terça-feira, 25 de setembro de 2012

Se eu fosse Poeta



Se eu fosse poeta,
e tivesse comigo a todas as horas o dom da escrita 
e todas as palavras que existem, 
gritaria ao mudo o que sinto
e sei que com isso ficaria mais livre e mais solta.

Se pelo menos uma vez 
eu conseguisse colocar no papel 
o que a minha alma aflita sente, 
o que o meu coração pressente,
e o que o meu corpo cansado grita.  

Se eu fosse capaz de dizer 
o que nos meus sonhos vivo  
quando durmo, 
o quanto me atormentam
e consomem e destroem  lentamente.


Se eu fosse capaz 
de rasgar e arrancar de mim 
esta amargura de sonhar constantemente, 
que não sei nada,
que nada tenho, 
que nada posso, 
que sou uma pobre enjeitada mal amada,
que ninguém me quer ou ama,
que sou uma impura, 
desgraçada,
que sou estúpida, burra e acanhada,
que vivo só, isolada, 
triste e amargurada, 
que um mar de água imunda 
me inunda e afunda
e me empurra para a lama,
que não tenho nada, 
nem corpo, nem alma,
talvez eu conseguisse dar paz aos meus sentidos,
e gritando ao mundo todos os meus tormentos,
arrancar de vez de mim o que são os meus lamentos,
e quem sabe,
dormir depois mais calma,
descansar, respira em paz 
e tranquilamente 
julgar-me por vezes feliz.

Quem sabe se os sonhos ruins que tenho 
e me ensombram 
me abandonassem,
partissem de vez para além das nuvens, 
eu aqui na terra 
ficasse com algum sossego e paz,
algum tempo 
para sonhar que sou gente contente,
que posso sorrir e não ter medo 
descansar e viver com calma,
e serena e tranquila aprendesse a sorrir,
pensando que os sonhos são mentiras, 
mas mesmo sendo verdades,
não matam, só molestam
e por vezes acalentam as nossas almas, 
lhes dão vida, 
são a chama que alumia cada dia nosso,
mais um dia...lentamente, 
como se fossem flores cheirosas, coloridas e frescas 
a enfeitar e dar cor à nossa vida ...
quantas vezes, 
muitas vezes triste, 
falsa e apenas de mentira...







Mas não tenho palavras,
não as conheço...
e deixo-me ficar 
com os sonhos que me perturbam 
que me inquietam,
que aos poucos me destroem...
e me matam,
mas que eu 
apesar de aflita e assustada, 
aceito, 
porque são mais fortes, 
muito mais poderosos do que eu...
e cada dia me vencem e dominam
e fazem parte de mim como um todo 
e por completo.

Inês Maomé

Fotos Google

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