Gradualmente Camila pensa fazer algumas alterações na sua nova casa, esperando apoio e ajuda do marido para fazer escolha de alguns móveis novos, cortinados e peças decorativas, mas o apoio que encontra é muito pouco ou nulo. Alberto demasiado ocupado com o seu trabalho nos vinhedos, deixa esse trabalho para ela e dois empregados, que ordena a acompanhem para o que for necessário. Camila, sem o apoio de Alberto desmotiva e poucas alterações faz na casa. Naquela casa Camila sente que não será feliz. Prece que o Sol nunca lá entrará. A casa tal como ela está cada vez mais triste e negra.
É numa dessas suas idas a Logroño, que Camila consulta um médico e confirma a sua gravidez. Este estado que tempos atrás a teria deixado radiosa de felicidade, naquele dia deixou-a feliz, mas apreensiva. Um dia tinha sonhado quando soubesse que ia ser mãe ter Alberto a seu lado, e naquela altura nem sabia quando estaria com ele para lhe dizer. Desde que começara a trabalhar, Alberto chegava sempre muito tarde a casa.
Precisava cada vez mais, conversar com Reina.
-Preciso urgentemente de falar contigo. Gostava que viesses a minha casa. Queria contar-te da minha lua-de-mel. Aqui não tenho amigas e tenho saudades das nossas longas conversas nocturnas. Preciso que me fales da minha mãe. Tenho novidades para ti. Convence o Júlio e venham os dois, daqui a uns dois meses irei eu aí, mas primeiro preciso que venhas aqui….
E tanto pediu, que convenceu Reina a visitá-la um fim-de-semana prolongado. A mãe de Alberto iria fazer anos, e combinaram para essa altura a sua visita. Júlio ficaria em Múrcia, por questões de trabalho, e Reina viria até Rioja, no fim-de-semana seguinte.
Cada dia que passava Camila ia conhecendo melhor Aberto. Desde que fora ao médico em Logroño, ainda não tivera oportunidade de falar com o marido. Uns dias por um motivo, outros por outro, chegava sempre muito tarde a casa, e depois com aquela paixão avassaladora que tinha por ela, quando estavam a sós, quase não pensava em mais nada senão em se envolver freneticamente com Camila, não a deixando quase falar. Era um homem apaixonado, sensual mas ela ainda não sabia até que ponto ele era dominador e autoritário. Enquanto namoraram, foi calmo, terno, meigo, carinhoso, delicado, esperou por ela o tempo que foi preciso e nunca tentou ou propôs nada sexualmente, senão quando ambos o desejaram muito.
Trabalhos relacionados com pessoal, diagnósticos diversos, formações várias, congressos, serviços de qualidade, adaptação aos tempos modernos, para que a rentabilização nos vinhedos fosse excelente, e as vendas das castas e vinhos, cada ano, superassem o anterior, ocupavam muito o tempo de Alberto deixando Camila muito só na sua casa, distante da cidade, num local onde ainda não tinha amigos e não conhecia bem.
Camila não se identificava com aquele ambiente, era uma jovem citadina e portanto aquela quinta ainda que muito bonita, tornava-a mais triste ainda. Ainda que os pais e empregados da casa a tratassem muito bem, desde que casara Camila era outra mulher. Mais triste e só com saudades da mãe e de Giullia, não esquecia a sua cidade. Estava aborrecida de passear pelo jardim sozinha, de estar em casa sozinha, de visitar a cidade sozinha, de ir às compras sozinhas. Havia uma coisa que ela tinha a certeza, tinha saudades do Alberto que conhecera. Amava muito o seu marido, e precisava estar com ele muito mais tempo.
Ainda não conhecia nenhum amigo de Alberto, mas naquele dia à noite iam finalmente jantar com um grupo de amigos dele, e ela estava entusiasmada.
-Amor, vamos jantar com um grupo de amigos, vais gostar deles, disse Alberto.
-Óptimo, estou desejosa de fazer amigos qui. Sinto-me tão só.
E aproximando-se de Alberto, tocando-lhe no peito, disse-lhe quase em tom de segredo:
-Sabes o que te queria dizer no outro dia:-vamos ser pais, fui ao médico em Logroño, e tenho a certeza, vamos ser pais, por isso tenho andado tão enjoada. Estás feliz como eu?
