quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A vida complicada de Isabel

Daquela cena, Isabel guarda na sua mente as marcas da violência, o olhar de Pedro e o eco das palavras, porque nos dias que se seguiram mentiu para ela mesma e a toda a gente, inventando algo para justificar as enormes manchas que tinha no rosto.

Nesse dia chorou como em nenhum outro, jurou que não voltaria a chorar por tal motivo mas isso não foi possível porque o peso da solidão perseguia-a e Isabel prometera a si mesma que tinha que manter a sua família de pé.

Imaginar  que o Pedro lhe fizera o que ela toda a vida abominara ver o pai fazer à mãe, custou-lhe imenso, mas guardou esse sofrimento enorme de forma que lhe parecesse ter sido um sonho, e jurou que nunca mais permitiria que tal coisa lhe voltaria a acontecer. Aquele olhar, que vira nos olhos que Pedro lhe dirigira, tinham-na assustado, e ela não podia viver com esse pesadelo toda a vida. Tinha que sublimar isso, fazer de conta que sonhara, um sonho mau que passara e não ia voltar nunca mais.

De vez em quando o lenço voava alto, esvoaçava leve e o vento levava-o tão alto que parecia desaparecer e não querer voltar nunca mais, mas depois de repente caí-lhe aos pés e Isabel encantada podia pegar-lhe e escolher a pessoa a quem o colocar.

Perdoar ajuda-nos a crescer e a entender melhor o futuro, era isso que Isabel pretendia aprender, com as coisa menos boas que lhe iam acontecendo e que ela tinha que ultrapassar.

Quando Maria tinha dois anos, porque a casa era longe do seu trabalho e as caminhadas que tinha que fazer com as crianças ao sol, ao frio e á chuva eram árduas e dolorosas, Pedro resolve que está na altura de Isabel ter o seu primeiro automóvel. Até aqui a máxima do pai de Isabel mantem-se:

-“Para que queres a carta de condução se o teu marido a tem? Mas vou dar-ta para não me acusares que a dei ao teu irmão e a ti não”

Realmente até aquela altura só Pedro conduzia os carros que foram tendo, primeiro um Volkswagen, um Opel kadett, depois um Peugeot, e Isabel limitava-se a acompanhar o marido nas saídas que faziam, para onde ele entendia e a conduzia com os filhos.

Aquela compra que ele estava decidido a fazer era uma grande conquista para Isabel, e ela que já não conduzia havia anos tinha que reaprender a conduzir mas ia conseguir.

Estava a um passo de se libertar.


Fotos do Goglle

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