terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os filhos de Isabel vão para ao Colégio

Sempre que havia um ou outra festa escolar onde era exigida a sua presença, Isabel tentava sempre refugiar-se numa mentira. O facto de ter que comparecer no meio de muitos pais, de muita gente que desconhecia intimidava-a, desconcertava-a de tal forma, que acabava sempre por colocar alguém no seu lugar, arranjando uma ou outra desculpa que na altura era sempre bem aceite, mas que a ela lhe caía muito mal e mais tarde a fazia chorar de muita mágoa e tristeza.

Um dia Isabel contou-me que numa festa de Natal não conseguiu ir ver a filha cantar. Andava muito nervosa e agitada, não conseguia controlar a ansiedade que sentia e não queria transmiti-la às crianças. Maria tinha que aprender uma canção, e então Isabel cantou com ela vezes sem conta até a menina saber muito bem toda a cantiga.

Ó clarinha olha as pombas
Vês, não tenhas medo não
Porque as pombas ó Clarinha
Vão, poisar na tua mão (…)

E ainda, porque era Natal,


Pinheirinho, pinheirinho de braços verdinhos
Para enfeitar de bolas e bonequinhos
Uma bola aqui, outra acolá
Pinheirinho verde, que lindo que está (….)

A menina decorou toda a cantilena dentro do tom e à tardinha, à hora da festa, Isabel em casa, cantou a cantiga como se estivesse a cantar com a filha na festa, mas com lágrimas nos olhos. Não esteve presente, chorou de raiva por não estar e arrependeu-se sempre amargamente daquela e de todas as vezes em que não esteve presente nas festas dos filhos, mas em que o seu coração apertava nervoso e batia mais depressa que o bater das asas dos passarinhos quando pensam que vão cair.

Alguma coisa se passava com Isabel que ela mais ou menos desconfiava, mas não contava a ninguém. A sua grande preocupação era com os filhos. Queria que eles crescessem felizes, calmos e tranquilos, mas a sua relação com Pedro não era aquela que idealizara. Isabel estava muitas vezes sozinha, não tinha amigos na aldeia, nem em lado algum, nunca ia a um café, nem a um cinema, não ia a uma festa, não frequentava a cidade, os filhos eram a sua companhia e quando os pais ou os sogros a visitavam, armava-se em forte e fazia de conta que tudo estava bem, quando o seu coração estava triste sem ela perceber muito bem porquê, deitava-se à noite e muitas vezes virada de costa para o Pedro adormecia com lágrimas nos olhos. Isto quando não acontecia que se deitava sozinha por o Pedro ter saído com os amigos.

Sabia somente que queria muito mais que tudo aquilo que possuía, mais carinho, mais amor, mais atenção, mais companhia, mais de tudo que aquilo que possuía, muito mais, pois tudo o que tinha, porque tinha a certeza que tudo o que tinha era muito pouco. Assim quando os pais a visitavam deixava-os falar, e o seu coração apertado ficava triste, pois o que os ouvia dizer, a seu modo, estava errado e não lhe interessava para nada. Mas mesmo sem dar muita importância à conversa, calava-se e esperava ansiosa a hora de os ver partir, para depois relaxar. Gostava de estar no seu mundo sozinha, só com os filhos, sem ninguém a perturbar, e isto, ela sabia que não era um bom sintoma mas era assim que se sentia bem.

Apesar de Isabel trabalhar na aldeia e já conhecer algumas pessoas com quem se relaciona, estas mantêm algum afastamento dela, talvez por ela ser mais jovem, por a considerarem uma intrusa, mas de facto não a consideram no grupo uma igual olhando-a sempre com um certo ar de estranheza o que deixa Isabel triste e infeliz.

Ao longo da sua vida Isabel foi-me confidenciando certos segredos, alguns banais e até um pouco ridículos mas que a machucavam. Ainda quando vivia no andar que tinha uma varanda na sala que dava para a rua principal, Isabel procurou uma senhora que a pudesse ajudar a passar a ferro, lavar alguma roupa e até a arrumar a casa e nunca encontrou ninguém disponivel para a ajudar.

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