quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A força das mulheres

Não era fácil para a mãe de Maria, tentar fazer com que ela se comportasse como uma menina.
No cabelo, nenhum laço nem chapéu. No seu lugar um boné,sobre o cabelo cortado curto, era o seu preferido.
Por vontade dela, nunca vestiria saias nem vestidos, nem colocava laços nem fitas.
Isso incomodava-a, arrepelava-a, e os vestidos faziam-lhe uma espécie de alergia, faziam-na perder a paciência quando tinha que se sentar, ou correr à apanhada, como ela gostava de brincar. De calças sentia-se muito mais livre e indepente.
 Mas naquele tempo, que iria comentar toda aquela gente vizinha, por  ver  a miuda sempre de pernas tapadas de calças, que a mãe lhe fazia, como fazia ao irmão, para lhe proteger os joelhos das esfoladelas, a correr feita um rapaz atrás de uma bola, a trepar a árvores, a apanhar fosse o que fosse, ás escondidas, ou então em altas correrias de competição de bicileta ou outras, competindo com outros rapazes e com o irmão pouco mais novo,com  a bicicleta que era deste.

O facto de andar quase sempre de calças e vestida como o irmão, preocupava a mãe, que receava  o que a vizinhança podia comentar acerca do comportamento e das atitudes meio arrapazadas de sua filha. O povo quando não tinha que falar inventava, sempre fora assim. A mãe preocupava-se muito com ela, não com a escola, que aí ela era aplicada e boa aluna, mas com as brincadeiras que tinha, pois comportava-se de uma forma muito semenhante aos rapazes. Andava sempre a dizer-lhe que um dia quando crescesse queria ser bombeiro, ou então motorista, que queria conduzir pessoas  e apagar fogos, e isso para a mãe não era profissão para uma mulher, não naquela altura.
Que quizesse ajudar muito as  pessoas, muito bem, mas ter que o fazer a conduzir, sendo bombeira,  a mãe não concordava nem entendia , enquanto que para  Maria  isso era ponto assente.
Nunca se interessava por nada que fosse mais feminino, nem no vestir, nem no brincar, e a certa altura à medida que Maria crescia na idade e começava a impor as suas vontades de forma mais firme, a mãe começou a olhar para esse comportamento de outra forma. Estava farta das birras que a filha fazia para  vestir um vestido mais enfeitado ou colocar uns adereços femininos.
Esse era um dia de suplicio para as duas.
Mas porque não queria a filha um dia ser professora, ou cozinheira, ou modista, não tinha que ser bombeira !
A mãe chegou a pensar que Maria devia ter alguma doença, que algo nela não devia estar bem e um dia foi com ela ao médico e contou-lhe.
"-:Doutor, a minha filha não quer vestir saias nem vestidos, não gosta de usar laços, nem no cabelo nem na roupa. É boa menina, meiga e doce,  mas só brinca com rapazes, joga à bola, corre com eles, trepa às arvores, e não sei que fazer pois diz a toda a gente que quando crescer vai ser bombeiro, ou motorista.  Ando muito preocupada pois não a vejo tempo nenhum a brincar com as suas bonecas."
E a mãe de Maria falou ao médico e contou-lhe todas as suas preocupações e claro que o médico depois de a ouvir atentamente, lhe disse que a filha não estava nada doente.
Por vezes as crianças têm formas diferentes de reagir e  sentir as coisas que querem e desejam. Porque não havia a Maria de vir a ser bombeira, ou motorista, ou taxista, ou camionista, ou engenheira mecanica, ou seja o que for se se empenhasse e trabalhasse para conseguir atingir esse objectivo? Só dependia da vontade dela. E as brincadeiras que fazia não tinham nada de mal, assim como o uso das calças.
A caminho de casa, a mãe de Maria ia muito mais tranquila. Quem sabe, talvez aquela vontade passasse à filha, e senão, que mal faria, um dia a filha  vir a ser bombeira? Podia ainda vir a ser uma heroina, salvar pessoas e bens.
 Claro, todas as profissões são legitimas para homens ou mulheres, ambos têm os mesmos direitos perante a lei para exercer todos os cargos que existem, ainda  que se encontrem distribuidos de uma forma um pouco assimétrica( há cargos onde ainda existem muito menos mulheres  do que homens), ambos devem ter iguais competências para desempenhar os lugares que ocupam e como tal devem ser igualmente remunerados o que infelizmente não acontece.
Como tal ainda nem tudo está perfeito.

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