sábado, 6 de outubro de 2012

O hospital, a sáude um bem precioso


O cheiro é inconfundível,
e as pessoas que ali nos acolhem,
quando as olhei, como sempre me acontece
vi-as diferentes com medo e muito respeito
pelo trato, pelas roupas simples e enrugadas que envergam,
roupas feias mas as mais adequadas e perfeitas
pela sua postura,
pelo tom de voz com que nos falam  indiferente e frio,
pela forma como olham os seus iguais,
que somos nós os doentes que ali vão
em busca de ajuda e de cura
que tal como eu naquela noite ali me dirigi,
precisando de ajuda da sabedoria de alguém
que milagrosamente me tratasse
que me pareceram como sempre muito fortes
movimentando-se ligeiras,
escondendo decerto para lá do fato,
por serem iguais a mim e a todos que ali vão
um ar distante, uma voz meiga mas linear,
que as distancia e as protege da dor dos que cuidam e respeitam
pois como nós também  são gente e sentem.



Naquela noite como suponha eu não gostei daquele sítio

pois  já sabia que o detestaria como sempre,
mas precisava de ajuda
e assim esperei até ser atendida.
Vi pessoas, que mais que eu sofriam,
se lamentavam, reclamavam e até gritavam disparates,
umas novas, outras mais velhas, muito velhas
e quem sabe talvez por isso, mais sofridas.
Porem aquém e além, vi que existiam
pessoas, não importa quem,
com vontade de comer, de rir, rir abertamente.


Eu a vontade que tinha era de chorar. Só isso.
De olhar aquelas salas,
as cadeiras, os corredores e as macas repletas de gente
aquela gente que são povo como meu,
os seus rostos sofridos,
por isso diferentes dos que vejo habitualmente,
tudo isso me dava tristeza e pesar
me fazia pensar querer fugir dali e não voltar,
me dava vontade de chorar,
chorar muito e sempre.

As urgências do hospital,
um local que visitei aflita e por necessidade,
porque sempre os temo e me angustiam o corpo, a alma e a mente,
mas de onde ao fim de algumas horas saí inteira,
com um veredicto para a vida.
Artrose nos joelhos, doença da idade, limitativa,
que faz doer, que tem que ser cuidada com carinho e não tem cura.
Ali gradualmente pensei e trouxe comigo a certeza
que aquele era sem dúvida o pior local do mundo para se estar,
para eu e os que mais quero e amo ali estarem algum dia,
já que as guerras que matam e destroem massas de gente inocente
podiam ser evitadas pelos homens que as inventam e sustentam.

Médicos, enfermeiros, auxiliares e seguranças,
rodopiam naquele local com desenvoltura e muito desembaraço
é o seu local de trabalho,
foi para trabalhar ali que se formaram,
e por dentro dos fatos que envergam tenho a certeza
escondem por certo as suas emoções,
executando as suas funções como autómatos,
evitando dar olhos à dor e à desgraça alheia,
trabalhando com os doentes que ali entram,
bastante distanciados e indiferentes
para se pouparem da dor do seu semelhante,
porque é assim que tem que ser, tenho a certeza.



Naquela noite
 eu e todos que ali estávamos ,
alguns muito pior que eu tenho a certeza,
e os outros 
que todos os dias 
hão-de continuar a ir ali
cada dia a qualquer hora
doentes e sofridos 
enchendo de desespero e sorrisos perdidos
aquelas salas esverdeadas mal cheirosas,
as cadeiras e as macas,
espalhados pelo infinitos corredores  
esperando em silêncio, 
uns gritando,
outros falando alto,
lamentando-se ou não,
que tudo o que fazem nada resolve,
mas revoltados pela hora que não chega,
pela longa espera,
da chamada para o médico que demora,
da cura que esperam e não chega e os desespera,
pelas dores, pelo cansaço,
igualmente  sofridos  é o que fazem,
muitos de facto gritam, falam alto,
fazem parecer que ali não existe noite ou dia, apenas tempo.



E ainda 
que reconhecendo naquele sitio um local de apoio e ajuda único,
onde todos buscam de novo 
a saúde e a força
é também dali que querem sair,
fugir depressa
voltando para suas casas, 
para as suas vidas
esquecer o cheiro, os rostos sofridos, o sangue, os gritos,
imaginado que aquilo não existe assim,
que ali tudo é perfeito
que as doenças e maleitas não matam, não fazem sofrer,
se curam e todas passam.


Fotos do Google

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