quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A FESTA NA ALDEIA

Naquele ano, Pedro que já tinha combinado antes com uma série de amigos fazerem a festa um ano, os tais com que habitualmente se encontrava aos fins-de-semana à noite, resolveu no final da procissão pegar na bandeira. A população batia palmas de contente e ele feliz, dava voltas ao adro da igreja e em cada volta o grupo em seu retorno aumentava, e no final o grupo perfazia mais de vinte. Com certeza que todos juntos, com a ajuda das esposas iriam fazer uma grande festa no ano seguinte, pois ideias não iriam faltar, nem uma enorme vontade de trabalhar. Seria uma festa, religiosa e profana que ficaria na memória de todos na aldeia, essa era a vontade de Pedro.


Durante o ano começaram os preparativos, flores de plástico para enfeitar as ruas faziam-se à tarde e à noite ao fim de semana, por todos os que podiam ajudar. Um peditório à população começou meses antes pelos festeiros percorrendo toda a aldeia, para que com o pouco que cada um pudesse dar, se conseguisse convidar artistas de renome nacional que atraíssem à terra gente do exterior, arranjar o espaço para receber o publico, alugar grandes palcos, barracos para fazer algumas exposições, alugar enfeites de luzes para engalanar as ruas, além das tais flores de plástico, contratar conjuntos para os bailes, montar um restaurante improvisado para servir refeições toda a noite, pagar o som ambiente, limpar, caiar, enfeitar de novo a igreja, e cuidar dos andores que sairiam nas procissões, pois as flores tinham um custo.

Eram mil, as coisas diferentes em que Pedro tinha que pensar, e que havia para fazer, mas Isabel encarregou-se de uma coisa que nesse ano rendeu bastante e lhe deu imenso prazer fazer, a “quermesse”, com imensos presentes interessantes para oferecer.

Pedro pensou em tudo ao pormenor, fez listas e mais listas de afazeres, e na data aprazada começaram os trabalhos para que nos dias dos festejos tudo corresse como ele idealizara, e nada falhasse.

O peditório foi feito, as flores também, os conjuntos e artistas contratados, a cozinheira igualmente. O recinto para as festas decorrerem foi fechado e ficou como nunca. Parecia maior, mais grandioso. Quiosques de cerveja, outro de gelados, um de pequenos petiscos e o famoso restaurante construído de raiz todo em madeira vistoso e arejado, um quiosque de informação, e a quermesse. A entrada do recinto das festas profanas, pintada à mão pelo Pedro anunciando as festas, estava fabulosa como nunca. A igreja foi toda iluminada exteriormente e à noite parecia que os seus contornos tinham sido maravilhosamente engalanados e ladeados com fitas luminosas e gambiarras. Parecia que estávamos no Natal, sendo Verão, a igreja estava lindíssima, caiada por fora e iluminada e por dentro devidamente lavada e enfeitada.

O som ambiente era fantástico, porque a amplificação contratada era boa, pois as noites ali não eram para dormir mas de pura diversão. Pedro não parava de um lado para o outro, e no final da primeira procissão, à noite, uma serenata oferecida à Virgem na escadaria da Igreja. Isabel comovida atende a tudo, com verdadeira emoção. Nem sabe como chegou ali de tanto cansaço, mas de longe atenta, lá estava ela pois ficara guardiã ao recinto enquanto todos se tinham ausentado até às escadarias para ouvir de perto o fado. Ela tinha que ir dar comida aos guardas que tinham acabado a sua missão depois daquela primeira procissão nocturna.

Fez-se escuro e aquele som era tão fantástico que lhe parecia irreal ouvi-lo naquela aldeia, ela uma apaixonada daquele fado Coimbrão, parecia viver um sonho naquela primeira noite.

Outros dias se seguiram, a procissão de quinta-feira Santa, e depois a Procissão do grande dia, com a Nossa Senhora que voltava para a sua capelinha. Pedro no final da procissão pegou na bandeira e deu as voltas que devia, e que eram habituais ao adro da igreja, como num ultimo adeus por todo o trabalho e empenho feitos por todos, acompanhado pelo grupo de amigos, devidamente vestidos com os seus fatos escuros e gravatas, elegantemente vestidos para a Virgem, um grupo de homens, bonito de se ver, que fizeram um trabalho como nunca Isabel vira ninguém fazer ou seriam os seus olhos a apreciar o belíssimo trabalho feito por aquele grupo de festeiros.


A população aplaudiu incessantemente, mas não teve forma de ninguém pegar na bandeira, a festa tinha sido excepcional, tão bem organizada e tão perfeita que naquela altura ninguém se prontificou a assumir o cargo que Pedro deixava ali, e esse foi o momento mais triste da festa.
Meses mais tarde, um grupo pegou na festa e decidiu-se que a mesma passaria a ser feita bianualmente.

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