Para quê descrever bailes de gala, salões e festas? Todos se apresentam bem, tudo está bonito, reluzente, no seu melhor, e o mesmo aconteceu com o baile de Reina e Camila. Ambas dançaram até de madrugada e os pais também, mas cada um a seu modo. Os pais saíram um pouco mais cedo deixando-as com os amigos. Reina desapareceu com o Júlio do grupo perdendo-se a passar muito tempo pelo jardim. Mais tarde via-se muito agarradinha, ao fundo do salão, a dançar uma ou outra música com o seu amor, como se fossem um só. Via-se claramente que estavam verdadeiramente apaixonados.
Camila ao princípio da noite, dançou com um e outro amigo, não se esquivando a ninguém que a convidava. De todos eles, ia levando imensos elogios, e corando levava isso com graça, rindo e agradecendo não levando a sério nenhuma insinuação quase feita proposta.
Quando os elogios eram feitos por colegas que sempre tiveram uma grande vontade de namorar com ela e que naquele dia perante a sua beleza não resistiam a mais uma tentativa de se declarar, ela muito simpaticamente sorria simplesmente e nada dizia deixando-os desorientados. A esses, passava a evitá-los durante a noite. Tinha decido prender-se sómente quando o seu coração lhe desse um sinal.
Já depois da meia-noite, viu junto ao palco, parado a fitá-la um jovem alto, moreno, de olhar intenso. Estremeceu de alto abaixo, e naquele momento pensou que ia desfalecer. Aquele olhar parece que atravessou o seu, e no entanto ela estava para além do meio da sala. Já se sentia vigiada havia algum tempo, como que por um calor, ou uma luz forte e enérgica, que incidia sobre si, que não se via mas que ela sentia e a perseguia como se fosse um foco que a iluminava, por cada canto da sala por onde passava: devia ser o seu olhar.
Quando o conjunto começou de novo a tocar, ele dirigiu-se a ela, que queria disfarçar a perturbação que ele lhe causava mas não conseguia, e sem se dar conta ao convite gentil que ele lhe fez para dançar, esticando a mão, ela imediatamente respondeu, entregando na mão dele a sua, aceitando de imediato o convite.
O contacto das suas mãos foi uma sensação que nunca tinha experimentado. A sua mão pequena e macia, perdeu-se na mão dele também aveludada e os dedos dele,compridos e elegantes, envolveram a sua mão de uma forma, que nesse aperto, ela se sentiu toda envolvida. Com o outro braço, ele abraçou-a pelas costas e amparou-a com a mão que a havia de conduzir a dançar pelo salão. Camila ficou assim capaz de lhe o olhar nos olhos negros, tão perto que lhe sentia o respirar quente, muito perto do seu nariz e isso dava-lhe uma sensação nova, que nunca tinha experimentado, e que lhe era estranhamente agradável.
Tinha o cabelo negro, encaracolado e um pouco comprido, comparando com o corte que os amigos dela usavam, mas gostava dele assim.Gostava do cheiro dele, do seu toque, da maneira como falava, da sua simpatia, da gentileza, da sua delicadeza, e sem se dar conta estava colada a ele, a pensar que se pudesse ficava assim o resto da noite toda. Gostava daquele homem e de tudo o que que ela conseguia perceber nele. Devia estar a sonhar. Ela não era dessas coisas, mas nunca se sentira tão envolvidacom uma pessoa ao primeiro contacto.
Apertou-a mais um pouco junto ao seu peito, iam dançar um mambo. E ela deixando-se envolver só disse:
-Não sei dançar isto.
-Hum, sabes sim, encosta-te bem a mim, apoia a tua cabeça na minha, fecha os olhos que eu conduzo-te, só tens que te deixar levar. É muito fácil. Vi-te dançar toda a noite e danças muito bem, faremos só o básico, e vamos dançar lindamente.
- Muito, bem assim farei.
E como ele disse, dançaram lindamente, os dois parecendo um só deslizaram pelo salão, e o corpo dela obedecendo à condução com muita sensualidade, pareciam que já dançavam há muito tempo.
Mas Camila sentia-se um pouco incomodada, não estava habituada a deixar-se seduzir daquela forma, mas aos poucos sem pensar, porque o seu coração mandava mais que a sua cabeça, foi-se deixando levar e nunca mais largou o ombro do jovem, que mais tarde lhe segredou ao ouvido que se chamava Alberto. Muito agarrados passaram a noite a dançar. E para quem dizia que não sabia dançar, Camila dançava muito bem, deixando-se conduzir como uma pena. Tangos, valsas, ritmos latinos, mas sempre com o mesmo fascínio um pelo outro. Alberto ficara encantado por Camila, e esta por ele.
