colo e os ombros bronzeados de Camila, o que lhe daria imensa elegância. No pescoço, um fio com um pequeno coração com brilhantes, herança da avó, e nas orelhas uns brincos com uns brilhantes iguais aos do coração, tudo da avó, oferta da mãe, agora que acabara o curso.

As duas amigas estavam ansiosas pelo grande dia, e Camila nem imaginava o que a esperava. Tinham reservado uma mesa no salão também para os pais, e todos iriam juntos festejar a despedida do final dos  cursos de Camila e Reina.

Reina, além dos pais levava consigo um amigo muito especial, o seu namorado, Júlio, que estudava Medicina, com quem já andava há muito tempo, e com quem partilhava muitas realidades da sua vida. Estavam apaixonados, em breve quando Julio terminasse o curso casariam, e esperavam ficar pela cidade de Múrcia. Era uma realidade semelhante a este, que Pia e Geraldo gostariam para Camila, mas não podiam decidir o futuro da filha.

Camila ia  com os pais cheia de entusiasmo áquele baile, e muitas surpresas a aguardavam.

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