terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Os animais de Isabel

Quando num dia de verão, Isabel foi de férias para a Falésia com os filhos e Pedro, partiu preocupada, pois procurou a Dolly por todo o lado e ela tinha desparecido. Queria deixá-la entregue a uma das avós e não a encontrou em lado algum.


Todos partiram tristes, com a impressão na pior das hipóteses, que alguém lhes tinha roubado a sua gata.

Maria estava inconsolável, mas com os dias de praia que se avizinhavam e a esperança de Isabel na volta procurar a Dolly ou a substituir, Maria lá acalmou.
No final das férias, mal Pedro entrou com o carro na garagem de casa, viu-se ao longe um gato meio fraco cambaleando, em direcção à casa de Isabel. Manuel e Maria correm desconfiados a ver que gato é aquele, e confirmam que se tratava da Dolly.

Muito fraca, roçou o seu corpo e a cauda em todos, num miar aflitivo como que a pedir algo, sem Isabel nem os filhos ou o Pedro entenderem o que se passava com o animal que estava muito abatido. Deram-lhe comida no sítio do costume, mas a gata andava para trás e para diante num desassossego constante, sem acalmar um segundo e então o Pedro resolveu segui-la pois parecia ser o que o animal pretendia que se fizesse. E com ele atrás dela, a Dolly nunca mais parou, e atrás dela, seguiu Isabel, a Maria, e o irmão. E o Pedro ficou admirado com o que viu. A Dolly tinha ido ter filhotes num sítio pouco presumível, exactamente em cima de um poço de água de rega, dentro de uns alcatruzes, de muito difícil acesso. Ali ninguém lhe tiraria os filhos, mas também nós não lhe conseguiríamos chegar, para a ajudarmos a cuidar deles.

A Dolly deve ter dado conta que íamos sair, pela movimentação diferente de malas e roupas, pelos cheiros diferentes de coisas diversas, mas algo lhe deve ter indicado que ia ficar só e então tratou de sair para se proteger e só reapareceu quando viu a família aparecer de novo.
Claro que os gatinhos permaneceram naquele ninho até que com as suas patinhas seguiram a mãe de lá para fora até casa de Isabel, e depois foi um problema porque os filhos de Isabel queriam ficar com os filhotes todos, o que não podia ser. Foi uma choradeira, na hora da despedida quando se entregaram aos novos donos.

Noutro parto da Dolly, que ainda permaneceu com a família longo tempo, na hora de ter os filhos, quando Isabel estava na cozinha a preparar o jantar, a gata miava, num miar dolorido, muito junto às suas pernas e deitando-se junto dela, mesmo em cima dos seus pés, como a anunciar algo urgente e aflitivo, parecia suplicar ajuda. Então Isabel disse à menina:

-Vamos deitar a Dolly no seu ninho. Vou-lhe fazer umas massagens na barriga, pode ser que alivie a gatinha. Parece-me que está com dores de parto, pois devem estar para nascer os seus gatinhos.

-E eu, posso ver mãe?

-Claro Maria, podes ver sim senhor, e ficas a saber como nascemos, porque todos nascemos assim, e com a Dolly, apesar de ser uma gata, vai tudo correr bem, pois da última vez que pariu, teve os filhotes sozinha e correu tudo lindamente.

Isabel pegou na gatinha, deitou-a no ninho, deitada meio de lado de barriga para cima e começou a fazer-lhe massagens de cima para baixo, continuamente no mesmo sentido e a gata abrindo as patas ia-se compondo de forma a dar o jeito que mais lhe convinha. Daí a uns quinze minutos, como disse Maria, saía um embrulhinho pela zona vaginal da Dolly que ela lambeu muito bem, mas depois rejeitou pois continuava com dores, e depois ainda saíram mais três gatinhos. A Dolly teve quatro gatinhos, todos siameses. Isabel continuara a fazer massagens à gatinha que teve quatro filhotes, e Maria perguntou à mãe:

-Dói muito ter filhos assim, coitadinha da Dolly?

-Dói um bocadinho, filha, mas vês como ela está feliz, com os filhotes à volta dela a mamarem contentes nas suas tetas, e lembraste quando nós fomos de férias e ela veio tão feliz chamar-nos a todos, para irmos ver os seus meninos. As mães, têm algumas de dores quando nascem os seus filhos mas depois esquecem tudo pelo amor que lhes têm.

Hoje presenciaste um dos actos mais bonitos do mundo, o nascimento. Quando tu e o Manuel nasceram também tive algumas dores, mas depois esqueci tudo, quando vocês vieram para junto de mim, já não me doía nada e hoje já nem me lembro (e aí Isabel mentiu um pouco, mas o importante já o tinha transmitido à filha).

Isabel também teve cães, a Tusca, a primeira cadelinha que Isabel teve com o Pedro antes de filhos nascerem o Pirata (um Spring Spaniel ), a Rute uma (Yorkshire), o Pincel(um pincher), a Niquita (um caniche), o Tino, outro gato, todos eles criados com muito amor e carinho, e que tiveram muita importância na vida da família por um ou outo motivo deixando marcas fortes na vida de cada um. Mas os animais têm vidas curtas, doenças que por vezes surgem e os levam sem os donos contar. O pirata adorava os banhos no rio, também tomara, era um cão de caça de água e nunca caçou, passava a vida em casa, e então nos fins-de-semana que o Pedro o levava ao rio, ele corria pelo campo e atirava-se à água sem medo, como se aquele fosse o seu meio ambiente natural.

-Cuidado pai-gritava o Manuel-olha que ele vai pela água abaixo-

Mas vai o quê, nós é que iriamos se para lá fossemos, que o cão nadava para cá e para lá como se aquela fosse a sua casa. O pior era quando ele ia ao veterinário e passava no caminho por uma zona de campo, pois fazia uma força descomunal para saltar para fora do carro. Devia cheirar-lhe a caça de campo a léguas pois só sossegava quando regressava quando voltava ao seu ninho caseiro.

Anos mais tarde o Pirata foi o aconchego de Isabel numa doença grave que Pedro teve, quando ela chegava do hospital. Pedro pedira a Isabel que não comentasse com ninguém a sua situação, mas o Pirata sabia tudo e entendia-a melhor que ninguém com o seu olhar atento, pois quando chegava agarrada a ele desabafava e chorava aflita todas as suas angústias, para que os filhos ao chegar da escola não a vissem triste nem muito abatida.

Anos mais tarde Isabel e Pedro fizeram tudo para o salvar mas uma doença cardíaca levou-o quando ele tinha nove anos de vida, e Isabel chorou a sua morte pois perdera um grande amigo.


Uma atenção especial á Lua, que permanece a companhia de Isabel e Pedro agora acompanhada da Pimpinha, uma gatinha que compartilha a cama com ela.


Fotos do Goggle

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