Quando Manuel fez a profissão de fé, curiosamente, juntou-se a primeira comunhão da irmã e nesse ano a festa foi a dobrar. Manuel neste caso preferiu vestir um fato beije claro, ao contrário da primeira comunhão onde teimosamente não quis vestir claro. Com uma camisa no mesmo tom do fato, com uma risca quase rosa, mas a fita no braço era a mesma que usara na primeira comunhão, o Manuel que tinha uma vontade muito forte e tinha sempre que fazer um pouco o que queria, desde o princípio tinha dito que em circunstância alguma iria de calcões na comunhão, como muitos dos seus amigos, e nesse dia estava particularmente um menino muito bonito.
Assim na primeira comunhão quando a maioria dos meninos foi de calcões claros e camisa, o Manuel foi de fato cinza escuro, e na profissão de fé quando todos iam de escuro, ou unicamente de calça escura e camisa branca, o Manuel teimou e levou um fato bem claro.
Destacou o que decerto não foi muito correcto, mas estava muito bonito o Manuel, e para a mãe o mais bonito de todos. Se o lembrar agora, é como se ainda o visse a ler, ou a receber Cristo.
Além dos Crismas, que não mereceram uma celebração especial com direito a convite de muitos familiares, Isabel festejou igualmente a festa da profissão de fé de Maria.
O seu fato de um rosa velho chá, muito suave, em xantungue de seda, era lindo e ficava-lhe especialmente bem pois tinha um cair extraordinário. Composto por duas peças, Isabel imagina eu foi o melhor e mais bonito vestido que Maria alguma vez usou.
O seu cabelo tal como na primeira comunhão, foi trabalho naturalmente por mãos hábeis, que o entrançaram à frente e lhe fizeram uma espécie de trançado lateral cheio de pequenas flores miúdas graciosas, deixando-o cair no restante livremente, e Maria ficou igualmente bonita e encantadora. Para Isabel os seus filhos eram os mais bonitos do mundo, como se isto pudesse alguma vez ser posto em causa por alguma mãe. Muito menos por Isabel, que o melhor que a vida lhe dera era os seus filhos.
Quando Isabel reunia a família, nos primeiros tempos sentia-se normal, mas com os anos, um certo nervosismo foi-se apoderando do seu corpo e da sua mente, e foi-se mesmo agravando. O facto de viver muito só e estar sempre muito isolada de tudo e todos perturbava-a. Sentia carências e tristezas, que não tinha como confessar a ninguém, pois receava que ninguém a entenderia. Quando António, seu pai, nesses dias se sentava à mesa, Isabel andava num corrupio e o seu coração batia acelerado sem saber porquê.
Ele conversava muito, monopolizava todas as conversas, sabia sempre tudo, e sem entender porquê, isso deixava-a nervosa. Gradualmente essas reuniões e festas familiares a que se seguiram outras por alturas de dias religiosos, festas de aniversários, e outras ocasiões, eram todos eles dias de muito sacrifício para Isabel, que por um lado os desejava mas por outro os esperava, ver chegar ao fim rapidamente.
Isabel vivia um dualismo de sentimentos, um querer estar e um querer fugir de tudo, um querer amar sempre mais, para também receber mais em troca, um desejar ser muito mais preferida e muito mais compreendida, mas sempre com a esperança de conseguir ter muito mais no futuro do que o que possuía no seu simples dia a dia.
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