quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

As FESTAS na Quinta

Todos os anos a partir do momento que Pedro começou a sair na aldeia para jogar cartas com os amigos à noite e encontrar-se com eles no café, o grupo de homens resolveu fazer a passagem de ano numa quinta entregue a um deles, por ser seu familiar, enquanto isso fosse possível. Para Isabel era melhor que nada. Com os filhos pequenos e sem gostar de andar metida em balburdias, pelo menos nesse dia não ficava sozinha em casa com os filhos, e ficava acompanhada de Pedro e de outros casais com os filhos junto dela.

Todas as mulheres faziam algum doce e algo salgado para colocarem na mesa ao jantar e depois à ceia, e mais adiante quando se apuraram nos encontros, passaram a comprar leitão e até a matar um porco, fazendo depois comida para várias refeições, pois entre eles havia habilidosos cozinheiros. Para os homens e portanto para Pedro, eram dias de festa e convívio, que passava longas horas fora de casa de volta desses preparos, para Isabel era um tormento, que se via demasiado isolada, e via Pedro chegar a casa sempre cansado sem lhe dar muita importância.

Isabel um dia contou-me que ouviu a esposa de um desses amigos dizer para outro o seguinte:

-É pá tenho que ir a casa, já ando por aqui há muito tempo e tenho saudades da minha mulher, preciso de estar com ela, é pá, já não me deito com ela há muito tempo, desculpem lá mas agora vou mesmo a casa…-e foi mesmo…

Como Isabel gostaria que Pedro pensasse assim, tivesse necessidade de estar com ela, mas ele não pensava assim, mas mesmo que pensasse, nunca diria aquilo, não, nunca o faria em frente de todos. Nunca deixaria o convívio da festa para ir ter com ela, e depois de uma festa, ia sempre tão cansado, que raramente se virava para ela para lhe dar um carinho maior, não porque não gostasse dela, mas porque era a sua maneira de ser, que não combinava com o de Isabel. Pedro pensava sempre, e isto era o que Isabel imaginava, que o amanhã tinha muitos dias, muitos anos, era ainda muito longo, e ia adiando tudo, e ela, pacientemente ia esperando que ele se resolvesse a ir ter com ela como ela sonhara.

Depois das comidas preparadas, enfeitavam-se as salas, uma para fazer a refeição e a sala onde depois o grupo dançava até de madrugada, com fitas e balões. As senhoras arranjavam-se o melhor que podiam para passar do ano velho para o novo, e Isabel fazia o mesmo com os seus filhos. As crianças todas juntas, nessa noite não viam nunca o sono chegar, porque corriam sem parar por todas as divisões da quinta num corrupio constante adivinhando que um novo ano cheio de força e energia ia chegar também para elas.

Isabel recorda-se que a primeira vez que Maria foi a uma festa destas, foi deitada na alcofa, tinha 8 meses e dormiu toda a noite, exceptuando o tempo que acordava para mamar. Manuel apesar de pequeno, brincou e correu enquanto pode e mais tarde sossegado com uns carritos entreteve-se a brincar com outros meninos junto a uma lareira enquanto os pais conversavam. Isabel era mais de ouvir, pois como não se encontrava muito com aquelas senhoras durante o ano, não tinha muito que conversar e preferia ouvi-las atentamente.

Aquela quinta tinha um encanto que fascinava o grupo e assim além das passagens de ano passaram a reunir-se ali, também no carnaval e sempre que possível fazendo um baile de mascaras. À medida que o tempo passava e Isabel ia conhecendo melhor as pessoas do grupo e elas a iam conhecendo melhor a ela, iam partilhando ideias, opiniões, ainda que sentindo sempre que naquele grupo não era muito bem aceite, como aliás já foi referido anteriormente.


O facto de não ser daquela aldeia e de ser a mais nova do grupo, descredibilizava-a perante as outras mulheres, era a impressão que lhe dava e isso dava-lhe uma sensação muito desconfortável de rejeição.



Fotos de Goggle

Sem comentários: