domingo, 28 de fevereiro de 2010

O sarilho

As aventuras de Isabel não acabavam, sem perceber porque por vezes lhe sucedia algum sarilho, e um dia foi mesmo um valente sarilho o que lhe aconteceu.


A chantagem com ela na escola continuava: “Se fizeres isto, podes brincar connosco… se não fizeres aquilo é porque és medricas, e dizemos à senhora professora que empurraste aquela… se não fizeres isto ou aquilo...”

Isabel era um pau-mandado, ou fazia o que os outros queriam ou ninguém brincava com ela. Por vezes tinha raiva de si mesmo. Que teria ela para ser assim tratada... ela que só queria paz e sossego, vivia constantemente em sobressalto, como se não bastassem as guerras em casa, também tinha a escola a fazê-la sentir-se sempre assustada.

À hora do recreio, a meio da manhã, um grupo de colegas convenceu-a a sentar-se na manivela que punha a girar a grande roda do poço. Isabel não tinha onde se segurar. Tremia das pernas. A roda girava, e ela sentada na pega não tinha onde se segurar. Pensou que ia morrer.

Um grupo de miúdas foi chamar a professora:

- “A Isabel está lá no alto sentada na manivela do poço, e vai cair.”

A professora apareceu à porta, e rapidamente o grupo que mantinha Isabel no alto deu à roda de forma que ela descesse. Ninguém conseguiria explicar porque não caiu Isabel daquela altura. A professora estava lívida e Isabel tremia, da mesma cor da professora. Começou a chorar.

Todas as meninas envolvidas na cena foram para a sala. Quem fez, porque tinha feito, mas por mais perguntas que a professora fizesse não encontrava respostas. Tinha-se instalado um silêncio comprometedor.

A professora ordenou que todas as meninas esticassem as mãos para levarem reguadas. Isabel, que chorava e tremia, esticou as suas mãos. Levou cinco reguadas em cada mão, e chorou ainda com mais afinco. Nunca ninguém a entendia. Ela não queria ter-se sentado ali, foi obrigada. Sentiu-se indignada com tudo. Não conseguia entender o que é que as pessoas tinham contra ela. Foi a primeira e a última vez que levou reguadas, mas doeram-lhe para sempre.

Em casa resolveu não dizer nada. A mãe notou-a triste mas como ela não respondeu, não deu importância ao caso. Cada dia Isabel se isolava mais, cada dia sentia mais medo das pessoas. Medo, era medo o que tinha. Vivia revoltada.

Sem comentários: