terça-feira, 9 de novembro de 2010

Aqui fica o lenço

Aqui fica o lenço

É notório que Isabel nunca deixou de lutar. Em silêncio apesar de todos os seus medos, passo a passo, foi gradualmente derrubando algumas barreiras, mas outras, muito complexas se foram erguendo á sua volta sem que ela consiguisse fazer nada para as derrubar.

A sua fragilidade escondeu-a por detrás do que continuou a ser o seu medo de muita coisa, pois não descobriu que dentro dela existia uma força enorme, uma coragem que ela desconhecia, e que um dia a faria  derrubar tudo o que a assustava.

Jogou uma luta entre si e todos os que precisavam dela para conseguir sobreviver, a viver sem amigos numa terra distante,  para se impor como mulher, como esposa, como profissional, como filha, e no final não conseguiu sentir-se realmente realizada, não,  como gostaria, mas resistiu, andou em frente e finalmente pensou que abraçou o lenço.

Encontrou muitos obstáculos, caiu e levantou-se muitas vezes, convencida que a felicidade seria um patamar pleno, possível de alcançar, como se fosse um sonho longínquo, que a cada passo via sempre um pouco mais distante, mas que parecia existir ao longe quando olhava e só lhe parecia  ter que caminhar e  estender um pouco mais os braços, fazer um pouco mais de esforço, para a alcançar, e a teria  logo ali mais à frente, como coisa sua...
 Engano seu.  A felicidade assim não existe, não em toda a plenitude ..., a felicidade vai e vem, são instantes que se vivem, muito intensos por vezes, mas breves, que ela aos poucos aprendeu a vivenciar.

Isabel nunca desistiu, e construindo as suas próprias defesas, desculpabilizando-se do sentimento que tinha de rejeição, escondendo o facto de viver constantemente dependente de algo ou de alguém, mas cada vez mais agitada, quem sabe pelo passado que teve, calou tudo isso, e não renunciou ao sonho de querer construir uma família feliz, calma, em que as pessoas pudessem escolher o seu futuro, rir, chorar, e adormecer todos os dias sem medo.

Isabel não deixará  de ser uma mulher cheia de temores e de receios, mas todos nós os temos, camuflados talvez, mas eles existem sempre algures dentro de cada um de nós.

Isabel tem neste ponto da história muito para viver, e nesta altura a sua independência ainda não existe. Ainda não consegue sair ou passear sem o apoio e companhia do marido.

Ela não sabe que um dia pode conduzir a sua vontade, o seu destino, que pode fazer tudo isso e muito mais como quiser, para onde quiser, escutando ou não a opinião de outros. Nesta altura não imagina ainda a força que tem dentro de si, não sabe que já  é capaz de ser independente, que pode decidir sozinha, não sabe que tem força e é capaz de vencer sozinha.
Isabel tem dentro de si valores que desconhece, bem escondidos, que o futuro se encarregará de lhe mostrar e  que um dia a vão levar  a ser muitas vezes escolhida e esquecer todas as vezes que se sentiu terrivelmente rejeitada.

Dentro dela há uma energia imensa que ela desconhece, e que a fará  andar sempre para a frente, e jamais a deixará recuar. Um dia ela escolherá o seu caminho, terá poder decisão, esquecendo quem a rodeia, os problemas dos outros, o caos do mundo em que vive, o pai e a mãe que não deixam de a preocupar e deciderá o que pretende para a sua familia, para o seu futuro, nem que seja a ultima coisa que faça na sua vida.

Um dia ela agarrou finalmente esse bendito lenço que lhe caiu aos pés  deixou-o voar para ele ir cair ainda não sabe onde, ou talvez o tenha ainda com ela e não tenha escolhido o par a quem o deitar. Isabel afinal, já comanda a sua vontade.

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