sábado, 15 de setembro de 2012

MÃE




Mãe
  
Penso tantas vezes em ti
mãe,
mas tu estás longe,
não me ouves
e deixas-te ficar no teu descanso .
Esperas que te visite amiúde,
mas tu
mãe,
sabes que isso me dói,
e também tu
nunca mais me procuraste no meu canto.

Custa-me tanto viver este martírio,
estar assim fugida,
afastada de ti
 marginalizada sem razão,
escondida por algo que não fiz,
não entendo,
só porque alguém cometeu um erro louco
me apontou o dedo,
me chamou ingrata,
me escondeu de si a sua mão
e o coração,
me roubou o colo e o aconchego da casa onde moras
que também foi a minha casa
quando moça.

Custa-me saber-te aí todos os dias
e eu triste e só,
aqui sem te ver e visitar,
sem te ouvir,
sem te falar,
sem ver os teus olhos verdes,
que mal vêm já os meus,
mas que eu gosto de olhar.
Sem te poder dizer tudo o que sinto,
e ouvir dizer de ti mesmo sendo mentira:
"filha estás bonita".

Preciso que me digas
coisas que aliviem o meu pesar,
que me ouças,
me deixes falar,
que entendas o que vivo,
que sejas minha  mãe de alma e corpo inteiro,
enquanto ainda é tempo de estares comigo
e eu contigo
partilhando tudo o que podemos e temos para nos dar.

Vamos,
vem também tu ter comigo,
perde o medo e vem estar a meu lado
pelo menos um dia,
uma tarde,
um momento único 
e ambas  vamos juntas conversar.

Mas tu não sabes nem entendes o que sinto,
pois se nunca percebeste bem o teu lugar,
como podes agora,
que fui posta de lado,
 reagir,
se nunca deixaste de falar,
falar muito,
mas permaneces em silêncio
logo que alguém de voz grave te manda silenciar?


Mas  mãe
levanta essa cabeça,
vem-me visitar pelo menos
só mais uma vez,
antes que alguém te leve e tu não possas,
mesmo que queiras,
sentir e olhar mais o meu rosto,
chamar-me “filha linda”, 
como eu gosto
e bem juntinha e unida a mim
ficar como sei que gostarias de estar.


Sabes mãe,
amanhã
ou quem sabe ainda hoje
irei eu bater-te à porta e entrar,
dar-te um beijo e um abraço,
dizer-te que estou bem,
muito bem,
e iremos conversar.
Depois vou voltar mais animada para o meu canto,
aquele canto onde me refugio,
e penso em ti, e em todo o mundo.
Aquele canto que é o meu lar
onde ainda espero que um dia me procures,
aquele canto onde moro,
onde magoada e triste
há tempo demais não te vejo a ti entrar!

Inês Maomé

Fotos do Google

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