Querem que me cale
que silencie na minha boca a dor
no meu coração o frio do silêncio
na minha cabeça a certeza da angustia
que invade todo o meu corpo e a mente,
que corta a minha alma de dor,
me invade toda por inteiro
transforma os meus ais num pranto
num grito angustiado e aflito
que precisa ser mudo e quedo
uma faca que não vejo
mas sinto e sei que me corta a carne
me retalha e trespassa os ossos
me transforma toda,
me tira o sono, a fome,
me rouba do amor a força e o alento
me queima no rosto
que as lágrimas que choro são cinza preta
de ácido vivo
que mata a gente
que não sabia existir,
mas agora conheço
e em mim perdura
me sai para fora pelos poros
pelos olhos
me destrói e corrói
lentamente por dentro
e ainda há quem diga que escrever assim é poesia
mas não acredito
pois o que sinto é dor, é preto,
é triste, é sofrimento,
é não saber se o que me inunda é meu
me pertence
só porque me mata,
ou o busquei em algures
nalgum canto perdido
obscuro da vida porque o mereço
em que tudo me foge
em que nada é certo,
em que o mundo inquieto
se remexe
e a mim me consome
me transforma num ser diferente
neste tempo em que queria adormecer
e acordar num repente
e verificar
que tudo é um sonho magoado,
um pesadelo ferido que há-de passar,
passar num instante
desaparecer, fugir de mim,
voar, correr, esfumar-se no ar
e nesse momento
não morro, mas vivo
porque fico certa que ele vai
vai depressa e não volta
Fotos do google
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