domingo, 5 de dezembro de 2010

Camila visita a mãe

Alberto tinha sido muito namoradeiro, muito exigente, tirano mesmo, e por isso ninguém o aturou, tudo isto depois de uma grande paixão que teve, mas que morreu de acidente.

-Mas nenhuma te chegava aos pés.
 Disse Diego, que olhava Camila sempre com muito carinho.
- Cuidado, sou casada, e bem,  tens a tua mulher, não quero criar-te problemas, nem os quero para mim, só quero conhecer melhor o passado do meu marido, só isso.

Mas no coração de Camila estava instalada uma grande dor, um vazio, um sentimento que naquele instante não conseguia explicar, que nem sabia se era dor, mágoa, despeito.
Mas Diego continuou:

-Marta nunca tem tempo para mim, não me liga nenhuma. Anda sempre em congressos, palestras, ou simplesmente nas aulas, mas não tem tempo para mim. Nunca me visita no estúdio.
Já não somos o casal que éramos há quatro anos, quando casamos. Nunca está disponível para mim, percebes? Somos bons amigos, não discutimos, até nos damos bem, mas só isso, e um casamento não pode ser só isso.

-Mas porque não lhe dizes?
-É o que faço sempre que estamos juntos, mas a carreira dela é muito importante para ela, não tem tempo para nós, para termos um filho, eu por outro lado penso fazer uma exposição algures e como ela nunca pode ir comigo, desanimo, desisto sempre. Ultimamente penso mesmo, que o melhor é separarmo-nos.
-Dizes-me que te vais separar? Se o Alberto sabe disso, nunca mais nos podemos encontrar. E riu-se muito.
-E ele tem razão.
-Que dizes?
-Nada, nada, que gosto muito de conversar contigo e gostaria de pintar o teu rosto. Apanhar esse azul dos teus olhos, que me lembram o mar ou o céu, não sei, depende da luz do dia, mas gostava de te pintar.
-Pareces o Alberto a falar. Não sei se ele permitiria, tenho de lhe falar.
- Não falas nada, assim não tem graça, pinto-te e depois fazes-lhe uma surpresa, fazendo-lhe a oferta da tela, que tal?
-Vou pensar, depois digo-te algo, está bem.
-Fico a aguardar.

Diego acabou por sair e deixou-a embaraçada e intrigada. Acabou por comentar com Neva, primeiro que não tinha jeito nenhum para posar e decerto não faria nada daquilo que Diego lhe estava a propor, mas principalmente que estava deveras intrigada com o passado do marido. Neva, não acrescentou nada ao que Diego dissera, limitando-se a encolher os ombros e a dizer-lhe que não desse importância ao que o irmão lhe estivera a contar.

Nenhum deles sabia, contudo, como era realmente a vida de Camila com o marido, pois esta vivia em silêncio dentro da sua casa e do seu quarto e guardava só para si, todas as reacções menos próprias que o marido tinha para com ela, magoando-a, massacrando-a, de amor ou de ciúme, mas sempre com os seus exageros de poder, domínio e alguma violência sobre, ela como se fosse seu dono ou senhor.

Até aquela altura, fora incapaz de comentar com alguém, além de Reina, a sua vida intima com Alberto, um pouco por medo, um pouco por despeito, um pouco por vergonha, até porque esperava que tudo aquilo passasse, senão antes, pelo menos quando o filho nascesse. E depois ele amava-a tanto, fazia amor com ela como ela nunca imaginou ser possível alguma vez algum homem fazer. Sentia que não seria capaz de viver sem Alberto, alguma vez na vida, ao mesmo tempo que ele a magoava, ela desejava-o intenssamente.
 Estava presa aquele homem para sempre. Mas que o passado de Alberto estava a influenciar a sua vida, agora ela quase tinha a certeza. Podia ser feitio, mas também algum desgosto no passado. Mas ela que culpa tinha?

Com estes pensamentos Alberto apareceu a buscar Camila, que saía da loja um pouco confusa com todos estes pensamentos, mas mais conhecedora do passado do marido, se é que isso viria ajudar em alguma coisa a resolver a sua vida, a entender o seu futuro.
Ao sair da loja o que mais desejava agora era chegar junto da mãe.
Mais que nunca queria chegar a Múrcia, estar só sem Alberto por perto e voltar a falar com Reina. A vida dela estava a ficar uma confusão, e naquele momento queria paz. Depois de ver a mãe e regressar a casa queria encontrar paz junto de Alberto tentar compreendê-lo, amá-lo, deixar-se amar e viver a sua gravidez.
Depois do filho nascer, conforme as atitudes do marido nesse tempo, procuraria saber mais sobre o seu passado.
Gostaria também de se informar de algo mais concreto, em relação aquele quarto que estava sempre fechado à chave e que de certa forma a intrigava.


Mas naquele momento o que lhe importava além do estado do filho que era óptimo, segundo o médico, era a viagem que faria no dia seguinte até Múrcia.


No dia seguinte no aeroporto, quem visse os dois a despedir-se, parecia que ela ia viajar por meses ou anos, tal era o rol de recomendações que Alberto lhe fazia.

Fotos do Google

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