sábado, 27 de fevereiro de 2010

Decisões


Na escola, as aventuras de Isabel continuavam, deixando-a sempre perturbada. Era certo que na sua classe ninguém nutria uma grande amizade ou simpatia por ela. Ao contrário da maioria das colegas, mal as aulas acabavam ela punha-se a andar o mais depressa possível para casa. Pensava que seria divertido ficar sentada num qualquer degrau da casa desta ou daquela a fazer os deveres em grupo, mas estava proibida de ficar pela rua, e assim fazia os trabalhos de casa sozinha e não participava das brincadeiras de final de tarde.


Tinha muita curiosidade, mas tinha medo de chegar atrasada a casa. Qualquer coisa mal feita, e a mãe dizia logo: “Faço queixa ao teu pai, negra seja eu como o fumeiro!”

Isabel tinha medo do pai e do seu olhar duro. Mas um dia a curiosidade foi maior. Por vezes, ela levava erros na tabuada e pensou que se a fizesse com as outras meninas seria melhor para ela. Juntou-se a um grupo da sua classe, e nessa tarde ficou pela rua.

Ficou com o grupo de colegas sentada ao sol nos degraus de casa de uma delas, inteligente, mas rufia, a tal que em tempos lhe tinha feito a vida negra, mas isso estava agora adormecido e ela queria muito saber o que faziam elas depois dos trabalhos de casa feitos. Calada foi ouvindo o que diziam, e foi fazendo os deveres.

A certa altura, a tal miúda que era a mais abelhuda disse:

- “No fim vamos lá para dentro para a sala, e cada uma tem que saltar para cima da mesa, tirar as cuecas e mostrar se já tem pêlos aqui”, apontando para a sua zona púbica.

Houve logo quem dissesse “Eu mostro!”, e outras que disseram “Eu não mostro nada!”.

Isabel ficou calada, mais envergonhada que aflita, mas não deu parte de fraca e não disse nada. Logo se veria se mostrava alguma coisa. Ficou curiosa para saber o que se seguiria. Nem sabia se já tinha pêlos, mas queria saber como era tê-los.

Encostou-se a um canto da sala pensando que, se ficasse para o fim, até podiam esquecer-se de ver os seus pêlos púbicos. Afinal nunca ninguém lhe dava muita atenção.

A primeira a fazer a sessão de exposição, foi uma repetente já mais velha, sem qualquer tipo de vergonha. Levantou a saia muito depressa, e parecendo não ter cuecas, expôs com regozijo a sua zona púbica. Isabel ficou pasmada com o que viu. Uma zona muito negra, que dois palmos de mão não davam para tapar. Estava admirada. Nunca tinha visto tal coisa e assim, daquela maneira, parecia uma coisa má e feia. Quando chegasse a vez dela, todas iriam rir por não ter pêlos naquele sítio.

A diversão estava no apogeu, na terceira candidata, quando a mãe da miúda entrou em casa. Quando a senhora viu aquilo, desatou aos berros, a descompôr toda a gente, a ralhar com a filha, ainda que com os olhos esbugalhados para a miúda que em cima da mesa exibia o seu dote peludo. Esta saltou rapidamente da mesa e correu porta fora, e uma atrás da outra todas fugiram, deixando a miúda entregue à fúria da mãe.

Isabel escapuliu-se pela porta e só parou em casa. Estava ofegante como nunca, mas por sorte a mãe não estava em casa. Ainda começou a pensar no que seria se a mãe da colega fosse fazer queixa à professora; e se o pai soubesse, morreria de vergonha. Mas pensou que talvez isso não acontecesse, porque todas sabiam que a filha é que tinha inventado aquele jogo, e assim ela seria a mais castigada.

Isabel tinha ficado curiosa. Queria muito saber se já tinha pêlos, nunca tinha reparado, nem sabia que os iria ter. Meteu-se dentro de casa e no seu quarto meio escuro, desceu as cuecas e sentada na beira da cama olhou com muita atenção aquela zona. Depois de muito se afirmar, reparou que aquela zona não estava preta, mas os seus pêlos estavam lá e até conseguiu arrepelar-se em jeito de confirmação. Também tinha pêlos, e não os ia mostrar a ninguém. Isabel não entendeu porquê, mas isso tranquilizou-a.
No dia seguinte, na escola ninguém falou de nada.

Isabel decidiu não contar à mãe e resolveu que a partir daí passaria a tomar banho sozinha. Há muito tempo que achava que a mãe não a secava bem.


Naquele dia, Isabel cresceu mais um bocadinho.

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