Quando os pais saíram andavam eles a dançar sorrindo alegremente. Pia e Geraldo comentaram com os pais de Reina que nunca tinha visto Camila tão feliz. Viam-na tão envolvida com aquele rapaz, que previam que dali devia resultar algo mais sério, pois sabiam que a filha não era dada a devaneios. Deixaram recado a Reina que a avisassem que já iam. Ela depois que fosse com Reina, como já tinham combinado antes, como aliás, faziam em muitas festas quando acabavam por ficar juntas na casa de uma, ou de outra.
Reina, esteve a apreciá-los e realmente faziam um par sui-generis. Ele de fato preto, de porte muito elegante, conduzia-a pelo salão fazendo-a rodopiar elegantemente, e as suas pernas quase que se escondiam no branco, do vestido de Camila, que o envolvia, como já todo ele estava completamente envolvido por ela.
Fizeram um pequeno intervalo, e vieram até ao jardim conversar banalidades, o trivial. Ele tirara o curso noutra universidade de Espanha, mas tinha ido àquele baile acompanhar uma pessoa de família que cabara o seu curso nesse ano em Múrcia. Comentaram pouco mais que sobre o curso de cada um, e o que esperavam fazer no futuro, ela na área do Turismo e ele com o seu curso de engenharia química, dizendo Alberto que teria ainda que fazer uma pós graduação adaptada ao que seria a sua vida no futuro.
Camila estava demasiado envolvida para entender, prestar atenção fosse no que fosse, olhava-o pois parecia-lhe irreal, o seu coração dizia-lhe que aquele era com toda a certeza o homem que esperava há muito. E num relance, num piscar de olhos viu-se colada a Alberto, muito apertada a ele, sem fazer qualquer esforço para se soltar. Aquele corpo quente encostado ao seu sabia-lhe bem, dava-lhe conforto, fazia-a sonhar, levava-a para bem longe dali, e de repente nem deu conta que os lábios dele tocaram os seus, e que todo o seu rosto foi recoberto de mil beijos doces que ela recebeu como se já os esperasse há muitos anos.
Olhando-a muito nos olhos, Alberto poisou os seus lábios nos de Camila e beijou-a de forma que ela sentiu que ele era definitivamente o seu homem. Estavam apaixonados. Dentro dela tudo estremeceu, tocaram mil sinos, o corpo dela tremeu e ela desejou aquele homem, como nunca tinha desejado nenhum, e ambicionou que aquele momento se perpetuasse eternamente, pois naquele instante era extraordinariamente feliz e queria manter-se assim. Aquele bem-querer era bom demais para se perder e sair dali para fora, podia significar que vivia um sonho e isso não podia acontecer. Mantiveram-se assim unidos naquele enlevo quase até de manhã, entre beijos e abraços, mas apenas isso.
Não voltaram a entrar no salão e ali no jardim viram o amanhecer. Camila sentia-se apaixonada, mas assustada. Tinha medo de perder o seu amor. Já lhe pedia juras, que ele prometia cumprir, porque também ele se dizia fascinado e apaixonado por ela. Mas como podia ter-se apaixonado assim numa noite só.Tanto que não se pediam, nem davam mais que aqueles beijos quentes e fogosos. Aquelas músicas que dançavam, em que os seus corpos colados pareciam um só, movimentando-se num ritmo sincopado e perfeito, pareciam tranportá-los a ambos para outra galáxia. Mas não sabiam muito um do outro, e o que sabiam era pouco, muito pouco para deixar Camila segura.
Quando se juntaram a Reina porque esta os procurou, para virem embora, Camila, vinha uma mulher diferente, cheia de amor, mas também cheia de dúvidas e receios.
Queria muito ficar com Alberto. Ele tinha-lhe prometido, que depois da pós-graduação seria inteirinho para ela. Iria escrever-lhe todos os dias. Telefonar-lhe e fazer-lhe visitas. Também ele estava apaixonado.
Antes de se separarem, deram mais de mil beijos. Naquela noite os beijos que deram, foram mais que todos os que Reina e Júlio já tinham trocado no seu namoro.
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