- Laura tu aqui, agora, hoje?
E as pessoas foram-se retirando uma a uma, algumas para a rua, duas ou três para o terraço onde estavam os jovens.
- Laura, soubeste, mas como?
- Não Jorge, não soube nada. Vim para casa. Morria de saudades dos nossos filhos, da casa, da minha ilha. Vim, pois morria de saudades, e também precisava de te ver, de saber como estás.
- Estou triste, pois perdi a minha mãe e desde que te foste embora pensei que te tinha perdido a ti.
- Pobre da tua mãe, ainda não estava velha. Foi algo rápido, um acidente?
- Andava cansada e resistiu quanto pode, pois julgava que era da idade e do trabalho. Mas tive mesmo que a obrigar a ir ao médico. Estava com uma doença hematológica, que bem deves saber melhor que o que isso é. O cansaço, a perda de peso e outros sintomas que apresentava eram todos derivados do mesmo. Deixou-se andar muito tempo sem me dizer nada. Ao princípio nem sabiam ao certo o que tinha, tal era a confusão das suas análises. Mas parece que tinha um linfoma que lhe atingiu o tecido linfóide do baço e apesar de alguma quimioterapia que fez não resistiu. Preferiu estar em casa até quanto pude tê-la aqui, mas anteontem tive que a levar para o hospital pois não conseguia respirar. Faleceu hoje e o funeral é amanhã de manhã.
- Santo Deus, como lamento, gostava tanto da tua mãe.
E impulsivamente abraçou Jorge, num abraço forte e muito sentido, talvez como nunca lhe tivesse dado outro igual. E ele comovido, abraçou-a de igual forma, mas com mais força ainda, mais emoção, e um grande sofrimento. Jorge estava triste, chorava e não parecia o mesmo.
- Laura perdoa-me. Só mais tarde te entendi. Fizeste-nos a todos tanta falta, mas eu sofri tanto sem te ter comigo. Perdoa o meu egoísmo, e obrigada por teres vindo hoje.
- Foi um acaso, mas ainda bem que vim, ainda bem. E não tenho que te perdoar nada. Vamos ter muito tempo para conversar, e tudo se resolverá de vez.
- Perdoa-me, foi por ser como era que tu partiste, mas já sou outro juro que sou.
- Eu sei, vejo-o e sinto-o. Não te preocupes a gora com isso.
E Jorge abraçado a Laura, beijou-a primeiro com uma doçura desconhecida para ela mas tão subtil e terna que a fez estremecer inteiramente, e depois no mesmo abraço, beijou-a sofregamente, como faminto de algo que não tinha há muito tempo mas era seu e lhe pertencia por completo. Jorge amava Laura, ela tinha a certeza disso, assim como sabia com aquele beijo, que ele não a tinha trocado por outra. Estava feliz no meio da infelicidade da morte da sogra.
Mas estava feliz, pois pressentia que Jorge tinha mudado, e isso era tudo o que mais queria. Se não estivesse ali gente, se aquele não fosse um dia marcante pela tristeza, ambos não teriam resistido a fazer aquele amor que Laura sonhava fazer com Jorge desde sempre. Mas outros dias viriam, haviam de conversar sobre tudo o que se passara até ali, e se tivesse que acontecer esse acto de amor surgiria naturalmente, repleto de ternura e emoção para ambos.
Foto do Googe
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