- Claro que estou minha querida, muito feliz.
E agarrou-a, beijou-a, andou com ela ao colo, rodopiou e dançou com ela, e com carinho colocando-a na cama envolvendo-a como de costume, amou-a ali plenamente como se ela fosse coisa sua, ainda que Camila lhe tenha dito, “agora não Alberto”.
Saíram para jantar, e iam aparentemente felizes. Daí a sete meses iriam ser pais, não tinham motivos para estar tristes ou preocupados.
O grupo de amigos encontrou-se num restaurante de tapas, uma tapería, perto do centro da cidade de Logoño, onde experimentaram várias meias doses e provaram vários vinhos. A noite passou-se muito agradavelmente. Alberto contou a todos o facto de ir ser pai e toda a noite se mostrou atencioso para Camila. Todos estavam presentados. Três casais, Neva e Eduardo, Manoela e Gustavo, Diego e Marta, todos muito simpáticos, simpatizaram logo com Camila, que também se sentiu encantada por todos eles. Eduardo e Gustavo eram colaboradores de Alberto, Diego era pintor e irmão de Neva que tinha uma loja de roupa e acessórios na capital, Logo-ño. Manoela não trabalhava fora, limitava-se a cuidar dos folhos e da casa, tal como Alberto combinara com Camila que seria o que ela faria no futuro, e Marta a esposa de Diego, era professora de línguas estrangeiras na universidade.
Conversaram muito e depois do jantar passearam um pouco pela Plaza del Mercado, junto da Catedral Redonda pois nessa noite tinha lugar aí uma festa nocturna da cidade. Camila sentiu uma empatia maior por Diego, e foi com ele que conversou mais algum tempo. Com todos ficou combinado que sempre que ela fosse a Logoño, telefonasse para se encontrarem e saírem juntos. Um deles haveria de estar disponível. Manoela ou Diego teriam sempre tempo para estar com Camila, e na loja de Neva haveria sempre um cafezinho e um sofá para juntas conversarem um bocadinho.
A noite tinha corrido muito bem, mas Camila estava cansada queria regressar. Despediram-se, e em breve chegaram a casa.
Mal entrou em casa e se dirigiram para o quarto, Alberto perguntou:
- Conversaste muito com Diego, um pouco demais até, gostaste dele?
- Gostei, é simpático…
E não disse mais nada, atirou-a para cima da cama, e como se estivesse meio sôfrego, meio louco, ia-lhe dizendo:
-Mas tu és minha, entendes, minha, nada de olhinhos, para cima desses amigos…
-Mas é teu amigo, casado, e eu estou contigo, amo-te, e só estivemos a conversar. Alberto, por favor, porquê isso agora.
- Porque vi os teus olhos e os dele, e tu és minha, entendes, minha?
E Alberto, como que para mostrar esse poder de posse, puxa com violência a roupa de Camila, e sem um acto de carinho ou nada que fizesse prever o que ia acontecer, possui-a por completo como nunca o tinha feito antes.
- Agora não Alberto, estou cansada, por favor, não, assim não, não.
Mas ele não ouvia nada, só estava atento ao que o seu desejo lhe ordenava, e continuava como um lobo faminto.
-És minha, as vezes que eu quiser, quantas vezes eu quiser, como eu quiser, minha, só minha.
- Não Alberto por favor, não, não quero isso assim, agora não...
Mas não adiantou. Alberto estava surdo e meio elouquecido.
Cerrou os olhos com força. Alberto provou-lhe ali que ela era pertença dele.
Camila não queria acreditar, sentia-se violada, desrespeitada. Depois dormia ali a seu lado como se nada tivesse acontecido. Camila não sabia o que estava a acontecer.
Será que teria sido pouco o tempo de convivio com Alberto? Estar só com Alberto ao fim-de-semana, pensando melhor pode ter sido pouco para o ter conhecido correctamente. Estaria certa a sua mãe?
Queria tanto naquele momento ter ali a mãe, falar com ela, pedir-lhe um conselho, ter o seu apoio, receber dela um carinho. Que saudades tinha de Pia. Mas tinha prometido a si mesma não dizer nada à mãe. Estava desejosa de a abraçar e beijar. De ouvir a sua voz. Nesse momento, pelo menos isso, seria para ela um mimo, um consolo!
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